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Nova técnica permite reprodução em larga escala de bambu

A Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF) acaba de desenvolver um protocolo que permite a produção de centenas de mudas de bambu a partir de um único propágulo. A técnica para obter esse resultado é a micropropagação vegetativa, que garante não só a multiplicação em escala, mas também a sobrevivência da nova planta na aclimatação, além de outras vantagens.

Por meio da micropropagação vegetativa em laboratório, o produtor pode obter, dependendo da espécie, em apenas seis meses, de 200 a 500 mudas, todas oriundas de um único propágulo (parte da planta capaz de multiplicá-la ou propagá-la vegetativamente).

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Desta forma, as características da planta utilizada como fonte são mantidas. No sistema convencional, feito a partir do corte de parte da planta para confecção das estacas, a produção é considerada mais cara, devido à necessidade de maior espaço físico e menores taxas de formação de mudas. Para que a muda seja utilizada, ela deve ter brotos e raízes bem desenvolvidos.

“É muito tempo para quem precisa de material de propagação”, comenta o pesquisador da Embrapa Jonny Scherwinski-Pereira, responsável pelo desenvolvimento do novo protocolo. Ele explica que a produção de mudas também pode ser feita a partir de sementes. Porém, como o processo de floração do bambu é desconhecido na maioria dos casos, com períodos quase sempre muito longos entre os ciclos, espera-se muito, o que torna praticamente inviável a utilização desse tipo de material para a produção de mudas. “Para se ter uma ideia, em nossa pesquisa, verificamos que uma espécie de bambu do Cerrado floresceu em um intervalo de aproximadamente sete anos”, exemplifica o cientista.

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A pesquisadora explica ainda que mudas feitas a partir de mudas correm risco de perda por diversos motivos – como formação incompleta da muda e morte durante o transplante. Até mesmo a época do ano pode ser um fator de influência nas respostas. Segundo ele, os processos convencionais são mais indicados para quem precisa de uma pequena quantidade de mudas. “O problema é conseguir grandes quantidades. Imagine produzir varas de bambu para 100 hectares. Com estacas, a produção será cara: exigirá espaço físico, tempo e mais mão de obra. Na produção em laboratório, o espaço físico é relativamente pequeno, as mudas têm um desenvolvimento homogêneo no campo e, por serem feitas em laboratório, a época do ano e as condições do dia a dia pouco influenciam nessa produção”, comenta o pesquisador.

mercado em expansão

Embora o mercado de cultivo de bambu no Brasil esteja crescendo, abrangendo desde a fabricação de utensílios domésticos, como colheres, móveis até produtos para uso na construção civil, havia uma lacuna na produção de mudas em larga escala – mesmo com outras técnicas disponíveis. Agora, com a micropropagação vegetativa em laboratório pronta para ser adotada, a expectativa é que tanto agricultores familiares quanto grandes produtores possam contar com maior disponibilidade de mudas. A técnica abre espaço para biofábricas, por exemplo, fornecerem o material em maior quantidade. “Nos últimos anos, vimos que a demanda por peças de bambu aumentou significativamente, mas a oferta de matéria-prima parece insuficiente, se usássemos o bambu para todos os usos que ele proporciona”, afirma o pesquisador.

Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria e Produtores de Bambu e Fibras Naturais (Abrafibras), a produção de bambu no Brasil está presente em pelo menos 250 municípios, com cerca de 40 mil produtores rurais cultivando o capim, sendo a maioria de pequeno porte. A produção anual estimada é de 400 mil toneladas, que abastecem indústrias e pessoas físicas.

Os principais produtores são Pernambuco, Piauí, Maranhão, Bahia, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Acre, estado onde se encontra a maior reserva de bambu nativo do mundo, com 4,5 milhões de hectares, segundo dados da Abrafibras.

Como funciona a técnica

A produção de mudas de bambu em laboratório inicia-se com a introdução de uma pequena muda contendo pelo menos uma gema em meio de cultura artificial, sob luz e temperatura controladas.

Após algumas semanas, esse propágulo brota e, a partir dessa nova brotação, é feito um ciclo de várias multiplicações até se obter o número necessário de mudas.

Após esse período, que pode variar de um a vários meses, dependendo do número de mudas a serem produzidas, as plantas formadas em laboratório são levadas para estufas ou viveiros, onde são plantadas em substrato para dar continuidade ao seu crescimento.

A técnica de multiplicação de plantas in vitro já é bastante conhecida e, a partir dela, várias espécies foram multiplicadas comercialmente, como é o caso da banana, batata, morango, entre outras. No entanto, para o bambu ainda há poucas informações de que laboratórios comerciais produzam mudas nessas condições, o que parece ser um importante mercado a ser explorado em um futuro próximo.

Pereira conta que a produção por esse método pode ser realizada por pequenos ou grandes produtores, biofábricas ou até mesmo viveiros que já tenham estrutura ou que queiram montar uma estrutura para produção de mudas em laboratório.

A Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia oferece um curso anual de aplicações teóricas e práticas da técnica, que pode ser utilizada não só para o bambu, mas para diversas outras espécies. Ainda de acordo com o pesquisador, o protocolo de produção de mudas de bambu em laboratório foi desenvolvido para atender a grande demanda do setor produtivo.

Os interessados ​​na técnica podem entrar em contato com o Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC) da Embrapa: [email protected].



Fonte: Agro

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