Pular para o conteúdo

6 Tendências para uma agricultura responsável em 2023, por Aline Locks

    6 Tendencias para uma agricultura responsavel em 2023 por Aline

    Aline Locks é engenheira ambiental, cofundadora e atual CEO da Produzindo Certo, solução que já apoiou a gestão de mais de 6 milhões de hectares de terras, por meio da integração de boas práticas produtivas, respeito às pessoas e aos recursos naturais. Liderou projetos com foco em inovação e tecnologia, como o ‘Conectar para Transformar’, um dos vencedores do Google Impact Challenge Brasil. Recentemente foi eleita pela Época Negócios como um dos nomes inovadores para o clima, é uma das 100 Mulheres Poderosas pela revista Forbes e uma das líderes do agronegócio 2021/2022 pela revista Dinheiro Rural.

    Política, economia, clima, tecnologia. Além dos insumos utilizados no campo, existem muitos outros fatores externos que influenciam nas decisões de quem produz. A cada ano, a cada safra, desenhar cenários, acompanhar a evolução do mercado e pesquisar avanços que possam ser incorporados às boas práticas agrícolas torna-se mais importante para quem busca produzir com responsabilidade.

    Patrocinadores

    A virada de 2022 para 2023 foi particularmente fértil em eventos com potencial de impacto duradouro no agronegócio. A crescente atenção mundial à rastreabilidade das cadeias produtivas de alimentos, por exemplo, esteve em pauta na Conferência Global do Clima (COP 27), em novembro passado, indicando que essa preocupação deve se intensificar nos próximos anos.

    No início de dezembro, a União Europeia enviou um sinal de alerta aos produtores de todo o mundo ao aprovar uma nova regulamentação que proíbe a entrada no bloco de commodities produzidas em áreas desmatadas após 31 de dezembro de 2020. E, no cenário doméstico, a transição de governo traz consigo questionamentos sobre a postura da nova gestão em relação ao setor.

    Patrocinadores

    Apesar das dúvidas que pairam no ar, é possível apontar uma série de tendências que podem orientar decisões e trazer benefícios aos produtores rurais responsáveis ​​em 2023 e nos anos seguintes. Confira seis deles:

    — Recuperação de áreas degradadas: prática crescente no campo, é considerada a melhor solução para aumentar a produção sem a necessidade de avançar sobre áreas com vegetação nativa. Não por acaso, foi um dos primeiros focos de atenção do novo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que em seu discurso de posse anunciou que o governo estuda formas de financiar, com recursos do BNDES, produtores dispostos a restaurar pastagens hoje quase improdutivo. Segundo Fávaro, antes mesmo de sua nomeação, a ideia seria incorporar, a cada ano, “cerca de 5% da área degradada do Brasil”, estimada por ele em até 40 milhões de hectares.

    — Valor pela floresta em pé: Medida provisória editada na última semana do governo anterior abriu uma nova frente para a valorização da produção aliada à preservação da vegetação nativa. Além de abrir a possibilidade de geração de créditos de carbono nos contratos de concessão de florestas públicas, a MP nº 1.151/2022 garante o reconhecimento do patrimônio ambiental da vegetação nativa em propriedades privadas. Assim, proporciona valoração econômica e monetária de florestas preservadas e sua identificação patrimonial e contábil. Com isso, os produtores rurais ganham um importante incentivo para manter suas reservas intactas, diminuindo a pressão por novos desmatamentos, além de poderem incluir essas áreas como garantia em contratos de crédito, por exemplo.

    — Agricultura circular: o reaproveitamento de resíduos da produção agrícola também se estendeu a muitas propriedades. Pesquisadores como o ex-presidente da Embrapa, Maurício Lopes, apontam que esse conceito pode ser ampliado com a incorporação de ideias de economia circular já utilizadas em alguns setores. A biomassa da agricultura, por exemplo, “já pode ser transformada para produzir insumos e matérias-primas de base biológica, como bioenergia, biofertilizantes, biodefensivos, bioaditivos, compostos bioativos, etc.” Desta forma, o setor reduziria a sua dependência de insumos externos, “permitindo o fechamento dos ciclos de nutrientes e reduzindo os descartes e emissões de resíduos no meio ambiente, recuperando equilíbrios críticos perdidos com a economia convencional”.

    — Bioinsumos: aumento de preços, abastecimento irregular, emissão de gases de efeito estufa. A indústria de insumos agrícolas sofreu diversos retrocessos nos últimos anos, o que ajudou a acelerar a busca por alternativas e, consequentemente, o interesse pelos bioinsumos. Com impacto positivo na redução da pegada de carbono das propriedades e na recuperação orgânica do solo, devem estar cada vez mais presentes. Grandes empresas do agromundo multiplicaram suas apostas nessa área e devem investir ainda mais.

    — ClimateTech, tecnologia a favor do clima: Ainda vivemos o período de consolidação das agtechs (empresas de tecnologia voltadas para o agronegócio) e das agfintechs (startups voltadas para a transformação do financiamento agrícola), mas já temos que nos acostumar a ouvir falar sobre climatechs. O novo conceito favorito dos investidores de risco abrange empresas que oferecem soluções tecnológicas para os desafios impostos pelas mudanças climáticas. Naturalmente, várias delas se concentram em sistemas de produção de alimentos, ou seja, no agronegócio. Nos Estados Unidos, as climatechs são atualmente responsáveis ​​pela maior migração de talentos da área tecnológica.

    — Democratização da assistência técnica: a revolução necessária para uma produção responsável passa pelo compartilhamento do conhecimento. A transformação dos modelos produtivos não é possível sem a adoção de boas práticas, com orientação e acompanhamento de profissionais capacitados. São necessários profissionais qualificados para que todos os tópicos anteriores sejam concretizados e, hoje, esse é um gargalo a ser enfrentado. A Produzindo Certo, por exemplo, desenvolveu ferramentas educacionais e tecnológicas para capacitar, gratuitamente, extensionistas rurais interessados ​​em prestar assistência técnica em sustentabilidade para fazendas de diferentes regiões do Brasil. Se não tem como voltar atrás do agro responsável, é hora de cuidar dele para que seja mais rápido e seguro.



    Fonte: Noticias Agricolas