O RenovaPR (Programa Paraná de Energias Renováveis Rurais), iniciativa do Governo do Estado para estimular a transformação energética do campo, impulsionou sobremaneira a geração própria de energia nas propriedades rurais. Aliado ao Banco do Agricultor Paranaense, programa estadual que permite aos produtores paranaenses investir em energias renováveis com juros reduzidos, houve um casamento perfeito entre a demanda dos produtores e o apoio da administração pública.
Segundo dados da Copel, após o lançamento do programa pelo IDR-Paraná, em agosto de 2021, o número de propriedades rurais com geração própria de energia limpa saltou: de 5.558 ligações à rede para 22.790 em fevereiro de 2023 – quatro vezes mais , ou 17.232 novas conexões. Nessa conta estão os projetos realizados via RenovaPR (cerca de 5 mil) e os da iniciativa privada, fruto dessa onda verde implementada no Interior.
A geração própria de energia limpa pelos agricultores economiza dinheiro, melhora a competitividade dos produtos paranaenses e possibilita uma produção mais sustentável. A divulgação do programa ao agricultor foi realizada pelas regionais e pelos servidores que atendem os produtores no campo. Os técnicos do instituto também foram responsáveis pelo acompanhamento dos projetos, desde a execução até a liberação pela instituição financeira.
Até fevereiro de 2023, os investimentos em energia renovável via Banco do Agricultor somavam mais de R$ 300 milhões e o potencial captado pelo RenovaPR já ultrapassa R$ 1 bilhão. A compensação assumida pelo Estado ocorre por meio do Fundo de Desenvolvimento Econômico (FDE), vinculado ao Fomento Paraná.
Segundo o IDR-Paraná, com base em relatos de produtores, um investimento de R$ 40 mil ou R$ 50 mil no sistema pode reduzir a conta de luz de R$ 6 mil/R$ 5 mil para R$ 68, tarifa mínima exigida. Herlon Goelzer de Almeida, coordenador do programa, afirma que, considerando todo o trabalho de incentivo e conscientização do IDR-Paraná com os agricultores, fica comprovado que o RenovaPR contribui significativamente para os avanços do Estado na transformação de energia.
“São 17 mil novas ligações neste intervalo do programa, mais de 70% de tudo que o Estado tem neste momento de ligações rurais. Elas ocorreram após o lançamento do programa, o que demonstra a força da política pública que sensibilizou milhares de produtores de sua própria geração, mesmo aqueles que não recorreram ao RenovaPR e o fizeram com a iniciativa privada. O agricultor tem consciência de que esse é o futuro e o investimento traz resultados no médio prazo”, afirma.
Para a queijeira Marlei Dias Borges, de São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, a instalação de painéis solares por meio do RenovaPR reduziu a conta de luz e permitiu novos investimentos na propriedade. “Pagava em torno de R$ 700 a R$ 800 por mês de energia elétrica e com a pandemia minha produção diminuiu muito, o que me deixou com dívidas. Hoje tenho o conforto de ter energia ao preço mínimo e estou a pagar o que devia com o apoio do Estado. Isso melhorou minha qualidade de vida e também a qualidade do meu produto, pois posso ordenhar a vaca com a ordenhadora, e não mais manualmente. Ou seja, ganhei em todos os quesitos e ainda tenho um queijo melhor”, completa.
ENERGIA SOLAR – A energia solar é o principal componente dessa transformação, com 22.733 das 22.790 conexões de geração distribuída na rede da Copel. Só em 2022 foram 11.865, o que representa 58% do total, além de 2.561 em janeiro e fevereiro deste ano, o que mostra que a onda continua.
Para a coordenadora regional da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Liciany Ribeiro, a energia solar se tornou uma ferramenta importante para redução de custos para o produtor rural. “A geração distribuída solar fotovoltaica contribui fortemente para o desenvolvimento econômico, social, ambiental, estratégico, energético e elétrico da classe rural. Os resultados do programa RenovaPR comprovam que os produtores rurais estão cada vez mais atentos a esses benefícios”, reforça.
Atualmente, somando todas as instalações, o Paraná é o quarto maior gerador de energia solar do país, atrás apenas de Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul, segundo a Absolar. Em dez anos, o Paraná atraiu cerca de R$ 9 bilhões em investimentos com geração própria de energia fotovoltaica nos segmentos rural e urbano.
Neste ano, o Brasil também entrou, pela primeira vez, na lista dos dez países com maior potência instalada acumulada de fontes solares fotovoltaicas. O país encerrou 2022 com 24 gigawatts (GW) de energia solar operacional. Com o resultado, o Brasil conquistou a oitava colocação no ranking internacional. Segundo a Absolar, a energia solar já representa 11,6% da matriz elétrica do Brasil.
OUTRAS FONTES – Segundo dados da Copel, também foram 53 ligações com biomassa, sete só em 2022, e três com alguma PCH ou CGH à rede da empresa, mostrando que há diversidade no atendimento. Neste último caso, o potencial do Paraná está sendo amplamente utilizado pela iniciativa privada, fora do RenovaPR – de 2019 a 2022, por exemplo, foram inauguradas 17 novas unidades, com capacidade de 178 MW, segundo a Associação Brasileira de PCHs e CGHs.
O Estado tem grandes exemplos de geração com biomassa, como Entre Rios do Oeste, onde prédios públicos municipais são iluminados a partir da energia gerada com dejetos suínos.
Outro exemplo vem de Toledo, também no Ocidente. Emílio Rodolfo Angst utilizou o RenovaPR para gerar energia por meio da produção de biogás. Esse sistema gera economia na conta de luz e também preserva o meio ambiente, pois utiliza dejetos de animais para gerar energia. Com investimento de R$ 2.600,00, o produtor conseguiu instalar a usina de produção de biogás e aumentar sua suinocultura de 1.700 animais para 7.000.
“Já tinha investido em painéis solares, o que gerou uma boa economia, mas quando instalei o programa, o programa ainda não existia. Agora consegui investir no biogás, com subsídio do Governo, o que me permitiu aumentar a produção e vou poupar ainda mais na conta de luz. Até parece um sonho ver minha fazenda crescer tanto de um dia para o outro. Foi uma bênção ter descoberto este programa. Além de conseguir mais animais e melhorar minha produtividade, também estou contribuindo para a preservação do meio ambiente”, acrescenta.
GERAÇÃO DISTRIBUÍDA – Outras fontes oficiais também apontam um novo momento para a geração distribuída no Paraná. Segundo plataforma de Business Intelligence da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), são 159.701 ligações ativas no Estado (na rede da Copel e outras distribuidoras), com destaque para o crescimento dos últimos quatro anos.
O salto foi de 1 ligação em 2012 para 68.573 em 2022. A evolução, ano a ano, foi de 1 em 2012, 2 em 2013, 18 em 2014, 110 em 2015, 543 em 2016, 918 em 2017, 2.835 em 2018, 11.603 em 2019, 21.502 em 2020, 38.229 em 2021 e 68.573 em 2022. O principal salto foi justamente de 2018 para 2019, crescimento de 309%.
A principal fonte no Paraná é a radiação solar, com 159.604 (99%), seguida do biogás (80). O meio rural representa 23.694 ligações nesse universo, ficando atrás apenas do segmento residencial (109.261). Comércio (20.206) vem em terceiro.
NOVA POLÍTICA – O Governo do Paraná já planeja o próximo passo dessa onda verde. Com foco no hidrogênio verde, o governo estadual também estuda uma nova política pública de uso mais intensivo de resíduos agrícolas com vistas à produção de biogás e biometano. Em novembro do ano passado, foi criado um grupo de trabalho e, neste ano, será apresentada a metodologia de aproveitamento racional e eficiente das possibilidades dentro do RenovaPR.
Entre as estratégias está uma parceria com a Compagas, que abre uma boa oportunidade para introduzir o biometano em sua matriz energética, possibilitando a injeção de biometano em gasodutos. Isso, por si só, vai gerar uma grande demanda no setor, cuja principal fonte de geração é justamente o aproveitamento por biodigestão de resíduos das cadeias produtivas de proteína animal e resíduos de agroindústrias e frigoríficos.
A geração de hidrogênio, uma energia renovável, na rota que será estimulada no Paraná, se dará a partir do desdobramento da molécula do metano (CH4), isolando o carbono e ficando com duas moléculas de hidrogênio (H2). O processo é diferente, por exemplo, da rota estimulada no Nordeste do país por meio da eletrólise da água (H20) do mar, com o uso da energia eólica, que gera uma molécula de hidrogênio (H2) e libera oxigênio para atmosfera ou para uso industrial.