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“O conflito letal entre Hamas e Israel” – Artigo de Leonardo Boff

    Irromperam os cavalos do Apocalipse: a guerra Hamas-Israel. Artigo de Leonardo Boff - Instituto Humanitas Unisinos
    • “O sentido do ser, da vida e da história”

    “Face a esse drama assustador irrompe uma interrogação radical: qual é o sentido do ser, da vida e da história?” Com essa questão, Leonardo Boff, teólogo e escritor, explora a relação entre violência, rejeição e o antienigma humano. Este texto foi criado para questionar o terror, e a incerteza presente nas guerras. Um artigo profundo que busca abrir olhos para que compreendemos que seres humanos também são criaturas de demência, porém, ao mesmo tempo, de sapiência. Todos sem exceção são dotados de capacidade de amor e cuidado, podendo escolher o lado positivo. Nosso desejo é que este artigo sirva como reflexão a todos que o leiam.

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    Sumário

    1. O drama atual entre o grupo terrorista Hamas e o estado de Israel

    2. Reflexões sobre a natureza humana em meio a conflitos armados

    3. A demência e a sapiência: dualidade presente na condição humana

    4. A busca pela paz em tempos de guerra

    4.1 A oração de São Francisco como chave iluminadora

    4.2 Gandhi e a defesa dos meios pacíficos para alcançar a paz

    4.3 Triunfo do espírito pacífico sobre a violência

    “Face a esse drama assustador irrompe uma interrogação radical: qual é o sentido do ser, da vida e da história? Com o iluminar esse antifenômeno? Não temos outra categoria para iluminar esse enigma senão reconhecer: é a explosão e a implosão da demência, inscrita no ser humano, assim como o conhecemos”, escreve Leonardo Boff, teólogo e escritor, autor de, entre outros livros, de A busca da justa medida (Vozes, 2023, volumes I e II); A oração de São Francisco: uma mensagem de paz para o mundo atual (Vozes, 2014); Fundamentalismo, terrorismo, religião e paz (Vozes, 2009).

    Segundo ele, “a saída mais realista e mais sábia parece ser aquela, expressa na Oração da Paz, de São Francisco de Assis, o irmão universal, da natureza, dos animais, das montanhas e das estrelas. Nessa oração, amplamente divulgada e feita credo comum pelo macroecumenismo, vale dizer, pelo ecumenismo entre as religiões e as igrejas, encontramos uma chave iluminadora”.

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    Eis o artigo.

    Nestes dias de outubro assistimos, espantados, a guerra que explodiu entre o grupo terrorista Hamas, da Palestina, e o estado de Israel, atacado de surpresa e o forte revide deste último. Dada a violência empregada, vitimando centenas de pessoas de ambos os lados, especialmente população inocente, pareceria que irrompeu o cavalo do Apocalipse, aquele da guerra destruidora (Apoc 9,13-19).

    Os foguetes, as mísseis, os drones, os tanques, os bombardeiros, os caças, as bombas inteligentes e os próprios soldados, feitos pequenas máquinas de matar, se parecem a figuras saídas das páginas do livro do Apocalipse.

    Todos os que viemos de uma visão pacifista do mundo, da ecologia da integração harmônica das oposições, do processo evolucionário, concebido como aberto para formas cada vez mais complexas, altas e ordenadas de relações e mesmo as advertências do Papa Francisco sobre o alarme ecológico, nos perguntamos angustiados: como é possível chegarmos a tais patamares de destruição? Como entender os fenômenos que acompanham o cenário desta guerra, como a invasão de Israel por terroristas do Hamas, matando indiscriminadamente civis, sequestrando pessoas, crianças, idosos e militares, as fake news, a distorção planejada dos fatos e a manipulação das crenças religiosas? Importa não esquecer os muitos anos de dura dominação israelense sobre a região de Gaza e dos palestinos em geral. Isso provocou ressentimento e muito ódio que está na base dos permanentes conflitos na região. Mas tudo isso não cala a pergunta: o que somos nós, seres humanos, capazes de tanta barbárie?

    E as guerras se transformaram cada vez mais em guerras totais, fazendo mais vítimas entre as populações civis do que entre os combatentes. Max Born, prêmio Nobel de física (1954), denunciou a prevalência da matança de civis na guerra moderna. Na Primeira Guerra Mundial morriam só 5% de civis, na Segunda Guerra, 50%, na guerra da Coreia e Vietnam 85%. E dados recentes dão conta de que contra o Iraque e a ex-Iugoslávia, na Ucrânia 98% das vítimas são civis. Na presente guerra, entre o grupo Hamas e Israel os dados deverão ser de semelhante proporção, pelo que se deduz das palavras ameaçadores do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.

    Segundo o historiador Alfred Weber, irmão de Max Weber, dos 3.400 anos de história da humanidade que podemos datar com documentos, 3.166 foram de guerra. Os restantes 234 não foram certamente de paz mas de trégua e de preparação para outra guerra.

    Face a esse drama assustador irrompe uma interrogação radical: qual é o sentido do ser, da vida e da história? Com o iluminar esse antifenômeno?

    Não temos outra categoria para iluminar esse enigma senão reconhecer: é a explosão e a implosão da demência, inscrita no ser humano, assim como o conhecemos. Somos também seres de demência, de excesso, de vontade de dominar, esganar e assassinar. Isso foi amplamente ilustrado nas guerras do século XX que implicaram no morticínio de 200 milhões de pessoas e nos atos espetaculares perpetrados pelo terrorismo e fundamentalismo islâmico como a destruição das Torres Gêmeas nos EUA e atualmente pela surpreendente e terrível ataque do grupo terrorista Hamas (parte rejeitada pelos palestinos) ao estado de Israel.

    O enigmático é que essa demência vem sempre junto com a sapiência. A sapiência é a nossa capacidade de amar, de cuidar, de se extasiar e de abrir-se ao Infinito. Somos, simultaneamente, todos sem exceção, sapiens e demens, vale dizer, seres humanos sapientes e dementes.

    O paradigma dominante de nossa cultura, assentado sobre a vontade de poder e de dominação, criou as condições para que nossa demência coletiva se manifestasse poderosamente e predominasse. Esse espírito de guerra está presente na economia de mercado financeirizada, na guerra do trigo, do milho, dos carros, dos computadores, dos celulares, dos grupos religiosos e até de centros de pesquisa.

    Por outro lado, nunca deixou de aparecer, em tempo algum, também nossa dimensão sapiente. Praças do mundo inteiro se enchem de multidões clamando por paz e nunca mais a guerra, sempre que a ameaça de conflito é suscitada, como forma de resolução de problemas. Líderes políticos, intelectuais e religiosos, erguem sua voz e alimentam o lado luminoso e pacífico dos seres humanos e não nos deixam desesperar. Jesus, São Francisco de Assis, Mahatma Gandhi, Luther King Jr, Dom Helder Câmara, entre outros se transformarem em referências da antiviolência e paladinos da paz.

    Que saída encontraremos para esse problema com dimensões metafísicas? Até hoje não sabemos exatamente.

    A saída mais realista e mais sábia parece ser aquela, expressa na Oração da Paz, de São Francisco de Assis, o irmão universal, da natureza, dos animais, das montanhas e das estrelas. Nessa oração, amplamente divulgada e feita credo comum pelo macroecumenismo, vale dizer, pelo ecumenismo entre as religiões e as igrejas, encontramos uma chave iluminadora.

    Os termos da oração deixam clara a consciência do caráter contraditório da condição humana, feita de amor e de ódio, de sapiência e de demência. Parte-se desta contradição, mas se afirma confiadamente o polo positivo com a certeza de que ele irá limitar e integrar o polo negativo.

    A lição, subjacente à Oração de São Francisco, é esta: não se cura a demência senão reforçando a sapiência. Por isso, em suas palavras: “onde houver ódio, que eu eu leve o amor; onde houver discórdia que eu leve a união; onde houver desespero, que eu leve a esperança; onde houver trevas, que eu leve a luz”. E importa mais “amar que ser amado, mais compreender que ser compreendido, mais perdoar que ser perdoado, pois é dando que se recebe e é morrendo que se vive para a vida eterna”.

    Nessa sabedoria dos simples se encontra, quiçá, o segredo da superação das vontades que querem a violência e a guerra como forma de resolver conflitos ou de fazer valer os interesses de uns contra os outros, como está ocorrendo na atual guerra Hamas-Israel.

    O caminho da paz, ensinava Gandhi, é a própria paz. Só meios pacíficos produzem a paz. A paz é, a um tempo, meta e método, fim e meio. Oxalá esse espírito acabe triunfando sobre a violência brutal na presente guerra, profundamente assimétrica, entre o pequeno e violento grupo Hamas e o também pequeno mas poderoso estado de Israel.

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    Irromperam os cavalos do Apocalipse: a guerra Hamas-Israel. Artigo de Leonardo Boff – Instituto Humanitas Unisinos – IHU

    Leonardo Boff, teólogo e escritor, provocou questionamentos sobre o sentido do ser, da vida e da história diante do drama assustador desencadeado pela guerra entre o grupo terrorista Hamas, da Palestina, e o estado de Israel, que vitimou centenas de pessoas nos ataques. A violência impetrada pelas partes envolvidas lembra a reação da guerra destruidora do Apocalipse, causando espanto em quem possui uma visão pacífica do mundo. As armas utilizadas nos conflitos se parecem com figuras saídas das páginas do livro do Apocalipse, o que traz angústia e a seguinte questão: como é possível chegarmos a patamares tão altos de destruição?

    Tanto o ataque do Hamas a Israel, como a retaliação deste último, com vítimas civis de ambos os lados, despertam dúvidas e inquietações. A história de domínio israelense sobre Gaza e os palestinos em geral provocou ressentimento e ódio, que se reflete nos conflitos atuais da região. A demência humana é evidenciada em atos bárbaros perpetrados por terroristas e em guerras totais que se tornaram mais letais para a população civil do que para os combatentes, como destacou Max Born.

    A história da humanidade, segundo o historiador Alfred Weber, foi marcada durante 3.166 anos por guerras, que representam 93% de todo esse período. E mesmo diante de toda essa demência, a sapiência humana também se destacou, sendo evidenciada por multidões clamando por paz e líderes políticos, intelectuais e religiosos que levantam a bandeira da paz. A nossa condição contraditória feita de amor e ódio, sapiência e demência é ilustrada nas palavras de São Francisco de Assis, que enfatiza a importância de reforçar a sapiência e levar os aspectos positivos para limitar e integrar os aspectos negativos.

    A demência, que se expressa em atos de violência e guerra, precisa ser curada fortalecendo a sapiência, traduzida em amor, compreensão e perdão. O caminho da paz, segundo Gandhi, só pode ser alcançado por meios pacíficos, sendo a paz, ao mesmo tempo, meta e método. O confronto violento entre o Hamas e Israel, apesar de profundamente assimétrico, entre um pequeno e violento grupo e um pequeno mas poderoso estado, evidencia a necessidade de superar as vontades violentas que querem a guerra como forma de resolver conflitos. A lição contida na Oração de São Francisco traz a sabedoria de reforçar a sapiência para superar a demência e alcançar a paz.

    Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal Do Campo

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    Conclusão:
    Diante do cenário de conflito entre Hamas e Israel, fica evidente a necessidade da busca pela paz em detrimento da violência. As guerras levam à destruição e à dor, e a humanidade precisa reforçar sua sapiência para superar a demência que leva aos conflitos. A oração de São Francisco de Assis serve como referência para reforçar a importância do amor, da união, e da paz como meios para enfrentar as adversidades.

    Face a esse drama assustador irrompe uma interrogação radical: qual é o sentido do ser, da vida e da história? Com o iluminar esse antifenômeno? Não temos outra categoria para iluminar esse enigma senão reconhecer: é a explosão e a implosão da demência, inscrita no ser humano, assim como o conhecemos”, escreve Leonardo Boff, teólogo e escritor, autor de, entre outros livros, de A busca da justa medida (Vozes, 2023, volumes I e II); A oração de São Francisco: uma mensagem de paz para o mundo atual (Vozes, 2014); Fundamentalismo, terrorismo, religião e paz (Vozes, 2009). Segundo ele, “a saída mais realista e mais sábia parece ser aquela, expressa na Oração da Paz, de São Francisco de Assis, o irmão universal, da natureza, dos animais, das montanhas e das estrelas. Nessa oração, amplamente divulgada e feita credo comum pelo macroecumenismo, vale dizer, pelo ecumenismo entre as religiões e as igrejas, encontramos uma chave iluminadora”. Eis o artigo.

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