Como regra básica de negociação, a pesquisa de preços antes de uma compra – ou venda – pode representar uma importante economia no seu orçamento. Especialistas apontam que consumidores que pesquisam com frequência os valores de produtos e serviços são menos suscetíveis a grandes variações, pois conseguem distinguir quando um produto é, de fato, mais barato ou mais caro, já que a precificação no varejo é muito dinâmica.
No agronegócio, as compras de insumos e maquinários atingem cifras astronômicas. As informações divulgadas nem sempre são precisas, devido a questões de segurança do produtor rural, que precisam ser levadas em consideração, e às particularidades das negociações realizadas, que envolvem uma série de variáveis - como quantidades vendidas, formas de pagamento ou tempo de relacionamento entre vendedor e comprador. Dentro dessa realidade, as divulgações mais comuns são as estimativas de intenção de compra do mercado atacadista, com dados como preços mínimos e máximos, médias estaduais ou segmentados por região.
Esse ambiente tão específico começa a mudar, com o lançamento de uma plataforma colaborativa de compartilhamento de preços, focada no agro. No ar desde janeiro, o CampoValor oferece a busca de valores dos mais variados produtos agrícolas, desde sementes e defensivos até arames para cercas, além de diversos maquinários, com opções detalhadas de busca, como por produto ou região. Os gestores revelam que, com o uso da ferramenta, é possível perceber uma diferença de até 40% nos preços de alguns insumos, em datas e locais próximos entre si.
“Em uma cidade próxima, o valor pode ser bem menor do que você está pagando, por isso nossa plataforma interessa e traz benefícios para todos os segmentos. Para o produtor, é vantajoso saber os valores que estão sendo praticados e comparar se ele vem fazendo boas compras. Além disso, ele agora tem mais argumentos para negociar com o vendedor e, quem sabe, chegar a valores mais interessantes. O distribuidor, por outro lado, pode ampliar sua base de consumidores, pois quando alguém faz uma busca e encontra um preço atrativo, como resultado ele será procurado espontaneamente”, explica Ian Linares, CEO e fundador da startup. Ele acrescenta que ter maior visibilidade ajuda na precificação, com base nos preços de mercado. “O distribuidor consegue ver se está cobrando muito caro ou muito barato e consegue se estabilizar em um valor parecido”. Para o fabricante, que hoje tem pouquíssimas opções de pesquisa de mercado, é uma excelente possibilidade de acompanhar como estão sendo negociados seus próprios produtos – e os da concorrência – depois que saem do setor.
Como funciona na prática
Por se tratar de uma plataforma colaborativa, no CampoValor é o próprio usuário quem fornece os dados à ferramenta, por meio do compartilhamento de faturas no formato Danfe. “Além de ter acesso a informações sobre outras compras ou vendas realizadas, o usuário também alimenta o banco de dados com as mesmas compras ou vendas”, detalha Linares. Uma vez armazenada, ocorre a validação da idoneidade da nota, o cruzamento das informações e por fim os relatórios emitidos ficam de acordo com as solicitações realizadas, de forma segura e sem identificação de quem a enviou.
O fundador da startup garante que o modelo de negócio é baseado no sigilo das informações. “São divulgados apenas dados comerciais genéricos de interesse do mercado, como produto, volume, valor e, em alguns casos, localização do vendedor. Garantimos que as informações pessoais de qualquer usuário não sejam compartilhadas com ninguém, nunca aparecerão. Além de não usarmos, é ilegal fazê-lo”, pondera, referindo-se à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Linares lembra ainda que são utilizados dados reais de negociações que aconteceram de fato e não o que alguém simplesmente declara ou divulga. “Além de nosso banco de dados ser muito valioso, também tem a confiança dos usuários, não vamos arriscar porque não queremos perdê-los. Portanto, todos compartilham, mas sem saber quem compartilhou”.
O acesso à plataforma é feito pelo aplicativo ou pelo computador (campovalor.com.br) e é de fácil utilização. O serviço é gratuito e, à medida que o usuário adiciona notas (enviadas por arquivo PDF ou foto do documento), acumula pontos que vão garantir novas – e mais amplas – pesquisas de preços e produtos. O resultado da busca é uma lista com os 10 mais relevantes da sua região e do seu perfil, que pode ser salva na própria plataforma. As negociações acontecem fora do ambiente do CampoValor, diretamente entre as partes, sem qualquer conflito de interesse ou conluio entre a plataforma e vendedores e fabricantes. Além disso, a plataforma pretende passar por auditorias de terceiros para garantir sua imparcialidade.
O projeto da startup começou a tomar forma em 2020, mas a ideia começou a ser concebida anos antes, com base nas experiências profissionais de Linares no Brasil e no exterior. Biólogo, com mestrado e doutorado em gestão de projetos na agricultura, Linares diz que empreender em prol da agricultura é uma meta de longo prazo. Criado com recursos próprios, o CampoValor oferece acesso gratuito como forma de aumentar o número de usuários e aumentar a base de dados. “Quanto mais notas você enviar, mais pontos o usuário acumulará e, consequentemente, terá acesso a um maior número de consultas. Haverá mais benefícios depois, temos valor a agregar principalmente para o produtor e para o distribuidor”, afirma o CEO.
A plataforma colaborativa de compartilhamento de preços também começa a ser utilizada por associações, sindicatos e cooperativas, que veem no modelo uma importante forma de demonstrar valor aos seus associados. “Ao usar a plataforma, conseguimos mostrar às entidades e produtores quanto pagaram a mais ou quanto conseguiram economizar comprando a opção mais barata”, acrescenta Linares. Outros ganhos, principalmente para o produtor, estão no caso de solicitar financiamento, pois todas as notas enviadas ficam salvas no celular, para que ele possa usar quando precisar. “Somos uma empresa independente e sem vínculo com nenhum fabricante ou distribuidor, não favorecemos ninguém nesse quesito. Valorizamos a transparência, queremos levá-la ao mercado agro e alavancar uma mudança de cultura, aumentando a eficiência dos processos para todos”.
