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Análise/Reuters: Estratégia comercial da Petrobras trará mais desafios…

    AnaliseReuters Estrategia comercial da Petrobras trara mais desafios scaled

    Por Marta Nogueira

    RIO DE JANEIRO (Reuters) – O presidente-executivo da Petrobras, Jean Paul Prates, garantiu que a nova estratégia comercial anunciada nesta terça-feira pela petroleira preservará a lucratividade da companhia, mas analistas acreditam que a prerrogativa será testada até mesmo quando os preços dispararem e houver pressão política para controlar a inflação.

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    A nova estratégia não segue mais o preço de paridade na importação de combustíveis, em linha com o prometido pelo presidente Lula nas eleições. Segundo Prates, a petroleira passará a praticar os valores mais favoráveis ​​para ela e seus clientes, evitando volatilidades externas aos consumidores, sem se afastar do benchmark do mercado global.

    Junto com o anúncio, a empresa cortou os preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha, em um movimento amplamente esperado, uma vez que seus valores estavam premium em relação às cotações internacionais. Os ajustes vieram em linha com as previsões de mercado.

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    Jean Paul e Petrobras ficaram muito felizes com o momento do anúncio, é um momento de câmbio mais frio e preço do petróleo mais comportado. Havia espaço para dar essa redução de preço“, disse o especialista da consultoria CBIE, Pedro Rodrigues.

    Quando o mercado está em baixa, o preço está frio e o petróleo se comporta, está tudo claro… depois que o preço começa a subir, o que acontece?”, questionou Rodrigues, lembrando que a Petrobras, como agente dominante, precisa importar para atender a demanda interna, podendo incorrer em prejuízos caso os custos não sejam repassados ​​no futuro.

    Em entrevista à CNN Brasil no final da tarde, Prates brincou sobre o momento do mercado em que foi anunciada a nova estratégia, ao ser questionado sobre como a Petrobras vai agir quando os preços subirem. Ele respondeu brincando que era por isso que o anúncio ocorreu agora. “É isso que você está pensando, eu fiz essa piada, porque é isso que as pessoas pensam”, disse, acrescentando que a petroleira responderá com ajustes para cima ou para baixo, mas não ao mesmo tempo, proporção ou volatilidade como ocorreu em 2021. e 2022 .

    Ao defender que não haverá intervenção estatal, Prates anunciou a nova estratégia da petroleira aos jornalistas nesta terça-feira, em Brasília, ao lado do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, o que foi apontado por analistas como um sinal de que o governo vai também chamar os tiros. O ministro disse que a nova política vai ajudar a combater a inflação, sem intervenção do governo na empresa.

    DIFÍCIL DE PREVENIR

    Com o fim do PPI, ficou mais difícil para o mercado prever os movimentos da Petrobras e a empresa ganhou mais flexibilidade para agir da forma que julgar necessária, apontam especialistas.

    Um teste para a nova gestão da petroleira pode acontecer já no final do ano, quando os preços do diesel costumam subir, com a temporada de furacões nos EUA, aumento da demanda por combustível no Hemisfério Norte devido ao inverno, entre outras questões , pontuou o analista de petróleo e derivados da StoneX, Pedro Shinzato.

    Uma fonte da empresa disse que o anúncio traz “grandes mudanças”. Na prática, a Petrobras poderá espaçar ainda mais seus reajustes, e com possibilidade até de variações quase anuais ou semestrais de preços.

    O entendimento na atual gestão é que períodos mais longos sem reajustes não trarão prejuízos, porque perdas ou ganhos se compensam, disse esta fonte. “Exemplo: inverno e verão americano, você perde em um e ganha em outro. O problema é a capacidade às vezes como uma guerra… o ajuste seria modelado em 25% e não no preço de 100%”, afirmou.

    Ao divulgar a nova política, a petroleira destacou que a estratégia comercial utilizará referências de mercado como o custo alternativo do cliente, buscando ser o mais competitivo possível, e o valor marginal para a Petrobras, baseado no custo de oportunidade incluindo produção, importação e exportar.

    “As informações divulgadas não são suficientes para dissipar o receio, justificável pelas declarações dadas no passado, de que a empresa, não estatal e com acções em bolsa, passe a ser utilizada para fazer políticas públicas”, disse o dirigente sócio da área de Energia do Campos Mello Advogados, Alexandre Calmon.

    “Eles também dão a impressão de que a Petrobras poderia cobrar preços que violam a ordem competitiva ao considerar um ‘custo alternativo do cliente’ pouco claro. Só a prática dirá, mas prevejo várias portas abertas para contestação seja por acionistas ou por concorrentes da Petrobras.”

    O sócio-diretor da Raion Consultoria, Eduardo Oliveira de Melo, afirmou que o anúncio trouxe incerteza, imprevisibilidade e um componente político entrando com mais força na precificação, mas que ainda é cedo para fazer um prognóstico.

    “O cenário atual acaba favorecendo, já favoreceu desde o início do ano, aquele agente teve queda no preço dos combustíveis… (mas) o que será de amanhã? a 90 dólares, por exemplo, o que pode acontecer, o que me parece é que esta política vai funcionar muito mais para baixo do que para cima, porque há um custo político envolvido”, acrescentou.

    O petróleo Brent fechou na terça-feira a US$ 74,91 o barril.

    Por outro lado, o professor da PUC-Rio Edmar de Almeida, considerou que seria positivo se a Petrobras fosse fiel ao que comunicou ao mercado, que levaria em conta o contexto de competição de cada região e definiria suas preço baseado no custo de oportunidade do cliente.

    “Praticar preços competitivos pressupõe respeito ao mercado. Isso é muito diferente de preços definidos apenas pelo custo de produção, que podem desorganizar a cadeia de valor do setor de derivados e etanol no Brasil”, afirmou.

    (Por Marta Nogueira)

    Fonte: Noticias Agricolas