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Lula pede que América do Sul se una em cúpula, mas ouve críticas à posição…

    Lula pede que America do Sul se una em cupula

    Por Lisandra Paraguassu

    BRASÍLIA (Reuters) – Ao se reunir com os chefes de estado da América do Sul pela primeira vez em nove anos, nesta terça-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu a seus líderes que não deixem que a ideologia os divida, mas ouviu críticas por suas declarações na véspera sobre a situação na Venezuela.

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    “Na região, deixamos que as ideologias nos dividam e interrompam o esforço de integração. Abandonamos canais de diálogo e mecanismos de cooperação e, com isso, todos perdemos”, disse Lula ao abrir o encontro em Brasília.

    “Tenho a firme convicção de que precisamos reavivar nosso compromisso com a integração sul-americana. Por isso convidei a todos para o encontro de hoje, que será seguido, em agosto, pela Cúpula dos Países Amazônicos. Os elementos que nos unem estão acima das diferenças ideológicas”.

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    Criada em 2008, a Unasul está paralisada desde 2018. No ano seguinte, vários países da região – inclusive o Brasil, então sob o comando de Jair Bolsonaro – formaram o ProSul, dissidência de direita criada por governos da época do chileno Sebastián Piñera e o colombiano Iván Duque.

    Os dois blocos estão praticamente abandonados, apesar de Brasil e Argentina terem anunciado em janeiro seu retorno formal à Unasul.

    A retomada do bloco é uma das alternativas, mas nem todos os presidentes da região – ainda hoje ideologicamente divididos – dão as boas-vindas à volta da Unasul. O bloco foi muito marcado pela ideia de governos de esquerda, desde que foi criado em 2008 durante o governo anterior de Lula com os líderes da época da Venezuela e da Argentina, Hugo Chávez e Cristina Kirchner, respectivamente.

    O presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, que decidiu transmitir seu discurso nas redes sociais durante a reunião fechada de presidentes, lembrou que seu país foi um dos que se retirou da organização, mas ao mesmo tempo não queria aderir ProSul, por discordar dos caminhos do bloqueio.

    “Temos que parar com essa tendência de criar organizações, vamos às ações. Chega de instituições. Insisto, vamos usar os mecanismos que temos, as instituições das quais participamos”, defendeu o uruguaio, ao mesmo tempo em que comemorou a “liderança de grandes nações”. e o fato de que o Brasil não está “ignorando seus deveres”. Segundo Lacalle Pou, são necessárias “consequências e resultados positivos”, além de concretos.

    Em seu discurso, Lacalle Pou fez uma crítica direta a Lula, que, na véspera, chamou de “narrativa” as acusações de ações antidemocráticas e problemas com direitos humanos na Venezuela. Lula fez as declarações ao receber o presidente venezuelano, Nicolás Maduro.

    “Fiquei surpreso quando foi dito que o que aconteceu na Venezuela é uma narrativa”, disse Lacalle Pou na mesa de reunião com Lula e o próprio Maduro.

    “Se há tantos grupos no mundo tentando mediar para que a democracia seja plena na Venezuela, que os direitos humanos sejam respeitados, que não haja presos políticos, o pior que podemos fazer é tapar o sol com uma peneira. eles têm e nós ajudamos”, acrescentou

    O presidente do Chile, Gabriel Boric, disse que a questão dos direitos humanos não pode ser “fechada” ou “varrida para debaixo do tapete”, o que, para ele, se refere a princípios importantes. “Não é uma construção narrativa, é uma realidade.”

    Em entrevista coletiva após a cúpula, Lula defendeu sua posição em relação à Venezuela.

    “Sempre defendi a ideia de que cada país é soberano para decidir seu regime político, para decidir que tipo de eleições fará e para discutir assuntos internos”, disse aos jornalistas. “É importante que fiquemos claros, que as mesmas demandas que o mundo democrático faz para a Venezuela, não fazem para a Arábia Saudita. É muito estranho”, argumentou.

    Lula também afirmou que pediu a Maduro para fazer um documento com todos os partidos de oposição e governadores da Venezuela, pedindo respeito à soberania do país.

    Durante a cúpula, Lula defendeu o legado da Unasul e pediu que suas conquistas não sejam esquecidas, mesmo que haja melhorias.

    “A América do Sul tem diante de si, mais uma vez, a oportunidade de trilhar o caminho da unidade. E não é preciso começar do zero. A Unasul é um bem coletivo. Lembremos que ela está em vigor. Sete países ainda são membros É importante retomar o seu processo de construção”, disse.

    “Mas, para isso, é fundamental avaliar criticamente o que não deu certo e levar em conta essas lições. Precisamos de mecanismos de coordenação flexíveis que proporcionem agilidade e eficácia na execução das iniciativas”.

    SEM UNANIMIDADE

    O governo brasileiro apresentou algumas propostas de integração para serem discutidas pelos presidentes. Uma delas é que uma futura entidade, Unasul ou não, abandone a regra das decisões unânimes que a regeu até agora e paralisou boa parte das ações por meses.

    “Nossas decisões só terão legitimidade se tomadas e implementadas democraticamente. Mas a regra do consenso pode se restringir a questões substantivas, evitando que os impasses nas esferas administrativas paralisem nossas atividades”, defendeu Lula.

    A lista de propostas inclui a criação de um mecanismo de compensação comercial mais eficiente e de uma unidade de referência para o comércio regional, reduzindo o uso de moedas estrangeiras para pagamentos internos, bandeira que Lula tem levantado em outros fóruns e com outros países, como a China.

    “Se hoje demos os primeiros passos para a retomada do diálogo como região, o contexto que enfrentamos é ainda mais desafiador do que no passado”, disse Lula. “Enquanto estivermos desunidos, não faremos da América do Sul um continente desenvolvido em todas as suas potencialidades. A integração deve ser um objetivo permanente de todos nós.”

    Fonte: Noticias Agricolas