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Primeiro semestre de 2023 termina com oferta e custo de carne suína ajustados…

    Suinocultura sustentavel confira as acoes realizadas na suinocultura

    Os dados de abate do primeiro semestre de 2023 ainda não foram divulgados, mas preliminarmente é possível afirmar que houve uma desaceleração considerável no crescimento da produção que, aliada aos altos volumes de exportação, determinou um ajuste na oferta de carne suína no mercado interno. No entanto, como apontado adiante, a dinâmica das demais carnes tem limitado a alta dos preços pagos aos produtores de suínos.

    As exportações no primeiro semestre de 2023 foram recordes para o período (Tabelas 1 e 2), tanto em toneladas de carne suína in natura quanto em receita, com um total de 526,3 mil toneladas (+15% que 2022) que geraram US$ 1,32 bilhão em receita (+27,5% que 2022).

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    Ao analisar o destino das exportações brasileiras de carne suína in natura no primeiro semestre de 2023, em relação ao mesmo período do ano anterior (Tabela 2), além do crescimento dos embarques para China e Hong Kong em volume e preço, destaca-se a consolidação das Filipinas como terceiro destino e o crescimento dos volumes para Chile, Uruguai e Japão. Com 39% do total, a participação percentual da China se manteve praticamente no mesmo patamar do ano passado, indicando que o processo de “pulverização” das exportações iniciado em 2022 se estabilizou, mas a dependência da China está bem abaixo de 2021, quando representou mais de 57% do total exportado entre janeiro e junho.

    suinocultura abc suinocultura 1 semestre mesa 2

    Diante desse cenário de reduzida disponibilidade interna, era de se esperar uma reação significativa nos preços de suínos vivos e carcaças, porém, o que se observou de março a meados de junho foi uma queda gradativa dos preços médios (gráfico 1), com eventuais reações de preços que tiveram o último ciclo de alta iniciado na segunda quinzena de junho, mas de forma tímida e ainda sem suporte (gráfico 2).

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    suinocultura abc suinocultura 1 semestre tabela 3

    Sem dúvida, um dos fatores que impede a alta dos preços da carcaça suína é a correlação de preços com outros tipos de carne. A competitividade do preço da carcaça suína em relação à carcaça bovina pode ser medida pelo spread entre as duas, que no passado recente chegava a mais de 150%, e que em jul/23 (até o dia 18) está em torno de 71,7% (tabela 3), a menor diferença do ano. No que diz respeito ao frango, a situação também determina menor competitividade da carne suína, com maior diferença percentual no preço da carcaça suína em relação à carcaça resfriada de frango neste mês de julho.

    Ou seja, em julho de 2023, a carcaça suína não está tão mais barata em relação à carcaça bovina e está ainda mais cara em relação à carcaça de frango em relação aos meses anteriores de 2023 e em relação à média de 2022 (tabela 3). Esse spread não necessariamente se mantém no varejo, mas é fato que qualquer alta no preço da carcaça suína, com frango e boi baratíssimos, não se sustenta por muito tempo, a não ser que haja um grande descompasso entre oferta e demanda em favor desta última.

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    Um importante alento para o setor é que o segundo semestre é historicamente um período de maior demanda e melhores preços da carne suína, e neste ano todos os indicadores (produção, exportação e disponibilidade interna) apontam para que essa tendência se concretize, permitindo, juntamente com custos de insumos mais baixos do que no início do ano, margens financeiras muito melhores para os suinocultores daqui até o final do ano.

    Supersafra de milho mantém custos baixos, mas gripe aviária no Brasil e safra do Hemisfério Norte são ameaças

    A Tabela 4 apresenta o último levantamento de safra da CONAB divulgado em 13/07, cuja estimativa para a segunda safra de milho (em processo de colheita) é de 98 milhões de toneladas, totalizando 127,7 milhões de toneladas na safra 2022/23; quase 2 milhões a mais do que a pesquisa publicada no mês anterior. Algumas instituições que fazem estimativas de safra preveem um volume ainda maior do que a Conab: o Rally das Safras acredita que serão colhidas cerca de 107 milhões de toneladas de milho e a MBagro estima 105 milhões de toneladas, só nesta segunda safra, que deve ser colhida até agosto. Se essas previsões se concretizarem, o total da safra de milho 2022/23 ultrapassaria 135 milhões de toneladas.

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    O fato é que, mesmo com mais da metade do milho segunda safra ainda sem colheita, o mercado já precificou essa grande oferta esperada, com preços estáveis ​​desde o início de junho (gráfico 3).

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    Ao analisar a relação de troca do suíno vivo com os principais insumos (milho e farelo de soja), que no mercado mineiro, em maio/23 ultrapassou 5, em julho/23 (com médias até 19/07), atingiu o maior valor dos últimos anos, chegando a 5,77 (gráfico 4), ou seja, um kg de suíno vivo adquire 5,77 kg de um MIX com 76% de milho e 24% de farelo de soja. Lembrando que uma relação de troca maior que 5, em fazendas com boa produtividade, garante margem positiva na atividade.

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    É importante destacar que os custos e a relação de troca são baseados na cotação média do mês. No entanto, os animais abatidos em determinado período “carregam” o custo dos meses anteriores, além disso, o valor médio real dos insumos estocados ou mesmo adquiridos antecipadamente pelos suinocultores são diferentes do “preço do dia”. Portanto, há um “atraso” de alguns meses entre a queda dos preços do insumo no mercado e o efetivo reflexo nos custos de produção.

    Como o Brasil é um dos maiores exportadores de milho do mundo, é preciso estar atento ao que está acontecendo no mercado internacional para antecipar as oscilações de preços no mercado interno, pois se houver pressão para comprar milho brasileiro do exterior, o preço pode voltar a subir significativamente. Neste momento, dois países, grandes exportadores de grãos, merecem destaque por diferentes motivos: os Estados Unidos, que ainda tem em risco parte da safra de milho e soja a ser colhida em outubro, e a Ucrânia com notícias recentes de bloqueio nos corredores para o escoamento de grãos pela Rússia.

    Por outro lado, a dinâmica de outras cadeias de proteína animal pode limitar os aumentos dos preços da carne suína. O mercado da carne bovina, mesmo na entressafra, não dá sinais de mudar o viés para um aumento significativo de preços e a avicultura enfrenta a presença do vírus da Influenza Aviária em território nacional, cuja notificação em aves de “quintal” já resultou na suspensão das exportações para determinados destinos.

    Considerações finais

    Para o presidente da ABCS, Marcelo Lopes, “o segundo semestre traz a boa expectativa sazonal de demanda por carne suína, que neste ano, aliada à queda dos custos de produção, determinada por uma super safra de grãos (milho e soja), certamente trará margens positivas ao suinocultor. Porém, a gripe aviária, a baixa carne bovina, o agravamento da guerra na Ucrânia e uma possível queda significativa na safra americana podem afetar os custos de produção e/ou o preço pago ao produtor”, finaliza.

    Fonte: Noticias Agricolas