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Agronegócio: Conceito, Projeto, Implementação e Resultados Socioeconômicos no Brasil – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada

    Agronegocio Conceito Projeto Implementacao e Resultados Socioeconomicos no Brasil

    Confira aqui a Aula Magna do professor Geraldo Barros realizada no 61º Congresso da Sober (Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural) no final de julho de 2023, em Piracicaba (SP).

    O termo Agronegócio no Brasil tem sido utilizado de forma inadequada e estereotipada, como se referindo a um grupo restrito de grandes empresários agrícolas, proprietários de grandes extensões de terra, que, privilegiados por políticas públicas, fazem uso intensivo de máquinas, insumos biológicos e produtos químicos para produzir grãos, carnes, açúcar e etanol, café, frutas, fibras e produtos florestais principalmente para o mercado externo. Ao mesmo tempo, mesmo diante da fartura gerada pelo setor, grande parte dos brasileiros vive em condições de subnutrição e desnutrição. As exportações, sendo mais lucrativas, desviariam a maior parte da produção agrícola do mercado interno, elevando os preços dos alimentos. A produção de arroz, feijão e outros produtos de consumo popular ficaria relegada aos pequenos produtores, que, aproveitando áreas cada vez menores, não conseguiriam atender à demanda interna desses produtos.

    Na Aula Magna, no 61º Congresso da Sober, realizado em Piracicaba, esses conceitos são discutidos e uma extensa lista de dados é apresentada para validação empírica (ou não) das afirmações acima mencionadas.

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    Para tanto, partimos da origem do conceito de Agronegócio. Negócios é um termo originário do latim, que significa “negação da ociosidade”. Refere-se, portanto, a qualquer atividade que resulte na produção de bens ou serviços para atender aos desejos e necessidades de quem a executa ou de terceiros. Envolve o uso de trabalho e capital para atingir esses fins. Não tem nada a ver com tamanho, tecnologia ou tipo de produto ou destino dado a ele. Agronegócio seriam todos os negócios que devem sua existência à Agricultura no sentido mais amplo – ou seja, o uso econômico dos recursos naturais orgânicos – animais e plantas com base no solo e no clima. Ou seja, a Agricultura no sentido mais amplo, envolvendo atividades agrícolas, pecuárias, florestais, pesqueiras, incluindo agroindústria (insumos e processamento) e agrosserviços (logística, comercial, consultoria, financiamento, etc.). Agronegócio seria todas as atividades que não existiriam se não fosse a agricultura (em sentido amplo).

    A Turma apresenta dados que mostram que:

    (a) O crescimento pautado pela industrialização urbana – baseada em recursos naturais inorgânicos (minerais) – a partir da década de 1930 promoveu substancial aumento do PIB brasileiro, mas não gerou empregos suficientes para ocupar a população que migrou do campo para a cidade. A grande maioria dos migrantes mudou-se para o setor de serviços, onde o salário médio era baixo. A indústria sempre ocupou no máximo cerca de 20% da força de trabalho nacional. Por fim, a pobreza e a concentração de renda aumentaram – e com elas, os problemas alimentares – no auge do processo de industrialização (de 1950 a 1980).

    (b) Para contornar essa frustração, foi implantado no Brasil o modelo da Revolução Verde, baseado – como no caso da indústria de base mineral – em empresas multinacionais (insumos, máquinas, comércio). No entanto, dada a sua ligação com os recursos naturais brasileiros, fundações e universidades estrangeiras aderiram ao processo, que, em aliança com o poder público nacional, promoveu a promoção da formação de profissionais visando o fortalecimento do ensino e das ciências agrárias e rurais nas universidades e apoio à criação de entidades adicionais de pesquisa (como a Embrapa) e extensão.

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    (c) Em dois aspectos, a Revolução Verde no Brasil difere do processo de industrialização de base mineral. Por um lado, não visava simplesmente substituir as importações (ou seja, atender apenas o mercado interno), mas visava atingir o mercado externo. Por outro lado, por seu envolvimento com os recursos naturais orgânicos e com as condições edafoclimáticas brasileiras, precisava gerar conhecimento científico e tecnologia no Brasil para o meio ambiente brasileiro. O crescimento do Agronegócio é atribuído principalmente à produtividade, que vem crescendo significativa e consistentemente há décadas, ao contrário do que se observa na indústria de base mineral.

    (d) Na década de 1990, o setor público teve que reduzir substancialmente o apoio – por meio de gastos e crédito subsidiado – à agricultura brasileira, atualmente uma das menos apoiadas pelo setor público no mundo. Desde então, a ajuda tem se concentrado principalmente em agricultores de pequena escala e economicamente capazes. Diante do processo de globalização, o Agronegócio brasileiro também ampliou sua atuação no mercado externo, onde obteve notável sucesso, a ponto de contribuir, com os saldos comerciais que gera, significativamente para tornar o Brasil um credor internacional. O agronegócio tem sido uma fábrica de dólares baratos, que ajudam a indústria de base mineral em suas importações. Vale ressaltar também que tanto o agronegócio quanto a indústria de base mineral possuem proporções semelhantes (em torno de 45%) de produtos primários em suas exportações (grãos em um caso e minérios no outro).

    (e) Além disso, hoje o Agronegócio gera mais de 25% do PIB nacional. Emprega cerca de 20% da força de trabalho do Brasil. 9% trabalham na agricultura. Um terço dos ocupados na indústria trabalha em agroindústrias. O PIB da agroindústria é cerca de metade do da indústria de transformação nacional. A agricultura é o único setor econômico no Brasil onde a produtividade da mão de obra cresceu significativamente – tendo mais do que quadruplicado nos últimos 30 anos. Nos demais setores, observou-se estagnação, quando não retração.

    (f) A grande deficiência da agricultura brasileira é a concentração de renda e o grau de pobreza na zona rural (que é o dobro do total do país). Ao todo, 9% dos estabelecimentos rurais concentram 85% do valor da produção, resultado da economia de tamanho – vantagens comerciais, financeiras e tecnológicas. Por isso é fundamental que os produtores menores – com o apoio do poder público – se organizem em associações e/ou cooperativas para que, além da qualificação técnica, também usufruam dessas vantagens comerciais, financeiras e tecnológicas. O meio rural precisa proporcionar condições de vida satisfatórias. A reforma agrária não pode ser apenas distribuição de terras.

    Atualmente 84% da população brasileira vive em áreas urbanas. De 1975 a 2000, os preços reais recebidos pelos produtores agrícolas caíram 70%, o mesmo percentual da queda para o consumidor. Desde então, manteve-se relativamente estável em termos reais. Ainda assim, da população total, 21% ou 22% sofrem de insegurança alimentar (moderada ou grave) e a mesma proporção (21% ou 22%) de obesidade. Como enfatizou Amartya Sen, na década de 1980, a fome está relacionada ao conceito de “direito”, ou seja, a capacidade de uma pessoa conseguir se alimentar em quantidade e qualidade suficientes, seja por meio da produção direta, da renda de seu trabalho em outras atividades, ou por meio de programas de transferência de renda oferecidos pelo restante da sociedade. Desde os anos 2000, a pobreza extrema no Brasil caiu de cerca de 18% para 8%, em grande parte graças aos programas sociais.

    Como o Brasil é um dos maiores produtores de alimentos, assim como um dos maiores exportadores, pode-se deduzir que é um dos produtores mais eficientes, de forma que seus preços estão entre os mais competitivos. Além disso, as evidências indicam que os mercados interno e externo estão significativamente integrados, prevalecendo a paridade de preços – de modo que os preços domésticos correspondem (em média) aos preços internacionais em dólares convertidos em reais pela taxa de câmbio. Essa formação de preços vale não só para os produtos mais comercializados como soja, milho, algodão, carnes, por exemplo. Mas vale até para arroz, feijão e leite. Isso significa que tais produtos são oferecidos à população brasileira com os preços mais competitivos do mundo. Não há aumento na produção de arroz e feijão porque não há mercado (consumidores com renda) para comprá-los. O que falta para resolver os problemas de alimentação no Brasil é renda suficiente para comprá-la. No curto prazo, isso só pode ser alcançado por meio de uma adequada transferência de renda entre as classes sociais. Mas, a médio e longo prazo, o direito à alimentação adequada deve advir da melhoria da renda por meio de programas de educação e capacitação administrativa e tecnológica, seja para inserção no mercado de trabalho, seja para a realização de negócios rentáveis ​​e sustentáveis.

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