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Veja como o clima afeta a agricultura em São Paulo

    Veja como o clima afeta a agricultura em Sao Paulo

    Não tem para onde correr: onde quer que esteja, o produtor rural é afetado pelo clima. A ausência ou abundância de chuva pode tanto garantir o bom andamento da produção quanto decretar prejuízos e prejuízos econômicos, dependendo da data de ocorrência, intensidade, condições e estágio das lavouras. Além da chuva, as altas temperaturas, o vento e o granizo, entre outras intempéries, como as geadas, têm forte impacto sobre quem trabalha no campo. Os chamados eventos climáticos extremos têm se tornado cada vez mais comuns, e isso faz soar o alarme no campo.

    “É lugar-comum dizer que o clima é um dos principais fatores de risco para o agronegócio, o que transcende a capacidade de manejo dos agricultores. Além de interferir na produtividade, as condições climáticas também podem atrasar etapas importantes como o plantio e a colheita, que alteram todo o ciclo produtivo e consequentemente a vida do produtor rural, seja na agricultura ou na pecuária. Além de comprometer a produção, há reflexos em receitas menores, margens e dificuldades em cumprir compromissos financeiros”, resume Antonio Salvador Consalter, produtor de Santa Cruz do Rio Pardo, coordenador da Comissão Especial de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Energia e membro da Comissão Técnica de Política Agrícola da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (FAESP). O desafio é continuar produzindo, mesmo quando exposto a condições e eventos difíceis de prever.

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    Esse desafio, de enfrentar as mudanças climáticas, está no radar da gestão pública por meio do Plano de Ação Climática 2050 (PAC 2050), criado pelo Governo do Estado de São Paulo com o objetivo de traçar uma trajetória de desenvolvimento econômico sustentável. O Plano procura implementar medidas que permitam limitar o aumento da temperatura, procurando a neutralidade das emissões de gases com efeito de estufa, colaborando com os compromissos nacionais do Acordo de Paris. A ideia é mitigar as emissões até 2050 em vários setores econômicos – inclusive a agricultura.

    vida de produtor

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    A Consalter trabalha com pecuária de corte e grãos em duas fazendas. Em atividade desde meados da década de 1980, já passou por diversos eventos de natureza econômica e climática. Nos últimos anos, as intempéries recorrentes, comprometendo as colheitas, têm sido motivo de preocupação. “O maior impacto do clima nos últimos dois anos foi a ocorrência de geadas nos meses de junho e julho, que foram de médias a severas na nossa região, agravando os estragos e a queda de produtividade que a estiagem prolongada, em 2021, já havia causado. causados ​​nas lavouras e pastagens do Estado”, afirma. O milho safrinha, que tinha potencial de colheita de 82,64 sacas por hectare, foi colhido em 34 sacas por hectare. Em 2022, os meses de outubro e novembro, com temperatura noturna abaixo de 16 graus, implicaram em atraso no plantio da safra de verão da soja e desenvolvimento das plantas abaixo do esperado.

    Neste início de primavera, o clima teve grande influência no desenvolvimento e recuperação das pastagens”, observa o produtor. A ocorrência de chuvas acima da média não trouxe problemas.

    Os acontecimentos de 2022 não foram os únicos fora do comum. Em 2021, a distribuição das chuvas na região também foi atípica. “Houve falta de chuva por praticamente 90 dias no período de junho a outubro, e com geada nos meses de junho e julho. Considero isso inesperado”, avalia Consalter. Ele explica, com base em sua experiência, que existem medidas que contribuem para a resiliência climática de campos e pastagens – ou seja, a capacidade da propriedade de resistir, tanto quanto possível, a intempéries climáticas.

    Agricultura sustentável é aliada

    No plantio de grãos, a Consalter aposta na utilização do plantio direto com rotação de culturas, além de um mix de plantas de cobertura. “A intenção é usar várias espécies diferentes de plantas de cobertura, cada uma com um sistema radicular diferente, função no solo e comunidade de microrganismos, de forma a fortalecer a estrutura física e biológica do solo”, diz. O mix de cobertura é uma prática em desenvolvimento no município e na região de Santa Cruz do Rio Pardo, cujo objetivo é manter o solo protegido, reduzir a perda de água do solo e fornecer nutrientes.

    O uso de irrigação também ajuda. “Principalmente com o uso de pivôs, é possível reduzir o problema de estiagem ou falta de chuva e/ou umidade”, aponta o produtor. Mas é preciso planejamento financeiro, pois o custo desse tipo de solução é alto.

    Na pecuária, ele indica o manejo de pastagens, utilizando pastejo rotacionado, entre outras medidas. “Número de piquetes em função do tipo de forragem, adubação de manutenção e pastagem diferida (piquetes de vedação em maio para serem utilizados a partir de agosto, por exemplo) e, quando possível, integração lavoura-pecuária-floresta”, ensina o experiente pecuarista. Quando isso não ocorre, é possível suplementar no período de inverno, mas os maiores gastos com alimentação do rebanho, cujos custos são elevados, acabam comprometendo o rendimento da atividade.

    A eventual ocorrência de granizo em diferentes épocas do ano é um fator de risco climático, por exemplo, que foge ao controle do produtor. A prevenção, indica Consalter, é recorrer a um seguro rural que tenha cobertura contra os principais riscos climáticos, como ocorrência de seca, geada e granizo, para ao menos reduzir os danos. “O seguro rural é um instrumento de gestão de riscos na agricultura, que garante o produtor em momentos de dificuldades, como catástrofes climáticas e quebra de safra. Porém, as atividades agrícolas exigem e todo produtor deseja ter seguro de produção e renda. Precisamos evoluir para um seguro de renda agrícola (faturamento), que cubra simultaneamente os riscos climáticos (produtividade) e de mercado (preços), porque o que temos hoje é um seguro de produção, que não cobre completamente as necessidades dos produtores, que é garantia de renda ”, diz Consalter.

    compromisso coletivo

    O PAC 2050, formulado pelo governo do estado, aponta uma série de diretrizes para diversos setores produtivos que precisam unir esforços para reduzir a emissão de gases de efeito estufa. É uma responsabilidade coletiva. No Estado de São Paulo, as atividades agropecuárias, florestais e de uso do solo são responsáveis ​​por 28% das emissões de gases de efeito estufa, contra 60% no Brasil. Entre nós, transporte e energia também contribuem muito para o fenômeno, emitindo 29% e 27% dos gases, respectivamente. Resíduos (13%) e indústria (3%) também entram na conta.

    O Governo de São Paulo indica, na agricultura, a implantação de uma agricultura de baixo carbono, com potencial de remoção de carbono por meio da restauração ecológica e melhor manejo do solo, com plantio direto e adoção de insumos menos intensivos. O trabalho também envolve a recuperação de pastagens degradadas e modificação da dieta do gado e melhoramento genético visando à redução da emissão de metano.



    Fonte: Agro