Por Marta Nogueira e Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) – A Assembleia Geral da Petrobras elegeu nesta quinta-feira o novo Conselho de Administração da empresa no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que em tese pode abrir caminho para as estratégias prometidas na campanha e defendidas pelo presidente Jean Paulo Prates.
Lula defende uma Petrobras que atue como uma empresa integrada de energia, incluindo geração renovável, e não apenas focada no petróleo do pré-sal. A política de preços de combustíveis recebeu muitas críticas do presidente, assim como a política de dividendos, que teria favorecido mais os acionistas do que os investimentos, em sua avaliação.
Porém, nos quatro meses de governo pouca coisa mudou na prática, o que alguns esperam que aconteça com o novo conselho, mais alinhado ao comando do presidente.
Entre os novos diretores, foram eleitos três atuais membros do Ministério de Minas e Energia, incluindo o novo presidente do colegiado, Pietro Mendes.
O ministério, liderado por Alexandre Silveira, é responsável por indicar os representantes sindicais. Há também um membro da Casa Civil.
Mendes, secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis de Minas e Energia, foi eleito apesar de um potencial conflito de interesses apontado quando seu nome foi avaliado pelos órgãos da Petrobras, devido ao seu cargo.
Efrain Mendes, secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, e Sergio Rezende, membro da Diretoria Nacional do Partido Socialista Brasileiro (PSB), outros dois candidatos indicados pelo Sindicato que foram eleitos, também foram considerados inaptos para compor a chapa colegiado da empresa, pela atual diretoria e pelo comitê interno da empresa.
A eleição de nomes reprovados pela comissão interna foi vista com ressalvas por um advogado e professor especialista em Direito Empresarial, que apontou riscos caso a governança não seja adequada.
Marcelo Godke disse à Reuters que a eleição de candidatos não aprovados pelos órgãos internos da empresa, numa altura em que se discute ESG (ambiental, social e governação corporativa), “talvez não seja o caminho certo”.
“Não é ilegal porque a análise interna não vincula os sócios, que têm o poder de eleger os administradores. Mas a empresa tem interesses próprios e muitas vezes não coincidem com os dos controladores”, afirmou o professor.
“No caso da Petrobras, o controlador é a União e sabemos que os interesses rapidamente se desalinham… se a governança não for adequada, não houver alinhamento de interesses entre os investidores e a empresa, ela terá dificuldade de se financiar.”
Durante a assembleia virtual, o presidente da mesa da assembleia, o ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) Francisco Costa e Silva, destacou que “caberá ao acionista responsável pelas indicações aceitar ou não” as avaliações feitas pela diretoria e pelo comitê.
“A assembléia é soberana para decidir se essas pessoas serão eleitas ou não”, disse o presidente do conselho, que ponderou em dado momento ainda que isso não tire a responsabilidade dos acionistas por suas decisões, e que as votações devem ocorrer de acordo com o interesse da empresa.
Também foram eleitos nesta quinta-feira os indicados ao Sindicato Jean Paul Prates, Vitor Saback, secretário de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia, e Bruno Moretti, secretário especial da Casa Civil, que não teve parecer negativo observação.
Saback foi avaliado por um comitê da Petrobras antes de assumir o cargo de secretário de Geologia.
As minorias, por sua vez, reelegeram os deputados José João Abdalla Filho e Marcelo Gasparino.
PRÓXIMOS PASSOS
A renovação da diretoria, que até hoje ainda era formada por indicados no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, deve abrir caminho para que o presidente da empresa continue com as mudanças estratégicas prometidas, como alterações nas políticas de preços e dividendos, além de um novo planejamento para a empresa, que passará a investir em transição energética.
“Finalmente houve as mudanças esperadas no Conselho de Administração da Petrobras, o presidente colocou pessoas mais alinhadas com o novo governo e o novo projeto de país aprovado nas urnas. Agora é esperar um novo planejamento estratégico e que tenhamos uma Petrobras que atende não só aos acionistas, mas principalmente à população brasileira”, disse à Reuters Deyvid Bacellar, coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP).
Os nomes para compor o conselho foram escolhidos após grandes disputas políticas em Brasília e após pessoas ligadas ao PT criticarem publicamente as indicações originais por estarem de alguma forma ligadas ao governo anterior, algumas das quais foram posteriormente substituídas.
O próprio ministro Silveira também foi criticado por ter elaborado a lista de indicados de forma unilateral, sem discussão prévia.
Sobre o assunto, Prates reconheceu em março que a lista de indicados pelo Sindicato tinha várias indicações de pessoas que compõem a base política do governo e que quem viesse seria um respeitado membro do colegiado.
Uma fonte da Petrobras ligada à alta liderança da empresa disse nesta quinta-feira que a mudança na diretoria abrirá caminho para que as promessas do governo sejam cumpridas.
(Por Marta Nogueira)