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Queijo: segredo da cidade mineira contra a seca

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Sumário

1. Introdução

1.1 Contexto histórico de Porteirinha

1.2 A produção de queijo como alternativa econômica

2. A superação da seca e as técnicas utilizadas pelos produtores

2.1 Formação de silagem para garantir a sobrevivência do rebanho

2.2 Estratégias para reduzir gastos e melhorar a rentabilidade

3. O impacto econômico do queijo artesanal em Porteirinha

3.1 A importância do acesso ao microcrédito

3.2 Combate aos atravessadores e busca por certificação

4. Histórias inspiradoras de produtores de queijo artesanal

4.1 Dona Saúde: perseverança na terceira idade

4.2 Dona Rubi: o segredo para vencer a seca

Introdução

O município de Porteirinha, no Norte de Minas, passou por desafios econômicos devido à praga do bicudo e à falta de chuvas que dizimaram a produção de algodão. No entanto, os pequenos produtores de queijo artesanal da região resistiram e hoje colhem os resultados da perseverança. Este artigo explora o contexto histórico de Porteirinha, a importância da produção de queijo como alternativa econômica e as técnicas utilizadas pelos produtores para superar a seca. Além disso, também aborda o impacto econômico do queijo artesanal na região, o acesso ao microcrédito como ferramenta de apoio aos produtores e compartilha histórias inspiradoras de produtores de queijo artesanal.

O município de Porteirinha, no Norte de Minas, já viveu a prosperidade da produção de algodão, que, no fim da década de 1980, foi dizimada pela entrada do bicudo, uma praga do algodoeiro, somada aos efeitos da falta de chuvas.

Desamparados, muitos moradores da região, como a família do casal Fabiano e Sinhá Vitória, do livro “Vidas Secas”, obra emblemática do escritor Graciliano Ramos, se viram obrigados a fugir em busca de sustento na cidade grande ou nas lavouras de cana ou café no interior de São Paulo e em outras paragens de Minas. Mas, entre os pequenos produtores houve os que resistiram. Hoje, colhem os resultados da perseverança, sob a forma da produção de queijo artesanal que se torna não apenas reconhecida, mas premiada.

Eles foram à luta e deram a volta por cima, demonstrando que, com esforço, dedicação e acesso ao microcrédito, a seca pode ser superada. A receita para isso foi a produção de queijo no sistema familiar, atividade que se expandiu em Porteirinha, na chamada região da Serra Geral de Minas. Lá, existem hoje cerca de 800 pequenos produtores artesanais do laticínio que, além de garantir a geração de emprego e renda, se destaca pela qualidade.

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Foto: Divulgação

Prova disso foi que cinco pequenos produtores de Porteirinha conquistaram seis medalhas, das quais três de ouro, no Concurso Internacional de Queijos Artesanais da ExpoQueijo Brasil, principal premiação do setor na América Latina, realizada em Araxá, no Alto Paranaíba, no fim de agosto. A disputa contou com aproximadamente 400 produtores e 1.300 queijos, de quatro continentes.

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O presidente da Associação dos Pequenos Produtores de Queijo Artesanal da Serra Geral (Aproqueijo), Everson Pereira, afirma que foi no cenário de desamparo, diante da derrocada da produção algodoeira, que o queijo surgiu e se expandiu como alternativa no Norte mineiro, aliviando o flagelo da seca. “Com a cultura do algodão destruída pela praga do bicudo, a gente precisou buscar alguma saída para a geração de emprego e renda”, afirma Everson, explicando que a aposta no laticínio ajudou a interromper o êxodo rural.

Ele conta que a criação de gado leiteiro e a produção queijeira ganharam impulso na região há 20 anos. Inicialmente, pequenos produtores da região começaram a vender o leite produzido para laticínios, que, no entanto, pagam um preço baixo pelo produto. Por isso, migraram para a produção de queijo artesanal.

Receita de superação

Mas os produtores de queijo artesanal de Porteirinha tiveram de inovar, com técnicas para viabilizar a atividade em uma área historicamente castigada pelo clima. “Tivemos que lidar com a seca e nos adaptar a ela”, afirma o pequeno produtor e presidente da Aproqueijo. Uma das práticas adotadas na antiga “terra do algodão” é a formação de silagem para garantir a sobrevivência do rebanho.

No curto período chuvoso na região (entre novembro e março), os agricultores mantêm a criação leiteira no pasto, ao mesmo tempo em que plantam lavouras de sorgo e milho. Toda a produção é destinada à formação de silagem, para a manutenção das vacas em lactação ao longo da estiagem (de abril a outubro). A quantidade usada na alimentação é controlada, em torno de 25 quilos por animal/dia, sendo que os produtores mantêm pequenos rebanhos, de, no máximo, 40 cabeças.

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O presidente da Aproqueijo destaca que os produtores do Norte de Minas têm atenção com outro aspecto de suma importância no semiárido: a escassez de água. “Alguns molham plantações de milho, mas, como a água disponível é pouca, usam a microirrigação”, explica Everson, que também foi um dos premiados no concurso internacional em Araxá. No sistema familiar, ele produz cerca de 1.200 peças de
queijo por mês na localidade de Guará, a três quilômetros da área urbana.

Ele salienta que os “queijeiros do sertão” também recorrem a outras estratégias para reduzir gastos e melhorar a rentabilidade do negócio. Uma delas são as compras de insumos – ração, sobretudo – em sistema de cooperativa, que diminui custos, por envolver maiores quantidades no momento da aquisição.
Mas o empreendedor salienta que a superação da adversidade climática exige, acima de tudo, esforço, coragem e fé. “Para vencer a seca, o produtor precisa ir à luta e executar as coisas, acreditando que é preciso romper as dificuldades. Além disso, tem que gostar daquilo que faz”, enfatiza. “Hoje, o pequeno agricultor da região está adaptado à seca”, completa.

Para fugir do atravessador

Everson salienta que, hoje, a cadeia produtiva do queijo artesanal movimenta a economia de Porteirinha, com 90% da produção sendo vendida nas capitais do país. “O queijo sai e o dinheiro da venda volta para a nossa região, gerando emprego e renda”, assegura. O presidente da associação diz que os pequenos produtores de queijo artesanal ainda sofrem com a ação dos atravessadores, principalmente em São Paulo, um dos maiores mercados consumidores. “Na hora de vender, os produtores acabam ficando nas mãos do atravessador. Infelizmente, isso é uma triste realidade em nossa região.” Ederson afirma que a Aproqueijo busca incentivar os pequenos produtores a se certificar e melhorar a qualidade do laticínio, a fim de escapar das garras dos atravessadores. “A gente precisa disso para chegar às prateleiras (dos pontos de venda) que o Brasil oferece para qualquer produtor”, observa.

Vida dedicada ao queijo

Uma das produtoras de queijo artesanal de Porteirinha é Maria da Saúde de Oliveira, ou simplesmente dona Saúde, que, além de vencer a seca, é um exemplo de vigor na terceira idade. Aos 69 anos, ela se dedica à atividade produtiva desde os 22, e batalha pela melhoria da qualidade do tradicional produto mineiro. Como reconhecimento, ostenta nada menos que duas medalhas de ouro conquistadas no concurso em Araxá. “Eu me sinto muito gratificada de produzir o queijo, faço com muito amor. Saber
que fui reconhecida é motivo de muito orgulho”, diz dona Saúde.

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Há seis anos, ela perdeu o marido, Deraldino Rodrigues, com quem teve e criou três filhos. Não desanimou. Mantém o negócio com a filha, Deisiane Oliveira, de 47, e o neto Lucas Silva Oliveira, de 17, na pequena propriedade da família, na localidade de Olhos D’água, a 6 quilômetros da área urbana de Porteirinha. Dona Saúde mantém 40 vacas, recorrendo à silagem durante a estiagem, com produção diária de 500 litros de leite que resultam em cerca de 1.200 quilos de queijo por mês ou 50 quilos por dia.
Outra representante da garra dos produtores da região é Rubnei Santos Gomes, a dona Rubi, que trabalha no sistema familiar com o marido, Regino Rodrigues da Silva, e dois filhos – Regino Júnior e Otávio. Desde 2020, o casal conseguiu a certificação do queijo que produz.

Dona Rubi usa a silagem e suplementos para manter 15 vacas na estiagem. A produção diária de 200 litros de leite resulta em 22 peças de queijo por dia. “O segredo para vencer a seca é ter persistência e acreditar naquilo que a gente faz”, testemunha a pequena produtora.

Apoio e crédito

Os pequenos produtores de queijo artesanal do Norte de Minas contam com uma importante ferramenta para manter e impulsionar o negócio: o acesso ao microcrédito. A relevância do financiamento é enaltecida pelo presidente da Associação dos Pequenos Produtores de Queijo Artesanal da Serra Geral (Aproqueijo), Everson Pereira. “O acesso ao crédito é essencial para atividade produtiva no semiárido.”

Pequenos financiamentos aos produtores da região são oferecidos pelo Banco do Nordeste, por meio do Programa de Microcrédito Agroamigo. O banco público informa que atende a 1.100 agricultores, com empréstimos que oscilam entre R$ 8 mil e 20 mil e carência para pagamento de um a dois anos. Os recursos são liberados para demandas como compra de matrizes, insumos e tanques de resfriamento.
Uma das contempladas com o microcrédito é Eduarda Barbosa Santos, de 28, produtora de queijo artesanal também premiada no concurso em Araxá. “O microcrédito é um valioso instrumento de apoio para o empreendedor que não tem capital próprio e precisa investir na melhoria do seu negócio”, afirma ela, que trabalha em parceria com o pai, João Custódio dos Santos, de 65 anos, em propriedade com 14 vacas em lactação.

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Os “queijeiros também aprimoram a atividade em cursos de capacitação, palestras, treinamentos e “dias de campo”, promovidos com o apoio de entidades parceiras como a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), o Sebrae Minas e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). A analista do Sebrae Minas Cleris Cristina Bibbo, que atua na região, orienta os agricultores a ficarem atento aos impactos das adversidades do clima no custo de produção, sobretudo, quanto á alimentação do rebanho, para evitar prejuízos. “Conhecer bem os custos e utilizar ferramentas de gestão financeira, ainda que
simples, permitem ao produtor uma apuração melhor dos seus resultados”, observa. “Na parte comercial, ter uma carteira de clientes consolidadas permite a redução dos impactos negativos nas vendas”, sugere a especialista.

Fonte: www.milkpoint.com.br

ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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O município de Porteirinha, localizado no Norte de Minas Gerais, já teve um passado próspero na produção de algodão. No entanto, nos anos 80, a região foi devastada pela entrada do bicudo, uma praga que afetou as plantações de algodão, combinada com a falta de chuvas. Isso levou muitos moradores, como a família do casal Fabiano e Sinhá Vitória, personagens do livro “Vidas Secas” de Graciliano Ramos, a deixarem a região em busca de sustento nas cidades maiores ou nas plantações de cana-de-açúcar e café em São Paulo e em outras partes de Minas Gerais.

No entanto, entre os pequenos produtores da região, houve aqueles que resistiram. Hoje, eles estão colhendo os frutos de sua perseverança na forma da produção de queijo artesanal, que não apenas é reconhecido, mas também premiado. Eles mostraram que, com esforço, dedicação e acesso ao microcrédito, é possível superar a seca. A produção de queijo se tornou uma alternativa para enfrentar a crise agrícola causada pela praga do bicudo. Atualmente, existem cerca de 800 pequenos produtores artesanais de queijo em Porteirinha.

A qualidade do queijo artesanal produzido em Porteirinha ficou evidente quando cinco pequenos produtores conquistaram seis medalhas, incluindo três de ouro, no Concurso Internacional de Queijos Artesanais da ExpoQueijo Brasil. Esse concurso é a principal premiação do setor na América Latina e contou com a participação de aproximadamente 400 produtores e 1.300 queijos de diversos continentes.

Everson Pereira, presidente da Associação dos Pequenos Produtores de Queijo Artesanal da Serra Geral (Aproqueijo), destaca que o queijo se tornou uma alternativa viável para a geração de emprego e renda na região, após a crise no setor algodoeiro. Inicialmente, os pequenos produtores vendiam o leite para laticínios, que pagavam preços baixos pelo produto. Por isso, eles migraram para a produção de queijo artesanal.

Os produtores de queijo artesanal de Porteirinha tiveram que inovar e encontrar técnicas para viabilizar a atividade em uma região com histórico de clima adverso. Uma dessas técnicas é a formação de silagem para garantir a alimentação do rebanho durante a estiagem. Além disso, eles utilizam a microirrigação devido à escassez de água na região.

Apesar dos desafios, os produtores de queijo artesanal de Porteirinha conseguem melhorar a rentabilidade do negócio por meio de estratégias como compras coletivas de insumos, que reduzem os custos. No entanto, a superação da adversidade climática requer principalmente esforço, coragem e fé.

Atualmente, a cadeia produtiva do queijo artesanal movimenta a economia de Porteirinha, com 90% da produção sendo vendida nas capitais do país. No entanto, os pequenos produtores ainda enfrentam dificuldades com os atravessadores, principalmente em São Paulo, um dos maiores mercados consumidores. A Aproqueijo busca incentivar os produtores a melhorarem a qualidade do queijo para poderem acessar mais pontos de venda e fugirem da dependência dos atravessadores.

Entre os produtores de queijo artesanal de Porteirinha, destacam-se Maria da Saúde de Oliveira, dona Saúde, que conquistou duas medalhas de ouro no concurso em Araxá, e Rubnei Santos Gomes, dona Rubi, que obteve a certificação para o queijo que produz. Ambas são exemplos de dedicação e persistência, enfrentando a seca e melhorando constantemente a qualidade do produto.

Os pequenos produtores de queijo artesanal do Norte de Minas contam com o apoio do microcrédito para impulsionar seus negócios. O Programa de Microcrédito Agroamigo do Banco do Nordeste oferece empréstimos para agricultores da região, permitindo a compra de insumos e melhorias nas propriedades. Além disso, os produtores participam de cursos e treinamentos para aprimorar suas técnicas de produção.

Em resumo, os pequenos produtores de queijo artesanal de Porteirinha enfrentaram a crise na produção de algodão e encontraram no queijo uma alternativa viável para geração de emprego e renda. Com esforço, inovação e acesso ao microcrédito, eles superaram a seca e hoje são reconhecidos nacional e internacionalmente pelos seus produtos de qualidade.
Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal Do Campo

Conclusão

Em Porteirinha, no Norte de Minas, a produção de algodão foi dizimada pela praga do bicudo e pela falta de chuvas, levando muitos moradores a fugirem em busca de sustento. No entanto, alguns produtores resistiram e encontraram na produção de queijo artesanal uma alternativa de sobrevivência. Hoje, eles colhem os frutos da sua perseverança, com a produção de queijo reconhecida e premiada. Com esforço, dedicação e acesso ao microcrédito, eles provaram que a seca pode ser superada.

Perguntas e Respostas

1. Qual foi o impacto da praga do bicudo na produção de algodão em Porteirinha?

A praga do bicudo dizimou a produção de algodão em Porteirinha, levando muitos moradores a abandonarem a atividade.

2. Como os pequenos produtores de Porteirinha resistiram à seca?

Os pequenos produtores de Porteirinha encontraram na produção de queijo artesanal uma alternativa de sustento durante a seca.

3. Como a produção de queijo artesanal em Porteirinha se destacou?

A produção de queijo artesanal em Porteirinha se destaca pela qualidade, sendo reconhecida e premiada internacionalmente.

4. Quais foram as conquistas dos pequenos produtores de queijo artesanal de Porteirinha no Concurso Internacional de Queijos Artesanais?

Cinco pequenos produtores de Porteirinha conquistaram seis medalhas, sendo três de ouro, no Concurso Internacional de Queijos Artesanais.

5. Quais são as estratégias adotadas pelos produtores de queijo artesanal de Porteirinha para enfrentar a seca?

Os produtores de queijo artesanal de Porteirinha adotaram técnicas como a formação de silagem e a utilização de microirrigação para enfrentar a seca.

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