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Pesquisa indica que ILP é capaz de reduzir infestações de caruru na soja

    Pesquisa indica que ILP e capaz de reduzir infestacoes de

    Problema que afeta a produtividade das plantações de soja, a planta daninha conhecida como caruru (Amaranthus hybridus) pode ser melhor controlada quando há a integração das lavouras de verão com a pecuária de inverno. Estudos realizados pela Embrapa, pelo Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul) e pela empresa Três Tentos mostram que o manejo com a implantação do azevém na estação fria pode reduzir em até 90% a infestação do caruru até 12 dias após a semeadura da soja . Isso porque a palha resultante da dessecação da forragem funciona como uma barreira física ao crescimento dessa planta daninha. Em 2018, foi relatada resistência do caruru ao glifosato, principal herbicida utilizado no campo.

    Apresentação de tecnologias para o controle do caruru
    Tecnologias para o controle do caruru serão apresentadas durante a feira agropecuária Expodireto Cotrijal, que acontece em Não-me-toque (RS), entre os dias 6 e 10 de março de 2023. No estande da Embrapa na feira, a pesquisadora Fabiane Lamego apresenta e discute os resultados de pesquisa que avalia o potencial de redução da infestação de caruru em soja a partir da integração com pastagens de inverno utilizadas na pecuária.

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    A pesquisa

    Os experimentos foram realizados na Embrapa Pecuária Sul, em Bagé (RS), entre 2021 e 2022, e basearam-se na comparação de três sistemas: o primeiro com implantação de azevém no inverno e simulação de pastejo, com manutenção da pastagem a 25 cm e posterior dessecação para formar palha; a segunda, com implantação de azevém no inverno e simulação de pastejo mais intenso, mantendo o pasto a 10 cm de altura e posterior dessecação para formação de palha; e uma terceira com preparo convencional da área com aração e gradagem, sem implantação de pastagem de inverno. Todos os modelos foram sucedidos por plantio de soja no verão e avaliação da incidência da planta daninha caruru.

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    O primeiro sistema, com azevém mantido a 25 cm, proporcionou massa seca da parte aérea (MS) equivalente a 4,4 toneladas por hectare (t/ha) em dessecação para a semeadura da soja, enquanto a parcela mantida a 10 cm de altura obteve MSPA de 2,7 t/ ha. Na área testemunha, sem palha/resíduo de pastagem e sem uso de herbicida pré-emergente, foram observadas 69,5 plantas/m² de caruru aos 12 dias após o plantio da cultura. Esse número foi reduzido em 48% na cobertura com 2,7 t/ha de azevém, manejado na altura de 10 cm. O melhor desempenho, porém, foi observado na parcela com azevém manejado a 25 cm e resíduo de 4,4 t/ha, onde houve redução de 90% na infestação de caruru na soja. A mesma situação foi observada na pré-colheita da soja, quando foram contadas 42 plantas de caruru/m² no preparo convencional, contra 12 plantas/m² no manejo com azevém a 25 cm e resíduo de 4,4 t/ha.

    Um estudo anterior avaliando a interferência negativa do caruru mostrou que uma planta dessa espécie pode causar uma redução na produtividade da soja em torno de 4,5% por metro quadrado, no primeiro ano, e de 8,3%, no segundo ano. Ou seja, pode ocorrer uma redução média de 6,4% na produtividade da soja quando o caruru está presente. No levantamento feito na Embrapa, a produtividade da soja também apresentou resultados diferentes em cada sistema. Em ciclo seco no Rio Grande do Sul, o sistema com maior cobertura atingiu 2.400 kg/ha de grãos; o sistema com menor cobertura atingiu 1.600 kg/ha; enquanto na condição de semeadura convencional foram colhidos 969 kg/ha.

    Segundo a pesquisadora da Embrapa Fabiane Lamego, é fundamental manter estratégias de manejo integradas, combinando técnicas como o uso de palha para dificultar o estabelecimento de plantas daninhas e a aplicação de herbicidas pré-emergentes seguindo as recomendações corretas de uso, para evitar o banco de sementes do solo está cheio de plantas indesejadas. Ela também recomenda a prática da semeadura direta, sem mexer no solo, fator que estimula as sementes das espécies daninhas presentes e favorece o estabelecimento do caruru. “A integração de diferentes formas de controle é fundamental para reduzir a pressão de seleção de ervas daninhas resistentes ao controle químico”, informa o pesquisador.

    “O manejo de plantas daninhas resistentes ao glyphosate, no sistema integrado com pastagem no inverno e lavouras no verão, favorece o controle na fase mais crítica (lavouras) e reduz a pressão de seleção para novos biótipos resistentes. Isso porque se tira o foco exclusivo do controle químico e passa-se a aproveitar estratégias de integração conjunta”, enfatiza o professor do IFSul Carlos Schaedler.

    Nos sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP) do sul do Brasil, o cultivo de espécies como azevém e aveia-preta no inverno, para pastejo, seguido de lavouras no verão, já é uma prática muito comum. Entretanto, quando o manejo da pastagem é realizado sob alta intensidade de pastejo (alta carga animal), geralmente ocorre uma abertura de espaço com exposição do solo, o que favorece a germinação e emergência de sementes de plantas daninhas presentes na área. Assim, as plantas forrageiras devem ser manejadas de acordo com as recomendações técnicas de altura para cada espécie (ver aqui publicação sobre manejo de forrageiras por altura)

    “O pastoreio, quando bem executado, respeitando os princípios técnicos, pode ser uma estratégia de apoio no manejo de plantas daninhas em sistemas integrados, reduzindo seu fluxo de emergência no estabelecimento inicial da soja em sucessão”, destaca Lamego.

    “Estratégias integradas de manejo de ervas daninhas dão sustentabilidade ao uso de importantes métodos de controle como o uso de herbicidas; esta, se bem posicionada e com planejamento na rotação dos mecanismos de ação dos herbicidas, tende a controlar com eficiência as plantas daninhas e retardar a evolução para novos casos de resistência”, completa o pesquisador da Três Tentos, Marlon Bastiani.



    Fonte: Noticias Agricolas