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Como a reforma tributária vai mudar o dia a dia do consumidor

Aprovada em segundo turno nesta sexta-feira (07) pela Câmara dos Deputados, a primeira fase da reforma tributária vai simplificar a tributação do consumo e mudar a vida dos brasileiros na hora de comprar produtos e serviços.

Cesta básica, remédios, combustível, serviços de streaming de internet (transmissão de conteúdo em tempo real) . Com uma longa lista de exceções e alíquotas especiais, o novo sistema tributário terá impactos variados dependendo do setor da economia. Ao mesmo tempo, pela primeira vez na história, haverá medidas que garantem a progressividade na tributação de alguns tipos de bens, como veículos, e na transmissão de heranças.

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Confira como a reforma tributária vai mudar o dia a dia do consumidor
cesta básica

Item que mais polêmica gerou na tramitação final da reforma tributária, a cesta básica deve ser reduzida quando uma lei complementar definir uma lista nacional de produtos que terão alíquota zero da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS). O impacto final sobre os preços, no entanto, ainda é desconhecido.

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Dias antes da votação da reforma, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) apresentou relatório segundo o qual a cesta básica poderia subir 59,83% em média com a redação anterior da reforma tributária, que reduziu pela metade a alíquota do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) duplo. O estudo, porém, foi contestado por economistas, parlamentares e membros do próprio governo.

Na última segunda-feira (4), o relator da reforma na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), contestou as estimativas. O deputado apresentou um estudo do Banco Mundial, segundo o qual a carga fiscal sobre o cabaz básico cairia 1,7%, em média, com a dupla taxa de IVA reduzida em 50%.

No mesmo dia, o secretário extraordinário de Reforma Tributária do Ministério da Fazenda, Bernard Appy, disse que o novo sistema baratearia a cesta básica. Ele prometeu publicar cálculos que comprovassem a tese, mas não apresentou as estimativas. Pouco antes do início das votações da reforma tributária, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (Progressistas-AL), repetiu as estimativas do estudo do Banco Mundial.

A disparidade nas estimativas ocorre porque atualmente muitos produtos da cesta básica são tributados em cascata, com impostos incidentes sobre o preço na etapa anterior da cadeia, antes de chegar aos supermercados. A atual isenção de tributos federais sobre os produtos da cesta barateia os produtos, por um lado, mas, por outro, evita a utilização de créditos tributários, restituições de tributos pagos em etapas anteriores da cadeia produtiva.

No sistema de IVA dual, a devolução dos créditos tributários, segundo o governo, compensaria a arrecadação de tributos. A dupla taxa de IVA só será definida após a reforma fiscal. O relatório da Abras utilizou uma alíquota de ICMS de 12,5%, metade da provável alíquota plena de 25% estimada pelos economistas, para justificar um eventual aumento no preço da cesta básica.

Com as pressões causadas pelas estimativas da Abras, o relator Aguinaldo Ribeiro modificou o texto e zerou a alíquota para os produtos da futura cesta básica nacional, a ser definida em lei complementar. Enquanto não for definida a nova lista, a alimentação terá IVA reduzido em 60%, em vez dos 50% originais. Produtos fora da cesta básica e insumos agrícolas também pagarão essa alíquota reduzida.

O novo redutor de 60% e a futura alíquota zero devem baratear os produtos da cesta básica, mas o cálculo do impacto final só poderá ser feito quando a reforma tributária entrar em vigor. Itens mais industrializados, com cadeia produtiva mais longa, devem ter maior redução de preços. Alimentos in natura ou pouco processados ​​devem ter uma pequena redução ou mesmo um leve aumento porque terão poucos créditos tributários.

Medicação

O texto aprovado prevê alíquota reduzida de 60% para medicamentos e produtos básicos para a saúde menstrual. Medicamentos usados ​​no tratamento de doenças graves, como o câncer, terão alíquota zero.

Segundo especialistas, a reforma não deve causar grandes impactos no preço dos medicamentos. Isso ocorre por dois motivos. Em primeiro lugar, os medicamentos genéricos estão sujeitos a legislação específica. Além disso, a Lei 10.047 de 2000 estabelece um regime tributário especial para os medicamentos listados pelo Ministério da Saúde.

Combustíveis

A reforma tributária estabelece um regime de tratamento diferenciado para combustíveis e lubrificantes. O IVA dual, com taxa única em todo o território nacional e variável consoante o tipo de produto, será cobrado uma única vez na cadeia produtiva, na refinação ou na importação. A mudança segue uma reforma proposta em 1992.

Segundo o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), a mudança acarretará forte aumento no preço final para o consumidor.

Especialistas, porém, afirmam que o impacto é incerto porque muitos pontos do regime diferenciado de combustíveis serão definidos por lei complementar e a reforma prevê a possibilidade de concessão de créditos tributários. Acresce que o impacto só será conhecido após a definição da taxa integral do IVA dual.

Veículos

A cobrança do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) passará a incidir sobre veículos aquáticos e aéreos, como jatos, helicópteros, iates e jet skis. A reforma também estabelece que o imposto será progressivo, de acordo com o impacto ambiental do veículo. Veículos movidos a combustíveis fósseis pagarão mais IPVA e os movidos a etanol, biodiesel e biogás, e carros elétricos, menos.

Durante as negociações para a reforma tributária, no entanto, foi criada uma lista de exceções para evitar a cobrança de veículos usados ​​na agricultura e serviços. A lista abrange aeronaves agrícolas e aeronaves certificadas para prestar serviços aéreos a terceiros; embarcações de propriedade de pessoas jurídicas com serviços de transporte aquaviário concedidos; embarcações de propriedade de pessoas físicas ou jurídicas que se dediquem à pesca industrial, artesanal, científica ou de subsistência; plataformas que se movem na água sem reboques (como um navio-sonda ou navio-plataforma) e tratores e máquinas agrícolas.

Serviços

A reforma tributária pode encarecer os serviços em geral. Isso porque o setor, sem cadeia produtiva longa, será menos beneficiado com créditos tributários e será tributado com dupla alíquota de ICMS, que pode chegar a 25%, superior aos atuais 9,25% do Programa de Integração Social (PIS) e do a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) incidente sobre as empresas com lucro presumido, situação que abrange a maioria dos prestadores de serviços.

Alguns tipos de serviço, porém, terão alíquota reduzida de 60%. Os serviços de transporte público, saúde, educação, cibernética, segurança da informação e segurança nacional serão beneficiados.

Em audiência na Câmara dos Deputados no final de junho, a Appy afirmou que outros elementos devem compensar o aumento das alíquotas. Primeiro, ele citou o crescimento econômico decorrente da reforma tributária como fator de geração de empregos e negócios.

Além da expansão da economia, Appy afirmou que o fim da tributação cumulativa (tributação em cascata) trará ganhos para as empresas prestadoras de serviços, que poderão utilizar créditos tributários atualmente não utilizados. Ele também citou a simplificação do sistema e a redução dos custos de litígio e investimento como fatores que estimularão os serviços. Na cerimônia de instalação da Comissão Temática de Assuntos Econômicos do Conselho, no dia 4, o secretário disse que a carga tributária de alguns tipos de serviço cairá de 7% para 13% com a reforma tributária.

Na última quinta-feira (6), o Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) divulgou estudo segundo o qual o Produto Interno Bruto (PIB) pode crescer até 2,39% apenas com a primeira versão do relatório de Aguinaldo Ribeiro.

serviços da Internet

Assim como acontece com os serviços em geral, as empresas de streaming de internet pagarão uma taxa mais alta. O mesmo acontecerá com os aplicativos de transporte e entrega de comida. O Ministério das Finanças garante que a redução do preço da eletricidade vai compensar esses aumentos, resultando em pouco impacto para o consumidor.

Fonte: Agro

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