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Como o La Niña impactou os embarques de frutas

    Como o La Nina impactou os embarques de frutas

    Durante o período chuvoso na região do Vale do São Francisco, que compreendeu o período entre 21/outubro e março/22, as chuvas foram 65% superiores à média histórica, acumulando um volume de 500mm. Nesse cenário de chuvas intensas nas fruteiras do Nordeste, o controle do calendário de florescimento e de pragas e doenças foi dificultado, elevando o custo de produção, além de reduzir a oferta e a qualidade dos frutos produzidos na região.

    Essa redução na produção de frutas se refletiu nos resultados das exportações entre janeiro e julho deste ano. No agregado de frutas frescas e derivados, as vendas externas reduziram 11,3% em relação ao acumulado do ano passado. Os destaques que levaram a essa queda no semestre foram maçãs – que não são produzidas no Vale do São Francisco – com queda de 62,4 mil t (-64%) embarcadas no período, seguidas de mangas com redução de 125 mil t, uvas com – 10,1 mil t e mamão com – 5,1 mil t, ambos produzidos na Região Nordeste.

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    Como o La Niña impactou os embarques da indústria

    Nesse cenário de chuvas intensas, reflexo típico do fenômeno La Niña na Região Nordeste, a cultura que teve as maiores quedas nas vendas foi a uva, que além das perdas de qualidade também sofreu a postergação da floração para o segundo semestre. O volume de frutas exportado foi 45% inferior ao acumulado de janeiro a julho de 2021, totalizando 12,4 mil toneladas. Os preços médios também caíram 7% em relação ao mesmo período do ano passado, para US$ 2.112/t(FOB).

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    As quedas de volume e preço também foram observadas no setor de manga, com o volume exportado 13,8% inferior ao período de janeiro a julho de 2021, com embarques totalizando 78,3 mil t. Do lado dos preços, a tonelada média de manga foi cotada a US$ 921, uma queda de 7,6% em relação ao mesmo período do ano passado. Ainda abordando os impactos do excesso de chuvas, a cadeia do mamoeiro também foi severamente penalizada. As exportações de frutas caíram 17% em relação ao acumulado de janeiro a julho de 2021, totalizando 25.200 t nos primeiros 7 meses do ano. No entanto, a baixa oferta da fruta pode ter provocado um aumento dos preços em USD em 23%, com a tonelada cotada em média nos primeiros 6 meses a USD 1.223.

    Na Região Sul, o impacto se deu pela falta de chuva no momento do enchimento e granulação das maçãs. Isso dificultou a oferta de embarques. Além disso, a Rússia, que respondeu por 21% das compras de maçã em 2021, reduziu as importações para menos de 1.000 t. Essa situação derrubou as vendas externas da fruta, de modo que a soma do volume dos sete meses do ano foi de 34,8 mil t, queda de 64% em relação ao mesmo acumulado em 2021. Em relação aos preços, a média as cotações da fruta em dólares também caíram 4,0% em relação ao mesmo período, com uma tonelada de fruta cotada a US$ 716 em média.

    Pontos de atenção para o setor nos próximos meses A cadeia produtiva da fruta enfrentará desafios devido aos impactos gerados pelo clima no Vale do São Francisco e também pela exposição ao mercado internacional com temores de recessão global somando-se ao conflito no Preto Mar. Seguem alguns breves comentários sobre temas que podem impactar as exportações e margens do 2º semestre de 2022:

    • Intercâmbio
    Com o temor da recessão global e os impactos que poderiam ser potencializados na União Européia, o Euro perdeu força frente ao USD, e se continuarem a ocorrer desvalorizações maiores, a receita recebida pelo exportador local poderá ser impactada.

    • Envio
    A combinação de paradas nos portos da China, devido a bloqueios locais, e o aumento dos custos de combustível levaram a um aumento significativo nos preços dos contêineres. Além do aumento de custo, que aperta a margem do produtor, há também o risco de disponibilidade de navios e contêineres no momento dos embarques para o 2º semestre.

    • Recessão global
    Os temores de uma recessão global também aumentam a incerteza sobre o impacto na demanda por frutas brasileiras. Essa possibilidade deve ser considerada, pois uma possível redução das compras externas sem o mesmo movimento da oferta poderia pesar nos preços.

    • Fornecimento doméstico concentrado
    O impacto das chuvas no início do ano ainda deve ser sentido nos próximos meses, já que a concentração da floração e, consequentemente, a oferta de frutos estarão em uma janela de meses bastante apertada. Dessa forma, a disponibilidade de produtos em um período centralizado pode pressionar as cotações e
    afetar as margens do produtor.

    • Clima
    Com os modelos climáticos aumentando a probabilidade de La Niña para os próximos meses, existe a possibilidade de repetição de chuvas intensas na Região Nordeste, o que traz riscos para a produção no período chuvoso.

    conclusões

    O momento é delicado para o cenário de margem do produtor de frutas in natura, uma vez que os custos devem permanecer em patamares elevados enquanto a situação pode ser de preços mais frios, além de incertezas quanto à demanda externa. Uma boa gestão do fluxo de caixa torna-se essencial para
    momentos de volatilidade e margens apertadas. Além disso, uma política de hedge cambial em USD e EUR pode ajudar a mitigar riscos e garantir parte das margens.

    Do ponto de vista mercadológico, a expansão de produtos de maior valor agregado, como uvas e mangas premium no mercado interno, pode ser uma alternativa ao cenário de retração mundial. Vale destacar que a ajuda governamental pode trazer consigo uma injeção de renda que favorece o consumo da população.

    Além disso, manter e fortalecer parcerias com redes de supermercados também pode fornecer subsídios para canais de distribuição e melhores negociações.

    *Dados são da Itaú BBA Agro Consulting



    Fonte: Agro