O mercado de soja na Bolsa de Chicago voltou a recuar nesta quarta-feira (18), registrando perdas de mais de 20 pontos nos principais contratos e, segundo analistas e consultores de mercado, em partes, refletindo as previsões que começam a mostrar condições melhores de chuvas nos próximos dias na Argentina. Enquanto os preços caem, porém, especialistas do país refazem os cálculos para entender quais serão – pelo menos até este primeiro momento – os impactos não só das perdas produtivas, mas também financeiras de uma das piores secas da história.
Engana-se quem pensa que, devido aos estragos causados pela seca e pelo calor intenso, os produtores argentinos terão algum alívio no volume financeiro que deixam para o governo federal pelo que produzem. Segundo a FADA (Fundação Agrícola para o Desenvolvimento da Argentina), a participação do estado nas margens do campo aumentou nos últimos meses. Assim, de cada 100 pesos gerados nas propriedades rurais, 67,2% ficam com o governo.
“Seria de se esperar que se a produção caísse, seja por estiagem ou qualquer outra adversidade, a pressão tributária também diminuísse. Porém, devido à estrutura tributária que pesa sobre a produção agrícola, um evento adverso como a estiagem, ao invés de diminuir o carga tributária, ela aumenta”, afirmou David Miazzo, economista-chefe da entidade. “À medida que a seca piora, aumentam os impostos sobre a renda”.
Associações e instituições de classe já há algum tempo se organizam e pedem que a situação seja revista pelas autoridades governamentais, porém, ainda sem sucesso. A reclamação da Coninagro (Confederação Intercooperativa da Agricultura) é que as retenções não sejam pagas diante dos prejuízos causados pela estiagem.
“A situação é grave. Há algum tempo, quando solicitamos uma reunião com o ministro (da Economia, Sergio Massa), tivemos uma série de cobranças, mas agora temos a confirmação do prejuízo: a campanha do trigo acabou e a perdas estão entre 40% e 50%, segundo diferentes estimativas”, disse Elbio Laucirica, presidente da Coninagro, que já estima uma perda de pelo menos um quarto da produção nacional de soja.
O presidente da instituição continuou abordando a importância que a desoneração fiscal teria neste momento. “É importante ter desoneração fiscal: pagar retenções quando vamos ter 50% da produção é um absurdo, além de adiantar lucros que não vamos ter”, disse Laucirica. “Precisamos de um conjunto de medidas fiscais e de crédito para poder enfrentar as responsabilidades que os produtores terão com os compromissos financeiros desta safra e os que terão de assumir na próxima”.
Laurcirica acrescentou que continua a pedir ajuda aos muitos criadores de gado que tiveram vários animais mortos pela seca nos últimos meses e que precisam de reconstituir os seus rebanhos.
CUSTO DA SECA
A Bolsa de Valores de Rosário (BCR) estima que os prejuízos financeiros causados pela estiagem já cheguem a algo próximo de US$ 10,425 bilhões, levando em conta os problemas enfrentados pela soja, milho e trigo. Em volume, a projeção do câmbio é de que a safra seja 23% menor do que inicialmente previsto, superando 28,5 milhões de toneladas a menos que serão entregues pela Argentina devido ao clima adverso.
Com menor produção, as exportações de produtos agrícolas também estão menores e devem resultar, segundo o câmbio, em uma entrada de dólares pelo setor agrícola 18% menor para o governo argentino em relação ao montante da safra 2021/22.
Os números apresentados pela BCR apontam ainda que, só na soja, o produtor que produz em terras próprias perdeu cerca de US$ 282 por hectare na primeira soja e US$ 110 na segunda soja, em termos líquidos. No caso do milho, o milho precoce gerou uma perda de US$ 323 por hectare, enquanto o cereal semeado tardiamente registrou uma perda de US$ 33/ha. No trigo, foi registrada pelo menos uma perda de até US$ 489 por hectare colhido.
EXTENSÃO DE PROBLEMAS
Um relatório da Direção Nacional de Risco e Emergência Agrícola informou que a seca na Argentina, ou o risco dela, já atingiu 175 milhões de hectares só em dezembro. No mês passado, ainda segundo o boletim, o quadro se agravou, principalmente no norte do país, sendo que em todo o país o aumento foi de 10 milhões de hectares nessas condições.
A região central da nação sul-americana registrou o ano mais seco dos últimos 62 anos. A Zona Núcleo – coração da produção argentina – é o segundo lugar mais seco do território argentino. E lidar com o triênio 2020-2022 é o mais seco de toda a Argentina.
O QUE AS PREVISÕES MOSTRAM?
Modelos climáticos atualizados mostram que áreas agrícolas podem receber alguma chuva neste fim de semana e meados do próximo. Mesmo assim, continuam os alertas para a continuidade das perdas produtivas, uma vez que os níveis de umidade do solo – tanto nas camadas mais superficiais quanto nas mais profundas – permanecem baixos e precisariam de precipitações mais frequentes e volumosas para se recuperarem efetivamente.
Ao jornal argentino La Nacion, o meteorologista Eduardo Sierra explicou que “neste sábado começaria a chover bem, depois volta o tempo seco e, na sequência, voltam as chuvas. .
Assim, as expectativas para as chuvas de sábado são altas. No entanto, especialistas dizem que algum alívio consistente e alguma recuperação das lavouras – onde isso ainda é possível – só devem ser vistos com mais volumes. Para reverter a situação seria necessário chover entre 100 e 150 mm no centro da Argentina, o que não aparece nas previsões de curto ou médio prazo.
O meteorologista argentino Leo Benedictis fez uma comparação de cinco modelos meteorológicos com a previsão de chuvas de 18 a 24 de janeiro, onde “o modelo australiano é o mais otimista e o americano, o mais pessimista. semelhança”, diz.