Melhoramento genético e maior precisão na coleta de dados também foram discutidos em reunião da Câmara Setorial de Cereais
A primeira reunião de 2023 da Câmara Setorial do Trigo de São Paulo, realizada em Paranapanema (SP) no dia 1º de março, destacou as projeções iniciais para a manutenção do volume da safra do trigo paulista, as oportunidades e os desafios que serão encontrados ao longo de do ano no cenário cerealífero em nível nacional e mundial, além de abordar a questão do melhoramento genético do grão como estratégia para que os produtores estaduais obtenham melhores resultados de produtividade e qualidade.
“Esse primeiro encontro da cadeia produtiva do trigo em São Paulo foi muito importante, pois pudemos abordar diversos temas de interesse do setor, como, por exemplo, aferição da safra para números mais precisos com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab ) e o Instituto de Economia Agrícola (IEA)”, aponta o presidente da Câmara Setorial, Ruy Zanardi.
Traçando um panorama sobre o atual contexto do trigo no Brasil e no mundo, o Head de Trigo da Sodrugestvo, Douglas Araújo, afirma que a demanda mundial por alimentos é crescente, o que pressiona a produção de trigo. “Nosso foco hoje é atender a essa necessidade de alimentos enfrentada pelo mundo, e o Brasil tem papel fundamental nesse processo. No trigo, temos todo o potencial para avançar nesse mercado, visto que já estamos aumentando as exportações dessa commodity”.
Safras recordes registradas no Brasil e na Rússia, além da safra da Austrália, que superou as expectativas do país, permitiram uma produção mundial de 784 milhões de toneladas de trigo em 2022/23, segundo o USDA.
Araújo explica alguns fatores que vão influenciar o trigo no mundo em 2023. “Na Ucrânia, aproximadamente um terço de toda a área de produção do cereal é ocupado pela Rússia. Nesse sentido, presume-se que a produtividade e o volume da safra sejam afetados por esse cenário, colocando em dúvida esse importante exportador de trigo”.
“A Rússia teve um ano excelente para suas safras em geral. No entanto, as exportações de trigo começaram de forma mais tímida, com números inferiores a 2021/22. O país precisa acelerar suas vendas externas para atingir o resultado esperado de 43 milhões de toneladas em 2023. Com esse atraso, os preços, principalmente do trigo russo, estão caindo”, detalha Douglas Araújo.
A Argentina, que teve uma quebra de safra intensa em 2022, espera a retomada da normalidade no cultivo em 2023, segundo Araújo. “No entanto, o mercado de trigo argentino mudou devido a essa redução, ficando mais restrito ao Brasil, Chile e Indonésia”.
Trigo no Brasil
A estimativa oferecida pela StoneX indica que 11 milhões de toneladas de trigo foram produzidas no Brasil em 2022. dia a dia”, explica o profissional da Sodrugestvo.
No geral, o volume nacional cresceu com boa qualidade, o que permitiu a chegada dessa commodity a novos mercados, indica Araújo. “No entanto, a demanda por importações não cessou no país. Inclusive, pela primeira vez na história das importações brasileiras, o trigo russo superou o cereal originário dos Estados Unidos, devido aos baixos preços do grão produzido na Rússia”.
Colheita 2023 em São Paulo
Após apresentação de relatórios de cooperativas e produtores de cereais paulistas, tradição das reuniões da Câmara Setorial do Trigo, a projeção inicial para a safra do cereal paulista segue o resultado obtido em 2022 de 500 mil toneladas produzidas. “A questão climática ainda é uma incógnita para o nosso estado este ano e pode fazer com que esse número varie”, alerta Ruy Zanardi.
Um dos pontos reforçados durante o evento foi o melhoramento genético das sementes de trigo ao longo dos anos para a evolução dos resultados quantitativos e qualitativos da produção de trigo paulista. “Questões de estabilidade em condições climáticas adversas e sanidade estão sempre na mente dos produtores. Variedades cada vez mais resistentes, principalmente ao oídio e brusone, são atrativas para os triticultores paulistas”, reforça o Supervisor Comercial da Biotrigo, Deodato Junior.
O Supervisor Comercial da OR Genética, Luan Gustavo, considera que segurança e rentabilidade são dois dos pilares para o trabalho de melhoramento genético de sementes de trigo, que trazem resultados do campo à moagem. “O produtor sempre busca as variedades que oferecem melhor rendimento e, consequentemente, rentabilidade para a lavoura. Características como menor estatura, palha forte, resistência a doenças, tolerância à germinação na espiga e melhor qualidade industrial orientam o trabalho de trazer cultivares cada vez mais modernas e competitivas para São Paulo”.
mapeamento de colheita
Rubia Padilha, profissional da Conab presente ao encontro, reforçou a importância de trabalhar em conjunto com institutos e produtores para uma medição mais precisa do volume da safra de trigo em São Paulo. “As informações e perspectivas da safra são utilizadas para estabelecer políticas agrícolas, envolvendo o Plano Safra, créditos e seguros, por exemplo. Portanto, a precisão desses dados é fundamental para o setor”.
Segundo o representante do IEA, Danton Camargo, o acompanhamento municipal também é importante para o levantamento da safra paulista. “São poucos os estados no Brasil que têm a estrutura que São Paulo tem. É importante aproveitar todas as ferramentas disponíveis, como a Câmara Setorial, para fazer um levantamento cada vez mais preciso do volume de produção”, conclui.
