As exportações brasileiras de milho têm apresentado um vigoroso aumento nos últimos anos, impondo importantes mudanças na dinâmica do mercado nacional.
Enquanto na safra 2001/02 o Brasil exportou 2,5 milhões de toneladas, segundo a Secex, nesta safra a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que 37 milhões de toneladas serão embarcadas para o mercado internacional – vale lembrar que o país já embarcou 42,8 milhões de toneladas em 2019, um recorde.
O crescimento das exportações reflete a capacidade do agronegócio brasileiro de aumentar o volume de produção em ritmo superior ao do consumo interno e a preços competitivos no mercado internacional. Essa conquista só foi possível graças aos ganhos de produtividade e à expansão do cultivo de segunda safra, que, por sua vez, está associado a altos investimentos em maquinário, em adubação e correção de solo, em melhoramento genético e adaptações das épocas de plantio.
Para 2022, a maior oferta brasileira, que deve ser recorde, gerará bons excedentes exportáveis em um ano de oferta restrita na Ucrânia, diante de ataques russos e problemas climáticos que afetam a safra de importantes produtores do Hemisfério Norte. Nos Estados Unidos, principal produtor, o clima seco e quente deve afetar a produtividade das lavouras – por enquanto, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) indica queda de 7,7% na produção em relação à safra 2021/22 (relatório de setembro) .
Na Europa, a seca e o calor intenso foram considerados um dos piores das últimas décadas, resultando em reajustes negativos nas estimativas de produtividade das lavouras. No início de setembro, o USDA indicou que a produção europeia deverá diminuir 17,2% em relação à temporada anterior.
Na China, uma forte onda de calor no sudoeste do país atingiu as plantações de arroz e milho. Já para a região do Mar Negro, há uma estimativa de redução de 25,2% na produção este ano. Além disso, apesar da retomada dos embarques pontuais pela Ucrânia, dificuldades logísticas vêm limitando o escoamento de grãos.
Embora as preocupações com a recessão global tenham pressionado os preços desde meados de março, mais recentemente, os fatores climáticos voltaram a elevar os preços. Vale considerar que os dados do início de setembro apontavam para um cenário de redução da relação estoque/consumo final, para 25,8%, uma das mais baixas em nove safras, e tudo indica que essa relação deve cair ainda mais. Além disso, com oferta limitada e superávits nos Estados Unidos, Ucrânia e Argentina, a presença brasileira nas exportações nos próximos meses será importante.
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Estimativas da Conab apontam que, na safra 2021/22, a produção brasileira de milho deve ser de 113,3 milhões de toneladas, gerando um superávit de 46,5 milhões de toneladas, o segundo maior da história – apenas abaixo de 2018/19, quando atingiu 51,3 milhões de toneladas . Para a próxima safra, as estimativas apontam para uma produção de 125,5 milhões de toneladas, o que geraria um superávit de aproximadamente 55 milhões de toneladas, permitindo assim que as exportações continuem crescendo.
Até o momento, o Brasil não exporta milho para os chineses, mas a China pode se tornar um importante parceiro comercial nos próximos anos, dado o recente interesse do país asiático pelo produto nacional. Para que as exportações ocorram, as negociações sobre os aspectos fitossanitários e a regulamentação dos eventos biotecnológicos na produção nacional devem avançar.
Segundo informações do USDA, as importações chinesas saltaram de 7,6 milhões de toneladas na safra 2019/20 para 29,5 milhões de toneladas e 23 milhões de toneladas nas duas safras seguintes, com perspectiva de importar 18 milhões de toneladas em 2022/23. , consolidando-se como o principal importador mundial nos últimos anos.
O maior excedente exportável em um período de escassez de oferta mundial destaca o protagonismo da produção brasileira de milho, contribuindo inclusive para a segurança alimentar em outros países. Para a safra 2022/23, a perspectiva inicial da Conab é de que sejam exportadas 44,5 milhões de toneladas, um recorde.
Por mais que o atual contexto internacional possa ser considerado uma oportunidade para as exportações nacionais, é preciso buscar compradores internacionais. O agronegócio brasileiro consome cerca de 2/3 da produção nacional, ou seja, o excedente é significativo, mas a capacidade de armazenamento é limitada.
Nesse contexto, os compradores do mercado doméstico passam a competir com a demanda internacional por meio de preços. Monitorar de perto a paridade de exportação, a taxa de câmbio e o prêmio de exportação tornou-se uma necessidade. Por sua vez, os preços internos, principalmente na região portuária, também passaram a refletir o comportamento dos valores no mercado internacional, ambiente muito diferente de 20 anos atrás, quando as exportações de cereais eram menos intensas.
Por André Sanches/Pesquisador de Milho do Cepea e Carolina Sales/Analista de Mercado de Grãos do Cepea
Data de publicação: 28/09/2022
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