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O futuro da América Latina e do Caribe passa pela consolidação da bioeconomia como visão do desenvolvimento, afirmou Eduardo Trigo, referência mundial em inovação agropecuária, na Conferência ICABR 2023

    O futuro da América Latina e do Caribe passa pela consolidação da bioeconomia como visão do desenvolvimento, afirmou Eduardo Trigo, referência mundial em inovação agropecuária, na Conferência ICABR 2023

    “Tenho convicção de que o futuro de nossa região depende da consolidação da bioeconomia como visão de desenvolvimento”, disse Eduardo Trigo, referência mundial em questões de desenvolvimento agropecuário e assessor do Programa de Inovação e Bioeconomia do Instituto Interamericano de Desenvolvimento Cooperação em Agricultura (IICA ). Trigo proferiu uma das palestras mais esperadas da 27ª Conferência Anual do Consórcio Internacional de Pesquisa em Bioeconomia Aplicada (ICABR), que reuniu em Buenos Aires os mais importantes pesquisadores e cientistas do mundo sobre o tema, durante quatro dias de trabalho e discussão.

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    “Podemos definir a bioeconomia como o uso de recursos biológicos para a produção de bens e serviços em toda a economia. Sem dúvida, representa uma enorme oportunidade de desenvolvimento para a América Latina e o Caribe, já que esta região é uma das mais importantes, senão a mais importante plataforma fotossintética do planeta. Refiro-me à possibilidade que temos de transformar a energia solar em energia utilizável pelo homem. Com isso, estamos em condições de gerar múltiplas opções para a economia fóssil. Isso nos coloca à frente dos desafios para as próximas décadas, devido às mudanças climáticas e à necessidade de atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), dos quais ainda estamos muito distantes”.

    Trigo explicou isso no auditório do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MinCyT) da Argentina, cenário para esta reunião científica de alto nível co-organizada pelo governo argentino, ICABR e IICA. Nos últimos seis anos, a agência de desenvolvimento rural do continente apoiou os países na conscientização, treinamento, fortalecimento de políticas e promoção de negócios na bioeconomia nas cadeias de valor do setor agrícola do continente.

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    A região é uma grande produtora de biomassa, o que abre portas para um grande desenvolvimento da bioeconomia na melhoria da qualidade de vida dos habitantes das zonas rurais do continente. Neste sentido, o distinto especialista considerou que “a biomassa tem sempre uma dimensão territorial. Eu sempre digo que a biomassa viaja mal, porque não é econômico transportá-la por distâncias muito longas. Isso faz uma diferença muito grande com o petróleo, relacionado ao fato de que as concentrações de energia são muito diferentes. Assim, a biomassa precisa ser processada e utilizada localmente, o que significa mudar completamente o modelo de desenvolvimento territorial e abre oportunidades muito significativas para as áreas rurais da nossa região”.

    Trigo é PhD em Economia Agrícola pela Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, e tem ampla experiência como consultor de organizações nacionais e internacionais em bioeconomia e na área de ciência e tecnologia aplicada à produção agrícola. Por isso foi uma das vozes mais ouvidas por mais de 150 cientistas das Américas, Europa e África no encontro de Buenos Aires.

    “O fato de esta conferência ser realizada na América Latina reflete a importância da região na bioeconomia global. Estamos diante de uma tremenda oportunidade de interagir com os países mais avançados e os cientistas de maior prestígio. Não me engano ao dizer que este é o evento globalmente mais relevante para a discussão sobre os rumos da bioeconomia”, explicou.

    Desde o início dos tempos

    Em sua palestra — intitulada “Rumo a uma agenda de pesquisa para a construção da bioeconomia como visão para o desenvolvimento sustentável” — Trigo disse que a bioeconomia, longe de ser uma novidade, é praticamente tão antiga quanto o homem.

    “Desde o início dos tempos, a bioeconomia está conosco. Não importa como o definimos. Esteve presente em cada sociedade, no seu tempo, ajustado aos tempos. Em cada momento, o conhecimento para usar o biológico foi usado. Com a agricultura, a fermentação e os biocombustíveis estávamos fazendo bioeconomia sem saber. Então a bioeconomia é algo muito tradicional, mas também muito moderno”, explicou.

    Nesse sentido, o especialista disse que, embora a bioeconomia sempre tenha se baseado no uso de recursos naturais para a atividade industrial, há grandes diferenças em sua implementação entre economias maduras, do ponto de vista tecnológico, e países em desenvolvimento. No caso da região, ele considerou que o foco deve ser a integração dos pequenos produtores à bioeconomia.

    “A América Latina e o Caribe – disse – tem 21 milhões de unidades de produção agrícola, e dois terços delas são fazendas familiares. É um número muito alto para a bioeconomia progredir sem uma proposta coerente de como integrar esse setor”.

    “Nossa região inclui oito dos 15 países considerados megabiodiversos no mundo, e ninguém mais contesta que a diversidade é um recurso estratégico. Devemos avançar nas formas de aproveitá-la”, concluiu.


    **Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal Do Campo**

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