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“Afogada” pelo Mercosul, cadeia brasileira do leite está ameaçada

A crise é nacional e grave. É como se os produtores brasileiros estivessem sendo sufocados pela própria produção. Lá fora, o leite está indo bem. Mas dentro do país, o produto, apesar de abundante, perdeu espaço para os vizinhos. Nos primeiros três meses, o Brasil importou seis milhões de litros dos países do Mercosul.

E quando o produto vem de fora, de dentro, o que acontece é um excedente e a consequente queda dos preços ao produtor. É a lei da oferta e da procura. Quanto mais produto, menor o preço, porém, totalmente incompatível com o custo de produção.

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E por que o Brasil tem importado leite? Trazer do exterior é mais barato do que comprar no mercado interno.

Motivos principais:

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1 – A Argentina subsidia 40% da produção local, o que barateia os custos.

2 – Há também diferença de preços entre a matéria-prima brasileira e a fornecida pela Argentina e Uruguai. No Brasil o custo é muito mais alto.

3 – Disparidade nas regras impostas para a produção de leite. No Brasil, as exigências em matéria de legislação trabalhista, tributária e ambiental são maiores.

A crise afecta todos os estados produtores de leite, que estão preocupados com os efeitos. O IBGE mostrou que a produção caiu 5,5% em 2022, devido à saída de muitos da atividade.

PARANÁ

No dia 1º de setembro acontece uma mobilização no Sudoeste do Paraná, onde em 2022 a produção atingiu a marca de 1,8 bilhão de litros. “Recentemente, muitos produtores começaram a reduzir os investimentos – alguns a ponto de interromper totalmente a produção de leite – passando para outros ramos da agricultura ou mesmo saindo do campo para morar na cidade, devido ao alto custo de produção e ao baixo retorno proveniente da venda de leite. Além disso, muitos ainda enfrentam problemas relacionados à falta de infraestrutura e até de pessoal para atuar na atividade”, observa o presidente da Comissão de Agricultura e Meio Ambiente da Associação dos Municípios do Sudoeste do Paraná, prefeito de Vitorino, Marciano Vottri.

Segundo a técnica do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema FAEP/SENAR-PR, Nicolle Wilsek, a disparidade no custo de produção é a principal interferência. “O custo de produção no Brasil, no Paraná, é em média US$ 0,60, enquanto na Argentina, por exemplo, não passa de US$ 0,30 centavos. O custo da alimentação, valor gasto para a produção de grãos, principalmente o milho, principal insumo para alimentação dos animais que produzem leite e cultivam pastagens, é hoje o que mais onera o produtor. Sem falar em energia e mão de obra.

A produção no estado teve baixa queda nos últimos dois anos. Em 2023, até agora, o volume de financiamento permanece estável.

ST. CATARINA

Em Santa Catarina, dada a importância socioeconômica da produção leiteira, o tema mobilizou representantes de diversos setores da cadeia produtiva. Para o Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Epagri/Cepa), esse movimento nas importações não é tão extraordinário como pode parecer à primeira vista. Segundo a analista de Socioeconomia e Desenvolvimento Rural da Epagri/Cepa, Tabajara Marcondes, uma taxa de crescimento tão elevada, na faixa dos três dígitos, tem muito a ver com a redução do volume de importações no primeiro semestre de 2022. estavam baixos. Então, o crescimento percentual acaba mostrando um salto nas importações no primeiro semestre de 2023”, explica Tabajara. Quando avaliadas as importações dos primeiros seis meses deste ano em relação às do segundo semestre de 2022, o crescimento é bem menos expressivo, com índice de 13,8%.

MAS…

Apesar disso, não significa que as importações não tenham influência nos preços dos produtos no mercado interno. Conforme Tabajara, o aumento da oferta de leite pressiona naturalmente os preços para baixo. Em julho, o preço médio recebido pelos produtores catarinenses foi de R$ 2,50 por litro e, pela primeira vez no ano, foi inferior ao recebido no mesmo mês do ano passado, quando o preço médio foi de R$ 3,04 por litro. litro.

RIO GRANDE DO SUL

Dados oficiais mostram que desde 2018, no Rio Grande do Sul, 44 mil pequenos produtores abandonaram a cadeia do leite. Na Expointer, o presidente da Associação dos Criadores de Gado Holandeses do Rio Grande do Sul manifestou sua preocupação. “O copo que estava cheio transbordou”, disse Marcos Tang. De 2022 a 2023, a compra de produtos uruguaios e argentinos aumentou 230%. “Estamos recebendo R$ 2,17 por litro produzido no Rio Grande do Sul. Tem gente vendendo por R$ 1,65 e o custo é R$ 2,25. Nos últimos dez anos passamos de 100 mil produtores no Estado para 30 mil. De 2022 a 2023 perdemos 12 mil”, alertou.

NOIVADO

Uma mobilização visa engajar para reverter o cenário. A Frente Parlamentar da Agricultura tem acompanhado a situação. Pedro Lupion afirmou que foram feitos alguns avanços, como a tributação de produtos e aumentos de alíquotas. Porém, para ele, a resolução do problema permanece distante.

“Acredito que ainda falta fiscalização e rastreamento de como esse leite chega. Há muito leite da Argentina e do Uruguai que é produto da Nova Zelândia e não podemos aceitar isso. Tenho certeza que existe dumping e concorrência desleal e, neste caso, existe a possibilidade legal de bloquear essa importação”, disse.

Sobre a igualdade de condições no Mercosul, o ministro defende o bloco, mas afirma que é indispensável que haja relacionamento entre os governos para corrigir possíveis desvantagens dos produtos, como é o caso do leite.

“O bloco ainda está em construção e obviamente precisa de adaptações e correções de rumo. O que causa uma certa desvantagem precisa ser discutido. o caso do leite é emblemático e vamos trabalhar para que isso não volte a acontecer”, concluiu.

(Com Epagri, FPA)

(Fernanda Toigo/Sou Agro)


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