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Quebra da CAF pode deixar agricultores sem acesso ao crédito

    Agro acumula mais de R 4 bilhoes em financiamentos do

    Uma série de problemas operacionais no sistema digital tem impedido que pequenos produtores se registrem no Cadastro da Agricultura Familiar (CAF). Como resultado, eles podem não ter acesso a programas do governo federal, incluindo linhas de crédito. No interior do Paraná, proliferam os casos de produtores que não conseguiram se inscrever no CAF. Diante desse cenário, a FAEP tem atuado junto aos órgãos responsáveis ​​para tentar solucionar e/ou minimizar esses problemas.

    A CAF foi criada no ano passado para substituir a Declaração de Aptidão ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (DAP). Ou seja, quando expira a DAP do pequeno produtor, ele não pode renová-la: deve se registrar na CAF. A inscrição no cadastro é fundamental para que os pequenos produtores sejam classificados como agricultores familiares.

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    O Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) reconhece as dificuldades operacionais do sistema CAF e prorrogou por um ano a vigência das DAPs que vencem entre 8 de fevereiro de 2023 e 31 de janeiro de 2024. não se aplica às declarações vencidas antes de 8 de fevereiro deste ano. A decisão do MDA é que esses produtores se registrem na CAF. No entanto, como problemas operacionais impediram o registro no cadastro, esses agricultores permanecem em uma espécie de limbo.

    “O pequeno produtor, que tem até quatro módulos fiscais, fica desamparado. Sem conseguir se cadastrar na CAF, ele não terá acesso ao crédito do Pronaf [Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar]. Ao mesmo tempo, está impossibilitado de ir ao Pronamp [Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural], porque os juros são maiores, o que dificulta o pagamento”, explica Bruno Vizioli, técnico do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema FAEP/SENAR-PR. “Não foi criado um programa complementar. É um problema sério. O plantio da safra de inverno vai começar e os produtores correm o risco de ficar sem acesso ao crédito”, aponta.

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    dificuldades

    Para se inscrever no cadastro, o produtor precisa procurar o sindicato rural de seu município ou uma entidade que faça parte da Rede CAF, como o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR). Além de fornecer os dados pessoais de todos os dependentes e da propriedade, o agricultor familiar precisa anexar documentos que comprovem as informações prestadas, como notas fiscais de compra e venda e comprovante de endereço. Os dados são cruzados com mais de 30 bases de dados, incluindo a Receita Federal e o Cadastro Único (CadÚnico).

    Em Cianorte, no Noroeste do Estado, há três processos parados, porque o sistema não consegue carregar os documentos a serem anexados. O técnico do sindicato rural do município, Henrique Carlos Fazio Conrado Lima, já perdeu as contas de quantas horas já passou na frente do computador, esperando, sem sucesso, a finalização do cadastro.

    “Comecei a preencher a ficha de inscrição pela manhã e fiquei até as 18h30… e nada! O sistema fica carregando, dá erro e trava. Continuo tentando todos os dias, mas sem sucesso”, relatou Lima. “O produtor tem os documentos, mas o sistema não permite a anexação. O produtor está sendo prejudicado, porque o sistema está inoperante”, afirma.

    Em Três Barras do Paraná, na região Oeste do Estado, já são nove cadastros estagnados, devido à inoperacionalidade do sistema. A secretária do sindicato rural Sandra Bibiano da Silva acumula prints das telas bloqueadas, por diversos motivos – desde falha no carregamento até problemas de autenticação. Ela conta que tem conversado com sindicatos de outros municípios, que também não têm conseguido realizar os cadastros.

    “O sistema está prejudicando a nós e aos produtores. Precisamos do Ministério [o MDA] dê-nos uma solução. São tantos tipos de erros no sistema que a gente nem acredita”, diz Sandra. “Os problemas são generalizados. O ruim é que cada processo parado é um produtor que vai ter dificuldades depois”, observa.

    Em Campo Largo, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), o diretor do sindicato rural local, Hugo Ruthes, chegou a conseguir fazer dois cadastros, mas com dificuldade. Em ambos os casos, ele iniciou o processo antes das 8h30 e só conseguiu finalizá-lo por volta das 19h. Ele conta que demorou uma hora só para se conectar ao sistema, que cai constantemente – principalmente quando chega à fase de anexar documentos.

    “Dá voltas e voltas e nós estamos lá, esperando”, relata. “Nós, que trabalhamos na linha de frente, temos vergonha. O produtor acha que estamos sendo preguiçosos ou que não estamos dispostos. Estou prestes a colocar um projetor, para que o produtor veja que o sistema simplesmente não funciona. Somos vítimas de um sistema falido. E esta extensão é apenas um pequeno tranquilizante. De nada adianta se esses problemas não forem resolvidos definitivamente”, define.

    FAEP pressiona ministérios

    Durante todo o mês de fevereiro, a FAEP recebeu denúncias diárias de sindicatos de todas as regiões do Estado, denunciando falhas operacionais que impedem o cadastramento de agricultores familiares na CAF. A Federação enviou ofícios ao MDA, ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e ao Banco Central, alertando sobre problemas no sistema e a provável dificuldade de acesso ao crédito para produtores devido a quebras na CAF.

    “Os nossos produtores não podem ser penalizados por dificuldades técnicas que são da responsabilidade dos ministérios. É um problema que deve ser resolvido com bom senso e agilidade. Junto com outras federações, estamos cumprindo nosso papel institucional de exigir respostas”, destaca a presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR, Ágide Meneguette.

    O Paraná não é o único estado onde os produtores não conseguem se cadastrar na CAF. Em reunião realizada no dia 23 de fevereiro pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), representantes dos 27 estados relataram os mesmos problemas operacionais. Apesar disso, não há previsão para que o sistema seja normalizado ou para que as DAPs voltem a vigorar.

    Entenda as diferenças entre DAP e CAF
    A DAP é uma declaração simples, na qual o produtor fornece informações que se enquadram na Política Nacional da Agricultura Familiar e dos Empreendimentos Rurais Familiares – prevista na Lei 11.326 de 2006. A CAF vai além: o produtor rural precisa preencher as informações em o registro e já anexe os documentos que o comprovem.

    “O DAP foi declaratório. O agricultor familiar fez sua declaração no papel. Se houvesse algum descumprimento, ele era pego na frente. Agora, as informações do CAF são cruzadas com outras bases de dados. Se houver inconsistências, o cadastro não é concluído”, explica Bruno Vizioli, do Sistema FAEP/SENAR-PR.

    Na avaliação do técnico da entidade, o conceito subjacente à criação da CAF é positivo, pois evita fraudes ou classificação imprecisa dos produtores como agricultores familiares. Ele questiona, porém, o fato de a iniciativa ter saído do papel sem que o sistema estivesse em pleno funcionamento, com o agravante da demora na definição de soluções efetivas.

    “A ideia é boa. O problema é que o sistema foi mal desenhado e, agora, falhas operacionais têm impedido os cadastros”, resume. “Precisamos de soluções rápidas, porque o plantio da safra já está aí e o produtor não pode mais ser penalizado”, conclui.



    Fonte: Agro