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Produtor de carne bovina começou descapitalizado em ano de maior oferta, exportações estáveis ​​e consumo interno incerto – Money Times

    Produtor de carne bovina comecou descapitalizado em ano de maior

    As importações chinesas de carne bovina podem sofrer com a Covid e uma economia mais lenta em 2023 (Imagem: China REUTERS/Tingshu Wang)

    Pelo consenso das análises, o ano da pecuária de corte já é marcado por dois dos mais importantes fundamentos do setor que se acentuaram no final de 2022. E que, na perspectiva mais conservadora, distribuirão desafios para toda a cadeia.

    As exportações não vão mexer muito nem em volume nem em preços. Não vão causar prejuízos aos frigoríficos, porque, afinal, não se espera redução, mas as margens de lucro serão menores.

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    Para os pecuaristas, o excedente de animais se repetirá com maior intensidade em relação ao ano passado, quando começou a virada do ciclo da pecuária, com menor retenção de fêmeas. Haverá mais matéria-prima para o abate.

    Vale destacar, por exemplo, que boa parte do gado que vai morrer este ano nasceu em 2021, quando os criadores investiram em inseminação artificial em cerca de 26% das matrizes bovinas, destaca Hyberville Neto, da HN Agro. Contribui para o excesso do plantel.

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    Mesmo que um animal chegue mais cedo ao mercado e com qualidade genética – o que é típico do investimento em inseminação -, não terá garantias de boa remuneração, acrescenta o consultor.

    A terceira base da cadeia – e que, a rigor, é a principal por representar cerca de 70% do abate do gado – ainda é incerta. Consumo doméstico, o maior desastre de 2022.

    Thiago Bernardino de Carvalho, analista do Cepea, chama a atenção para um ponto que marcou os últimos 12 meses, mas que, buscado em 2021, reproduz uma primeira incerteza para os próximos meses.

    Inflação

    A inflação do ano retrasado – 10,06%, segundo o IPCA – foi carregada pelos consumidores nos meses seguintes, que “ajustaram seus gastos”. No último semestre, o custo de vida caiu com a artificialidade da redução dos impostos sobre os combustíveis, levando o índice acumulado desde janeiro para 6,47%.

    A inflação deve ser contida nos dois primeiros meses, pelo menos, enquanto durar a isenção da gasolina. A do diesel e do biodiesel deve durar o ano inteiro, segundo a primeira medida do presidente Lula. O Bolsa Brasil foi garantido em R$ 600 e novas transferências de renda não estão descartadas.

    Entretanto, como o mercado financeiro irá precificar esse desequilíbrio fiscal e qual será o comportamento do Banco Central independente, em relação às taxas de juros, bem como o comportamento de defesa das empresas em relação à geração de empregos, permeiam essa agenda.

    O problema é que a queda de preços dos últimos seis meses compensou demais os primeiros seis. Com isso, o produtor fica menos capitalizado daqui para frente e com custos de produção que não apresentam flexibilidade extra, apesar das boas safras de soja e milho (safrinha, inverno). Portanto, a melhor relação de troca ainda não está no horizonte, embora possa haver ganhos de reposição a partir do bezerro baixo.

    Até por volta da penúltima semana de dezembro, o boi gordo caía 15,75% deflacionado pelo IGP-DI, no acumulado de 2022. No atacado, cálculo do analista do Cepea e professor da Unesp era de -11,25% na carcaça casada (quarto traseiro , quartos dianteiros mais bordados).

    Exportações

    A questão das exportações vai aumentar a pressão porque o ganho de demanda esperado até dezembro não pode passar de 3%. Não será, se confirmado, um dado totalmente ruim, argumenta Hyberville Neto, mas aliado aos fatores descritos, deixará os frigoríficos pressionando.

    Em 2022, as vendas externas bateram recordes. Os números totais, entre carne in natura e processada, devem sair nos próximos dias, mas serão recordes. Só o produto in natura foi praticamente igual a tudo o que foi exportado em 2020, pouco mais de 2 milhões de toneladas, com US$ 11,7 bilhões.

    Sobre 2021 (1,560 milhão/t, entre in natura e processado) não haveria dúvidas de que os números seriam bem maiores, já que a China estava sem compras no último trimestre.

    Mas o presidente da HN Agro atentou para dois aspectos, que podem atenuar a pouca esperança depositada na China depois que o país voltou a importar assim que o Ano Novo Lunar (entre o final de janeiro e o início de fevereiro) passou. Vale destacar que o principal destino da carne brasileira já vem renegociando os preços para baixo e às voltas com a situação de covid, além de transferir a desaceleração do crescimento de 2022 para 2023.

    Hyberville Neto deposita expectativas, certamente como os grandes frigoríficos, de que Coreia do Sul e Japão possam liberar importações do produto brasileiro. “Eles são grandes compradores e, juntos, representam mais ou menos metade do que a China compra”, diz.

    Uma nova autorização de planta para os Estados Unidos, hoje o segundo destino, também está no radar. Se confirmado, possivelmente seria do Frigol, quarto grupo exportador brasileiro e que está em estágio avançado de negociações com os americanos.

    Essas duas janelas se tornariam mais fortes em 2024, mas deixariam o mercado mais vendido em 2023.

    Fonte: Noticias Agricolas