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Brasil começa a contabilizar carbono de produtos florestais de madeira

    Brasil comeca a contabilizar carbono de produtos florestais de madeira

    Um estudo inédito da Embrapa Florestas (PR) começou a mensurar dados sobre o acúmulo de carbono em produtos florestais madeireiros (PFM), como madeira serrada, painéis de madeira e papel e papelão, bem como resíduos descartados desses materiais. O primeiro levantamento foi realizado em 2020, tendo como referência o ano de 2016, e contabilizou 50,7 milhões de toneladas de CO2 equivalente no país. O número obtido, apesar de ainda ser considerado pequeno quando comparado a outros países, representa 3,5% do total de emissões de gases de efeito estufa (GEE), e é descontado da conta final de emissões brutas, que podem ser cada vez mais estratégicas para o Brasil.

    Esses dados foram incluídos no Inventário Nacional de GEE enviado à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC). O relatório, publicado a cada cinco anos, apresenta um panorama da implementação no país da chamada Convenção do Clima e tem como um de seus principais componentes a revisão e atualização do Inventário Nacional de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases de Efeito Estufa (GEE) Controladas pelo Protocolo de Montreal.

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    Segundo o pesquisador da Embrapa Florestas Luiz Marcelo Rossi, responsável pela coordenação do relatório sobre a remoção do GFP, a metodologia do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC-2006) estabeleceu modelos, cálculos e dados de referência, como, por exemplo, a densidade de cada madeira considerada e o teor de carbono dos produtos. “A madeira é composta por carbono em torno de 50%, então todo PMF, como um móvel, um livro, uma tábua contém carbono que foi retirado da atmosfera pelas árvores. Desta forma, o carbono permanece armazenado no produto até o início da decomposição e consequente emissão de CO2 após o uso. Assim, a produção e utilização de PMF é uma forma de aumentar a remoção de CO2 da atmosfera, contribuindo para a redução dos efeitos das mudanças climáticas”, afirma Rossi. A contribuição dos produtos florestais para a remoção de CO2 representa cerca de 13% das emissões brutas do setor de Uso do Solo, Mudança do Uso do Solo e Florestas (LULUCF).

    produtos contabilizados

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    Os dados de produção de madeira bruta são obtidos do banco de dados estatísticos da Agência das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e usados ​​nos cálculos do carbono dos produtos florestais. A base de dados possui informações desde 1961, com atualizações periódicas. “Para o cálculo das estimativas de carbono, são consideradas a produção e perdas anuais de madeira, além do descarte de produtos em uso e a taxa de decomposição da madeira, que emite CO2 na atmosfera, obtendo assim o balanço de carbono desses produtos todos os anos ”, explica o pesquisador.

    Para a estimativa final do estoque de carbono dos produtos florestais madeireiros, considera-se a produção de toras destinadas a diversos processos industriais, exceto madeira e carvão vegetal, pois, segundo a metodologia do IPCC, essas categorias geram emissões imediatas de carbono. “A madeira em toro produzida pelos plantios é transformada em três tipos principais de produtos industriais: produção de papel e papelão, painéis, chapas e laminados e madeira serrada”, acrescenta Rossi. Os produtos são contabilizados até essa etapa de beneficiamento, embora a madeira passe por outros processos de transformação, como, por exemplo, painéis que viram móveis, papel para a confecção de livros e madeira serrada para a construção de casas.

    perdas e cálculos

    Depois de colhidas, as toras geram resíduos, que são descartados e, portanto, não considerados na conta de carbono armazenado, como galhos, pontas, raízes e cascas, além de perdas no processamento industrial da madeira.

    Para o cálculo do carbono em produtos, pela metodologia do IPCC, é considerada a meia-vida de cada produto, sendo dois anos para papel e papelão e 30 anos para madeira maciça (serrada) e painéis de madeira. A medida de meia-vida significa que, ao final desse tempo, o produto terá apenas metade do carbono que tinha no momento da fabricação ou retirada da floresta. Para cada ano decorrido desses produtos, também é contabilizada a perda natural de carbono emitida pela decomposição. E todos esses produtos são adicionados à conta, os novos, os existentes e os descartados, que estão se decompondo em aterros e lixões, ou que são reaproveitados/reciclados.

    De acordo com o guia metodológico do IPPC, as estimativas de carbono em produtos florestais podem ser feitas por meio de três abordagens diferentes (mudança de estoque, fluxo atmosférico e produção), cabendo a cada país decidir qual é a mais adequada para elaborar seu inventário de emissões. Isso porque cada um deles é influenciado pelas características de produção, consumo, exportação e importação de produtos florestais de cada país. A abordagem utilizada pelo Brasil para estimar a contribuição dos produtos madeireiros florestais é a do fluxo atmosférico, que favorece os grandes países produtores e exportadores de produtos madeireiros.

    Acumulação e emissão

    O gráfico acima mostra a contribuição dos produtos florestais madeireiros para o setor de Agricultura, Florestas e Outros Usos da Terra (AFOLU). A remoção de CO2 promovida pelos PFMs aumentou muito ao longo dos anos. De 1990 a 2016, a remoção anual variou de -11 milhões a -50 milhões de toneladas, de acordo com a abordagem de fluxo atmosférico. O valor negativo retrata justamente que houve remoção de carbono da atmosfera por esses produtos.

    Edifícios mais sustentáveis

    O aumento do número de produtos florestais madeireiros, além de ser estratégico para o país no balanço final de emissões, é um fator que está ligado a políticas mais sustentáveis ​​que incentivam o uso da madeira. “A madeira é um bem renovável, substituindo outros materiais, principalmente na construção civil onde tem dupla função: além de estocar carbono nas estruturas de madeira, também substitui o aço e o concreto, produtos com alta emissão de CO2 na produção. ”, pontua o

    O uso da madeira em edificações é uma prática antiga e muito comum atualmente, sendo utilizada há várias décadas por países como Canadá, Alemanha, Estados Unidos, Chile, países escandinavos, entre outros de regiões mais frias. No Brasil (São Paulo e Paraná) também existem construções modernas em madeira, que utilizam tecnologia sustentável. Atualmente, a busca por materiais mais sustentáveis ​​e com menor impacto ambiental – que reduzam a emissão de resíduos e o consumo de água – tornou-se uma tendência mundial, o que coloca a madeira em maior evidência no mercado da construção.

    A madeira engenheirada passa por processos industriais que otimizam seu desempenho para uso na construção civil e tem sido utilizada na composição de edificações com dezenas de pavimentos, como o prédio de 85 metros localizado na Noruega. Há países, como a França, que deram um passo além ao tornar obrigatório, a partir de 2022, o uso de materiais naturais, como a madeira, em pelo menos 50% dos prédios públicos financiados pelo Estado. O seu objetivo é continuar a melhorar o desempenho energético e o conforto dos edifícios, ao mesmo tempo que reduz o impacto das emissões de gases com efeito de estufa ao longo da sua cadeia produtiva.

    A tecnologia embutida na madeira engenheirada que está sendo utilizada nas construções atuais traz muita inovação, minimizando as vulnerabilidades da madeira comum. O processo construtivo atual oferece materiais de madeira com maior potência, durabilidade, segurança e resistência a insetos.

    “Nas últimas décadas, priorizamos o uso de tijolos e cimento na construção, o que levou à diminuição da oferta de madeira de florestas nativas.

    Culturalmente, as casas de madeira passaram a ser vistas como casas mais simples ou mais pobres. Essa tendência começa a se reverter com o avanço da arquitetura em madeira e o desenvolvimento de novos sistemas construtivos, com peças industriais”, afirma Erich Schaitza, Gerente Geral da Embrapa Florestas.

    Schaitza enfatiza que cada vez mais o mundo está acordando para a madeira como um material de construção de qualidade com emissões mais baixas do que outros materiais. “A partir de agora, teremos que pensar nos balanços de gases de efeito estufa em todas as nossas atividades e construir casas de madeira de forma sustentável, o que implica manter florestas mais produtivas e armazenar carbono nas estruturas das casas. Estudos como este, que contabilizam o carbono em produtos madeireiros florestais, mostram o lado positivo do uso da madeira”, destaca.



    Fonte: Noticias Agricolas