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Líder nacional em alimentos orgânicos, Paraná investe para ampliar produção…

    Lider nacional em alimentos organicos Parana investe para ampliar producao scaled

    O Paraná tem 3.916 produtores orgânicos certificados, o maior número do Brasil – o que corresponde a 16% dos produtores desse segmento no país, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). É uma rede que reúne milhares de pessoas que acordam cedo e trabalham de madrugada a anoitecer para garantir, por exemplo, frutas e verduras frescas em supermercados e feiras, além de estimular uma mudança comportamental na sociedade, exigência deste século . E com o apoio do Governo do Estado, esse número não para de crescer.

    Na reportagem desta semana da série “Paraná, o Brasil que dá certo”, o destaque é a produção orgânica no Estado e os programas públicos intersetoriais que estimulam esse segmento. Somente nos últimos quatro anos, o aumento de agricultores com cultivo orgânico chegou a 70%: de 2.414 em abril de 2018 para 4.107 em abril de 2022, segundo o Mapa. Estima-se que a produção orgânica no Estado seja de 50 mil toneladas/ano, envolvendo diversas cadeias (frutíferas, grãos, mandioca) e modalidades de comercialização, incluindo feiras e cestas para entrega ao consumidor.

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    Diferentes programas governamentais apoiam a produção de produtos orgânicos e abrem caminho para que alimentos saudáveis ​​cheguem à população. Uma delas é o Programa Estadual de Alimentação Escolar (PEAE). Por meio dele, 315 municípios paranaenses recebem alimentos orgânicos para compor as três refeições por turno da merenda escolar dos alunos da rede estadual.

    Couve, beterraba, cenoura, alho, pães e sucos estão entre os produtos saudáveis ​​oferecidos nas escolas. Em 2021, o percentual de produtos agroecológicos e orgânicos na merenda foi de 10,5%. Este ano, deve ser superior a 18%, segundo dados do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Educacional (Fundepar), que ajuda a estruturar essa rede em parceria com outras entidades estaduais.

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    Um exemplo está no município de Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), onde os produtos orgânicos estão presentes na alimentação oferecida a mais de 1.500 alunos do Colégio Estadual Humberto Alencar Castelo Branco, em três turnos de aulas. O cardápio da manhã de quarta-feira, por exemplo, oferece salada de alface, arroz com cenoura e feijão com carne. A lista orgânica: alface, cenoura e alho-poró – colhidos lá na região pelo produtor Adair Andrade, de Campo Magro, também RMC, que coloca seus produtos à disposição dos consumidores em quatro feiras semanais em Curitiba.

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    Para chegar à escola em Pinhais, Andrade se associou à Cooperativa dos Agricultores Orgânicos e Produção Agroecológica (COAOPA), uma das entidades que organiza o recebimento e entrega de merenda orgânica às escolas estaduais. O alho verde orgânico plantado por ele também é temperado para saladas na escola e auxilia no trabalho das merendeiras, outro importante elo dessa cadeia para garantir a saúde de mais de 1 milhão de jovens paranaenses.

    “Faz muita diferença, é outro sabor. Antigamente não tinha essa variedade de coisas, cheguei na fase que a gente recebia fubá, carne de soja e enlatados. E é isso que poderíamos oferecer. Os alunos não gostaram muito. Houve muita rejeição. Agora, com produtos orgânicos, podemos fazer uma comida bem caseira”, diz Rosângela Belô, que trabalha como cozinheira há 30 anos.

    A COAOPA entrega, em média, 30 toneladas de alimentos por semana para 220 escolas da Grande Curitiba. Só o pão é de 10 a 12 toneladas por mês de 35 agricultores diferentes. Um deles é Augusto Jacomite, de Bocaiúva do Sul, também da RMC, que faz pão caseiro 30% integral, com ingredientes todos orgânicos e em sua maioria paranaenses, como a farinha de trigo que vem de Realeza, no Sudoeste.

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    O presidente da COAOPA, Luciano Escher, explica que o ciclo é positivo para todos os envolvidos nesse processo: pequenos produtores de todo o estado, cooperativas, alunos, pais e consumidores que frequentam as feiras locais. “É uma segurança para o agricultor orgânico produzir, entregar e ter renda. Por outro lado, a escola recebe alimentos seguros, limpos, saudáveis, frescos e próximos da origem”, afirma.

    A cooperativa reuniu 35 agricultores em sua fundação. Hoje já são 387 agricultores familiares, todos orgânicos certificados, sendo 75% da RMC e o restante das regiões do Vale do Ribeira e de outros estados, como São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

    Até 2030, por lei, o Paraná deve ter 100% das mais de 2.000 escolas atendidas apenas com produtos orgânicos. Os parâmetros e ações necessárias para a introdução progressiva de produtos orgânicos estão sendo analisados ​​pelo Governo do Estado, por meio de um comitê gestor com integrantes de diversos órgãos. O colegiado assessora as secretarias de Educação e Esportes e de Agricultura e Abastecimento no trabalho de formulação, gestão e fiscalização de políticas públicas que visem abastecer toda a merenda escolar com produtos dessa linha.

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    COMPRE DIRETO E COOPERE – A aposta nos produtos e produtores orgânicos, que é um dos caminhos da Agenda 2030 no Paraná, também ajuda a levar mais alimentos naturais para a rede socioassistencial. Por meio do Compra Direta Paraná, os produtos de cooperativas ou associações de agricultura familiar são adquiridos pelo Estado e entregues em restaurantes populares, cozinhas comunitárias, bancos de alimentos, hospitais filantrópicos e abrigos, entre outros.

    O programa foi criado em 2020 como medida emergencial na pandemia de Covid-19 e, ao mesmo tempo, representou garantia de comercialização para pequenos produtores e alimentação adequada para a população vulnerável. A partir de 2021, tornou-se política pública na área de segurança alimentar.

    Das 163 cooperativas e associações contratadas pelo programa, 88 entregam produtos orgânicos, total ou parcialmente, com a participação direta de 1.595 agricultores. A COAOPA, por exemplo, entrega pelo Compra Direta, de dezembro a fevereiro, que não vai para as escolas.

    Com essa capilaridade, o Compra Direta Paraná foi reconhecido pelo Prêmio Excelência em Competitividade, do Centro de Liderança Pública (CLP), que visa reconhecer as boas práticas desenvolvidas pelo poder público nos estados, como referência em gestão.

    Outros programas de sucesso são a Coopera Paraná, que garante investimentos em pequenas cooperativas e associações familiares para modernizar a produção e formar profissionais, e a Renda Agricultor Familiar, ação de transferência de renda para famílias rurais investirem na propriedade. A COAOPA, que fornece a maior quantidade de alimentos orgânicos para a merenda escolar, recebeu R$ 420 mil da Coopera para financiar obras, comprar matérias-primas, veículos, máquinas e equipamentos e contratar novos trabalhadores.

    Segundo estimativas da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, um terço das organizações atendidas pela Coopera Paraná trabalham com produtos orgânicos. Das 106 cooperativas cadastradas, 42 são de agricultura orgânica. Das 64 associações, 30 são desse segmento. A linha “orgânico” é um critério de pontuação no edital: quanto mais ações apresentadas para incentivar a produção agroecológica ou orgânica, maiores as chances de o projeto ser aprovado.

    TREINAMENTO – Este movimento é uma tendência irrevogável. O número de consumidores de alimentos orgânicos cresceu 30% no Brasil entre 2019 e 2021, segundo a Organics, entidade especializada no setor. Atualmente existe até “consumo de assinatura”. Nesse formato, os clientes se comprometem a comprar os alimentos cultivados pelo produtor por um período de tempo, geralmente um ano.

    Para promover essa tendência, é necessário treinamento. Para incentivar mais produtores rurais do Estado, que é líder nacional na cadeia de proteína animal e um dos maiores produtores de grãos do Brasil, o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná) desenvolveu passo a passo um “treinamento- modalidade de treinamento”. Visita”.

    A produtora de tomate orgânico Danieli Gonçalves de Oliveira teve seu primeiro contato com orgânicos ao participar desse curso de capacitação em 2018 e um ano depois sua produção em Nova Fátima, pequena cidade de 8 mil habitantes no norte do estado, já estava certificada. O projeto “inicia” os agricultores na produção orgânica e é feito em grupos, implementando cada uma das etapas em uma pequena propriedade, ou na propriedade de um dos participantes, que depois são replicadas pelos demais. A assistência então continua individualmente.

    “Foi a melhor decisão que já tomei na vida”, diz Danieli, que realizou todo o processo e hoje produz 600 caixas de tomate orgânico em duas estufas de mil metros quadrados cada.

    A modalidade chegou em 2010 à região de Cornélio Procópio, onde fica Nova Fátima, e o número de produtores orgânicos certificados passou de 70 para 183 nos últimos anos, sendo que outros 30 foram capacitados este ano. Durante a pandemia, o acompanhamento continuou, inclusive com reuniões virtuais. A meta é chegar a 7.700 produtores certificados no estado até 2025, segundo o IDR-Paraná.

    O tomate tem sido protagonista nesses encontros e parece estar em franca expansão no Paraná. “É um fruto difícil de cultivar. Mas aprendendo a produzir tomate, o agricultor tem confiança e segurança para produzir outros produtos. Em geral, entre 70% e 80% que utilizam nossa metodologia a adotam”, explica o coordenador de Agroecologia do IDR-Paraná, André Miguel.

    Para estimular a geração de emprego e renda nessas propriedades, com foco no desenvolvimento regional sustentável, outro personagem estadual entra na história: o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar). A entidade que é referência nacional em saúde pública tem convênio de cooperação com a Associação dos Municípios do Paraná (AMP) para ampliar a certificação de produtores orgânicos. Representantes de 48 municípios do Norte Pioneiro, Centro-Sul e Litoral já participaram de edições da oficina.

    O Paraná se destaca nacionalmente por oferecer a certificação orgânica por meio de uma empresa pública reconhecida nacionalmente. “O Tecpar faz parte desse processo, desempenhando um importante papel no desenvolvimento da economia local, ao contribuir para que a certificação orgânica seja um grande diferencial para os produtores, com base na produção sustentável”, destaca o diretor-presidente do Tecpar, Jorge Callado.

    O Tecpar também é a instituição certificadora do Paraná Mais Orgânico, outro programa estadual, desta vez vinculado às sete universidades estaduais, por meio da Superintendência Geral de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná, com apoio do IDR-Paraná.

    O programa garante certificação gratuita. Os agricultores familiares aprendem a converter suas lavouras tradicionais para um modelo livre de agrotóxicos, sementes transgênicas e outras substâncias tóxicas ou sintéticas, de acordo com a legislação brasileira de produtos e sistemas orgânicos de produção, e são encaminhados para obtenção do selo emitido pelo Tecpar após a auditoria. Com a certificação, a unidade de produção ou beneficiamento estará autorizada a utilizar o Selo Orgânico do Brasil, essencial para a comercialização dos produtos em todo o território nacional.

    TECNOLOGIA – Outro braço forte do Estado nesse movimento são as pesquisas em agroecologia do IDR-Paraná, que abrangem culturas de grãos, fruticultura, horticultura, produção leiteira e comercialização. Estudos na área de fitossanidade avaliam a eficiência de produtos aceitos no sistema orgânico para o controle de doenças na cultura do feijão, por exemplo. Outra preocupação dos pesquisadores é o desenvolvimento de estratégias de controle de pragas em plantações de tomate, como o uso de armadilhas luminosas e plantas que atraem insetos que atuam como inimigos naturais.

    O exemplo sai do laboratório e imediatamente migra para o campo. No início deste ano, o IDR-Paraná lançou três cultivares de soja próprias para cultivo no sistema orgânico para alimentação humana — IPR Basalto, IPR Petrovita e IPR Pé-Vermelho. Eles estão ajudando a formar uma nova geração de produtores nesta área. Outros projetos de destaque são a avaliação da bubalinocultura na estação experimental que o IDR-Paraná mantém na Lapa e experimentos com macieiras com o objetivo de traçar um protocolo de recomendações para a produção da fruta no sistema orgânico.

    MAPA – Este ano, o Governo do Paraná também criou um mapa de feiras de produtos orgânicos e agroecológicos. A ferramenta, disponível no site da Seab, contém datas, horários e endereços e está em constante atualização. Ela ajuda os paranaenses a encontrar o melhor espaço perto de casa para que a história do orgânico ganhe novos capítulos.



    Fonte: Noticias Agricolas