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Soja: “Excesso” a partir de agora será a única oferta disponível no mundo nos próximos…

    Soja Excesso a partir de agora sera a unica oferta

    Os preços da soja no mercado nacional, nesta sexta-feira (3), estão entre R$ 1,00 e R$ 2,00 a saca melhores do que ontem e são momentos como este que os produtores brasileiros devem ficar atentos e aproveitá-los se precisar avance suas vendas, como explica o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, consultor da Brandalizze Consulting. As altas podem parecer tímidas, mas em um momento em que a pressão da colheita de uma grande safra pode se intensificar nas próximas semanas, elas se tornam bastante relevantes.

    “O produtor tem que aproveitar esses picos, porque ainda temos que passar por mais 70 dias de muita turbulência até escoar toda essa soja que vem por aí”, orienta o especialista. Na próxima semana, ainda segundo ele, todo o Brasil deve colher soja – apesar dos problemas que ocasionalmente são registrados, ainda por excesso ou falta de chuvas – e o volume de oleaginosas sendo disponibilizado no mercado deve ser ainda maior.

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    Nos cálculos da consultoria, o Brasil vendeu apenas 35% de sua safra 2022/23 – cerca de 50 milhões de toneladas – o que torna o quadro um pouco mais intenso. Afinal, conforme já registrado pelo Notícias Agrícolas, o esgotamento da logística brasileira diante de um aumento de produção como esse tem sido o principal problema e o principal fator de pressão nas cotações.

    Assim, o volume de soja que deve ser comercializado agora no Brasil, semanalmente, de cinco milhões de toneladas, é de apenas dois milhões. “Na semana do carnaval, o Brasil movimentou apenas 500 mil toneladas. Esta semana estamos no caminho de fechar com algo entre dois milhões, dois milhões e meio, podendo chegar até três. Mas ainda é pouco”, explica Brandalizze. Ele complementa dizendo que de março até o início de junho o país deve negociar cerca de 50 milhões de toneladas para equilibrar o mercado, mas isso pode não acontecer.

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    “E o comprador sabe disso”, diz. A posição um pouco mais confortável torna os negócios mais contidos agora, porém, talvez sem levar em conta que, mais adiante, a única oferta disponível – principalmente para exportadores – deverá ser no Brasil. Os estoques nos Estados Unidos estão bem ajustados devido ao seu acelerado programa de exportação, e na Argentina as perdas de safras se intensificam, com um espaço crescente para produção de oleaginosas de menos de 30 milhões de toneladas devido à estiagem.

    MAIOR SAFRA DO BRASIL NÃO COMPENSA MAIS PERDAS NA ARGENTINA

    “A informação dos últimos dez dias é muito má em termos de colheita”, informa o diretor-geral do Grupo Labhoro, Ginaldo Sousa. “Já se fala abertamente em uma safra abaixo de 30 milhões de toneladas. A soja precoce perdeu 50% e a soja tardia segue a mesma tendência. O que o Brasil está colhendo a mais este ano, em relação ao ano passado, não cobre mais, como conversamos sobre até a semana passada, as perdas da Argentina”, completa.

    Assim, Sousa afirma que esse é um importante pilar de sustentação das cotações da oleaginosa na Bolsa de Chicago, assim como de seus derivativos. A par desse fator está o atraso da safra brasileira, “atrasando embarques nos portos, obrigando a China a comprar soja nos portos americanos”.

    Em seu boletim desta semana, a Bolsa de Grãos de Buenos Aires elevou o índice de lavouras de soja em condições ruins ou muito ruins, desta vez de 60% para 67%. Atualmente, a instituição estima a safra do país em 33,5 milhões de toneladas, mas já considera novos cortes em suas estimativas.

    Segundo dados da Bolsa de Valores de Rosário, a Zona Núcleo, na Argentina, deve produzir apenas 33% do inicialmente estimado para a região e sua projeção, em fevereiro, caiu para apenas 6,5 milhões de toneladas. “Infelizmente não há chuva que permita colocar um piso definitivo na produção. A situação é gravíssima e pode piorar ainda mais. Acredita-se que esta seja a pior safra desde 2008/09”, informa a reportagem da bolsa.

    Argentina - Soja na Zona Núcleo - BCR
    Gráfico: Bolsa de Valores de Rosario

    Os próximos dias devem continuar de clima adverso para a produção agrícola na Argentina com a chegada esperada de uma nova onda de seca e calor no país. E também pela falta de umidade, diversos tratos culturais não foram possíveis e a proteção contra pragas e doenças também estava desatualizada, agravando ainda mais as perdas na safra 2022/23, conforme ilustrado no gráfico abaixo, também da Bolsa de Valores de Rosário.

    Perdas por hectare em soja - Argentina - BCR
    Gráfico: Bolsa de Valores de Rosario

    POUCA SOJA NOS EUA

    Enquanto isso, nos Estados Unidos, o aperto na oferta também é considerável. Com um programa de exportação bastante acelerado, o país já comprometeu 90% do que estima para as exportações do ano comercial 2022/23 – 54,16 milhões de toneladas – e ainda tem mais 24 semanas pela frente do ano comercial. Assim, como explicou o diretor da SIM Consult, Liones Severo, o país só poderá vender cerca de 221,791 mil toneladas por semana até o final da temporada.

    “A análise que se apresenta é se em 28 (54%) semanas das 52 (100%) da safra eles comprometeram 90% do volume em vendas para exportação, quanto vão vender dos 10% restantes do volume nas próximas 24 (46%) semanas para vencer a safra? Potencial de oferta de soja só existe no Brasil”, diz Severo.

    O MAIOR LADO DO COMPRADOR DO MUNDO

    Dos 18 barcos que a China comprou nesta semana até quinta-feira (02), segundo levantamento da Agrinvest Commodities, dois estavam nos Estados Unidos para outubro e o restante no Brasil. A nação asiática olha mais à frente, já que para março está 100% coberta, para abril 60% para maio, perto de 25%.

    “A China está com falta de soja. Nas últimas quatro semanas, embarcou entre o Brasil e os Estados Unidos, 8,4 milhões de toneladas. O problema é que os embarques nos Estados Unidos vão cair a quase zero nas próximas semanas e, no Brasil, não devem pegar muito. A escalação do Brasil por conta da China mais 50% na posição ‘desconhecido’ ainda é muito pequena. Provavelmente, o recebimento de soja na China cairá muito no início de abril, o que continuará derrubando seu estoques internos”, explica o analista do complexo soja, Eduardo Vanin, da Agrinvest.

    Nas últimas três semanas, acrescenta Vanin, os estoques chineses de soja caíram dois milhões de toneladas, para 4,3 milhões.

    Assim, a China sabe que precisa entrar no mercado, ela virá, e continuará buscando o produto mais competitivo, já que as margens do setor não têm sido as melhores até agora. Ainda segundo levantamento da consultoria, “nesta semana, a base de farelo de soja caiu 100 RMB para o spot, março e abril. Para entrega em maio, caiu 20 RMB. As margens não são boas e o processamento provavelmente será menor do que o esperado para o trimestre de fevereiro a abril”, detalha Vanin.

    Como o Brasil vai se encaixar nesse quebra-cabeça é fácil de entender. O acompanhamento será sobre o valor das peças nos próximos meses.



    Fonte: Noticias Agricolas