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Análise mensal | Cana | Março 2023

    Análise mensal | Cana | Março 2023

    Dr. Marcos Fava Neves

    Vinícius Cambaúva

    Patrocinadores

    Victor Nardini Marques

    Reflexões sobre fatos e números da cana-de-açúcar em fevereiro/março e o que vem a seguir em abril

    Patrocinadores

    na bengala, A moagem acumulada no Centro-Sul, referente à safra 2022/23, atingiu 542,5 milhões de toneladas até o final de fevereiro, segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica). O resultado é 3,8% superior ao mesmo período do ano passado; há um ano eram 522,7 milhões de toneladas, ou seja, quase 20 milhões de toneladas a mais neste ciclo. No final de fevereiro, 15 unidades estavam em operação na região Centro-Sul, sendo 4 usinas de cana-de-açúcar e outras 11 de etanol de milho. No mesmo período do último ciclo, havia 9 unidades em operação.

    A avaliação da qualidade da matéria-prima, medido em Açúcar Total Recuperável (ATR)chegou a 141,1 kg/t no final de fevereiro, 1,3% abaixo dos 143,0 kg/t registrados no mesmo período de 2021/22. O mix de produção ficou em 45,9% para açúcar e 54,1% para etanol, safra um pouco mais açucarada (1 pp) que a anterior (2021/22).

    Prestes a iniciar a época 2023/24 (oficialmente a 1 de abril), Unica estima que 18 usinas voltem a operar em março, dependendo das condições climáticas de cada região. A expectativa de maior volume de cana para processamento neste ciclo motivou a antecipação. Por falar nisso, a StoneX elevou a estimativa de moagem de cana-de-açúcar no Centro-Sul na safra 2023/24, de 588,2 milhões de t (previsão janeiro/2023) para 592,1 milhões t (março/2023). A Datagro já fala em 590 milhões de t, 6,9% a mais que 2022/23. A consultoria também indica uma produção de açúcar em torno de 30 milhões de toneladas neste novo ciclo.

    O otimismo para esta próxima safra está relacionado principalmente ao condições meteorológicas positivas (chuvas e temperaturas) que beneficiaram os canaviais nos últimos meses. Por outro lado, vale lembrar que as chuvas podem influenciar na colheita e, conseqüentemente, no início das operações de moagem. Iremos monitorizar diariamente esta vertente, esperando que não haja atrasos.

    No mercado de crédito de descarbonização (CBios), dados da B3 (Bolsa de Valores do Brasil) indicam que até o dia 8 de março foram emitidos 5,84 milhões de créditos em 2023, sendo que a parte obrigada no programa RenovaBio já adquiriu 39,32 milhões de créditos de descarbonização.

    Está em Raízen iniciou a construção de duas usinas de etanol de 2ª geração (E2G) nas unidades Morro Agudo (SP) e Andradina (SP), cada uma das quais deve receber investimentos da ordem de R$ 1,2 bilhão. Com esses anúncios, cinco unidades estão em construção para a produção de E2G no grupo.

    sem açúcar, a produção acumulada entre 1º de abril (2022) e 1º de março (2023) é de 33,5 milhões de toneladas, 4,5% a mais que na mesma data do ano anterior ou 1,44 milhão de toneladas adicionais; os dados também são da União da Indústria de Cana-de-Açúcar, a Unica.

    em relação a mercado externoas exportações de adoçantes somaram 1,15 milhão de toneladas em fevereiro, 43,2% abaixo do resultado de janeiro (2,02 milhões de t) e 33,4% abaixo de fevereiro de 2022 (1,72 milhão de t). Este foi o menor volume para o mês desde 2015 e está relacionado aos maiores embarques nos meses anteriores (negociação feita antecipadamente pelas usinas), além do baixo estoque na entressafra.

    Não acumulado desde 2023 (janeiro e fevereiro), exportamos 3,15 milhões de toneladas de açúcar, 3,1% a mais que no mesmo bimestre de 2022. Desse total, cerca de 28% ou 880 mil toneladas foram destinadas à China, alta de 7,8% nas compras em relação ao mesmo período do ano passado.

    Segundo a FAO (Agência das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), preços médios do açúcar fecharam fevereiro em 124,9 pontos (pelo índice de preços da entidade), alta de 8,1 pp (ou +6,9%) em relação a janeiro; o maior valor desde fevereiro de 2017. O principal motivo para esse comportamento foi a baixa previsão de produção de açúcar na Índia em 2022/23.

    Organização Internacional do Açúcar (IAO) revisou para baixo as projeções para o superávit global de açúcar: de 6,19 milhões de toneladas (novembro/2022) para 4,15 milhões de toneladas (fevereiro/2023), redução de 32,9%. Esse movimento agitou as negociações de adoçantes nos últimos dias.

    Na data de encerramento de nossa coluna, o açúcar bruto na Bolsa de Nova York foi negociado a 20,48 centavos de dólar por libra. Em Londres, foi US$ 580,60/t. No mercado Spot, a saca de 60kg de açúcar cristal branco foi vendida a R$ 132,26 (Cepea/Esalq).

    A recente queda dos preços do petróleo, diante das preocupações com o setor bancário global, tem sido o impulsionador das pressões nas negociações de adoçantes.

    não etanol, em função do maior volume de cana processada e também do crescimento da indústria de etanol de milho, produção atingiu 28,2 bilhões de litros no final de fevereiro, alta de 3,7% ou 1 bilhão de litros a mais, segundo a Unica. Desse total, 16,2 bilhões de litros correspondem ao hidratado (57,5% de participação; e 0,7 a menos que 2022/23) e 12,03 bilhões de litros ao anidro (42,5% de participação; e 10,3% maior).

    Na última quinzena de fevereiro, produção de etanol foi de 149,8 milhões de litros, 26,2% a mais que no mesmo período do ano passado.

    Vale ressaltar que 97,0% desse volume corresponde ao etanol de milho, ou seja, a cadeia tem contribuído para uma maior oferta de biocombustível em períodos de entressafra. No total da safra 2022/23 (até 03/01), foram produzidos 4,0 bilhões de litros de etanol de milho, 26,4% a mais que no mesmo período do ciclo anterior.

    já em relação vendas de etanolacompanhando o comportamento de janeiro, fevereiro fechou com alta de 5,0%: 2,1 bilhões de litros foram comercializados pelas usinas, sendo 1,09 bilhão de litros de hidratado (51,9%) e 999,88 milhões de litros de anidro (48,1%). No acumulado da safra 2022/23 (abril/2022 a fevereiro/2023), comercializamos 15,2 bilhões de litros de hidratado (+0,9%) e 11,6 bilhões de litros de anidro (+16,5%). Dos 26,8 bilhões de litros de biocombustíveis comercializados, 9,0% foram destinados ao mercado externo e 91,0% vendidos no mercado interno.

    Perto do final da safra 2022/23 na região Centro-Sul, O Cepea/Esalq aponta que o preço médio acumulado (abril/2022 a fevereiro/2023) de etanol (São Paulo) foi de R$ 2,8443/l para o hidratado e R$ 3,2444/l para o anidro, 15% inferior à média do mesmo período do ciclo anterior, para ambos. O histórico de preços médios mensais ao longo da safra está em: R$ 3,6273/l em abril/2022; R$ 2,3650/l em set/2022, menor valor em mais de 2 anos; R$ 2,6914/l em fevereiro/2023; e a R$ 2,7130/l nos lotes de março. Agora vamos acompanhar o comportamento com o início da safra e um provável aumento da oferta das usinas.

    1. O ritmo de abertura das operações das plantas da safra 2023/24, que começa no dia 1º de abril. Vale lembrar que, no último ano, o atraso prejudicou o desempenho produtivo durante boa parte da safra. A Unica prevê que pelo menos 18 unidades entrem em operação em março.
    2. Aspecto determinante para o item anterior, monitorar também o clima e as chuvas. Os altos índices pluviométricos prejudicam a operação das máquinas de colheita e, consequentemente, o abastecimento de matéria-prima para a indústria.
    3. Mesmo com o início da safra, é provável que demoremos um pouco para vermos algum impacto do aumento da oferta nos preços do etanol, lembrando, é claro, que existem outros fatores envolvidos na precificação. Mesmo assim, é importante ficar de olho no comportamento do consumo interno e das vendas das usinas, que já acumulam dois aumentos mensais consecutivos em 2023.
    4. No mercado internacional, vejamos as variações do preço do petróleo, que vem apresentando tendência de queda nas últimas semanas. Em 20 de março, as cotações do WTI Crude estavam em US$ 67,54/barril, o menor valor desde agosto de 2021 (no início do mês, em 03/06, atingiu US$ 80,46/barril); O Brent fechou cotado a US$ 73,77/barril na referida data, menor valor desde dezembro de 2021 (em 03/06, a cotação era de US$ 86,18/barril). O alvoroço do mercado financeiro com a crise bancária é o principal fator que justifica essas mudanças.
    5. Por fim, continuaremos monitorando as decisões internas nos ambientes político/jurídicoespecialmente as medidas do novo governo para precificação de combustíveis, taxas de juros, políticas de descarbonização (como a mistura de biocombustíveis) e outras.

    Valor do ATR: o preço do ATR (Açúcar Total Recuperável) encerrou fevereiro com média de R$ 1,1792/kg, alta de 2,0% em relação a janeiro. Relembrando o histórico de preços: iniciamos a safra a R$ 1,2453/kg em abril; fomos para R$ 1,2037/kg em julho; caímos para R$ 1,1079/kg em outubro; e voltamos a R$ 1,1562/kg no mês passado. Com o aumento deste mês, o acumulado para 2022/23 está em R$ 1,1682/kg, bem próximo dos R$ 1,17 que sugerimos aqui nos últimos meses.

    Marcos Fava Neves É Professor Titular (meio período) das Escolas de Negócios da USP de Ribeirão Preto e da EAESP/FGV de São Paulo, especialista em planejamento estratégico para o agronegócio. Acompanhe outras matérias na página DoutorAgro.com, no canal do Youtube e no MarketClub Sicoob Credicitrus, a quem agradeço pelo apoio na elaboração deste texto, bem como pela coautoria do Victor Nardini Marques e Vinícius Cambaúva.

    **Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal Do Campo**


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