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Conhecendo a carne produzida pela pecuária brasileira • Portal DBO

    Conhecendo a carne produzida pela pecuaria brasileira • Portal DBO

    A carne bovina é tratada como mercadoria, ou seja, é, presumivelmente, comercializado indiscriminadamente ou, como diz o jargão popular, vendido como “bica run”. Agora, se conceitualmente deveria ser, na verdade não é verdade.

    Se a carne bovina é diferente ou tem características específicas de acordo com a localização e a anatomia dos cortes de um mesmo boi, como imaginar se seria a mesma, uma vez que veio de dois bois diferentes?

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    Ou se vem de um boi quando comparado a outro vindo de uma vaca? Quem dirá que será o mesmo se vier de bois criados de maneiras diferentes? A carne bovina criada no bioma Amazônia, na região Norte, produzirá carne semelhante à carne bovina criada no bioma Pampa, na região Sul?

    Para o pesquisador da Embrapa Gado de Corte, Guilherme Malafaia, um dos autores do artigo “Afinal, o que é carne bovina produzida no Brasil?”publicado no Boletim CICarne de outubro de 2022, pela Embrapa, “produzimos carne bovina com alto padrão sanitário que nos permite acessar os mais diversos mercados mundiais”. A publicação também foi de autoria dos pesquisadores Gelson Luís Dias Feijó (Embrapa Gado), Sergio Raposo de Medeiros (Embrapa Pecuária Sudeste), Urbano Gomes Pinto de Abreu (Embrapa Pantanal) e Vinícius Lampert (Embrapa Pecuária Sul).

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    No entanto, Guilherme atenta para o fato de que “Nossa carne se caracteriza como um produto ingrediente, cuja utilidade no exterior não captura o valor desejado. Mas temos todo o potencial para produzir carne gourmet para atender mercados sofisticados que pagam melhor. O principal pilar que temos, que é a sanidade”, o pesquisador disse ao repórter Ivaris Junior, da Portal BOD.

    Transformando-se em miudezas – Vale, portanto, de início, no exercício dos pesquisadores, “vamos assumir a carne bovina como mercadoria e, consequentemente, a produtividade uniforme da pecuária brasileira em todo o país, a inexistência de diferenças entre boi e vaca, igualdade entre raças, produção dependente única e exclusivamente do gado e, infringindo todas as leis de logística, a carne distribuída uniformemente o país”.

    “Assim, continuando a caracterização da carne consumida pelo povo brasileiro, podemos dizer que para cada 100 animais consumidos pela população brasileira, 35 são da região Centro-Oeste, 22 do Sudeste, 16 do Sul, 14 do Norte e 13 do Nordeste”destaca o Boletim CICarne.

    Agora, mesmo assumindo que o binômio braquiária/zebu é predominante em todo o Centro-Oeste, em grande parte do Sudeste, em grande parte do Norte, na região do Matopiba (área que inclui partes dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), e no Paraná; “Não seria exagero dizer que cerca de 75% dos animais abatidos têm genética zebuína (principalmente Nelore) e que comem capim-bravo, cerca de três em cada 4 kg de carne consumida”.

    Ainda de acordo com a publicação, colocando o contexto biológico do binômio braquiária/zebu e que os animais sofrem os efeitos da sazonalidade climática, eles só podem chegar ao ponto de abate quando tiverem pelo menos 3 anos de idade. De acordo com as estatísticas de abate, cerca de 40% dos animais abatidos são fêmeas, predominando as vacas de descarte.

    Então, “É fácil chegar à conclusão de que quando os brasileiros comem carne, é de animais criados a pasto. Este seria o modal pecuário brasileiro por algumas décadas, constituindo a chamada pecuária tradicional”.

    Produção com um pé na modernidade – Por outro lado, a cadeia tem à sua disposição sistemas que, embora baseados no binômio braquiária/zebu, contêm elementos de avanço por meio do melhoramento genético, seja selecionando reprodutores e matrizes superiores para características de interesse econômico ou direcionando acasalamentos buscando complementaridade em fenótipos específicos.

    “Ou ainda pelo cruzamento para buscar também a complementaridade entre as raças, avançando no manejo nutricional, como o uso de suplementação alimentar em diferentes fases do crescimento animal, buscando corrigir deficiências sazonais na qualidade e/ou quantidade dos alimentos, ou ainda por meio de práticas como adubação, manejo e irrigação de pastagens, conservação de forragens e uso de confinamentos”.destaca o boletim da Embrapa.

    Assim, a pecuária passou a aplicar uma série de conhecimentos que se tornaram inovação e permitiram o abate de animais muito mais jovens do que a pecuária tradicional, aumentando tanto a produção quanto a produtividade de machos e fêmeas.

    Segundo os autores, isso dificulta a caracterização da carne consumida pelos brasileiros devido à complexidade e variabilidade dos sistemas de produção de carne adotados no Brasil. Em resumo, a carne bovina não poderia ser considerada como parte do grupo das commodities, pois, sem dúvida, a carne bovina não é toda igual.

    “Além de a carne brasileira não ser um produto único em termos de processo de produção e padrão sensorial, para complicar, os diferentes sistemas de produção também não conseguem gerar um produto típico, específico para cada um”.

    O consumidor como alvo final – Ainda não existem métricas ou análises científicas que possam ser aplicadas e que sejam capazes de diferenciar uma carne da outra, a única ferramenta à disposição do consumidor é o histórico associado ou não a selos de garantia ou certificação, aspecto intangível que pode ser útil para agregar valor e atender nichos de mercado, com carne de animais de determinada raça, determinado processo produtivo ou até mesmo de determinada região.

    “A grande questão é se o consumidor conseguirá identificar diferenciais sensoriais suficientes para levá-lo a valorizar essa carne com selo ou se a valorizará apenas por seus intangíveis, sua história e certificado”.

    Malafaia conclui afirmando que é preciso estar atento ao que o setor comunica.

    “Precisamos cada vez mais mostrar nossos processos de produção com transparência, ser rápidos na implementação de sistemas de rastreabilidade do campo à chapa, mostrando ao mundo nossa pegada ambiental e o quanto temos processos sustentáveis. O melhor marketing que existe é vender confiança aos clientes e isso se consegue através do acompanhamento e certificação dos processos”. No exterior, o entendimento é que a carne brasileira carrega a degradação da floresta amazônica.

    Fonte: Boletim CICarne 59, adaptado pelo Portal DBO

    Fonte: Portal DBO