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Na Reuters: Lula, Bolsonaro e mercado tentam curar ressaca de…

    Na Reuters Lula Bolsonaro e mercado tentam curar ressaca de scaled

    Por Tatiana Bautzer

    SÃO PAULO (Reuters) – Os dois candidatos presidenciais, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), vêm dizendo em suas campanhas que trarão alívio às famílias endividadas, resolvendo um problema que afeta o crescimento econômico.

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    Mas economistas e executivos de bancos dizem que as soluções apresentadas até agora são “band-aids” que não resolverão estruturalmente o problema do excesso de dívida e seu impacto na economia – e as próprias instituições financeiras estão tentando encontrar novas maneiras de renegociar dívidas em atraso e tirar o peso dos mercados de crédito.

    Com cerca de 70 milhões de brasileiros com nomes negativos nos serviços de proteção ao crédito, segundo a Serasa, totalizando 290 bilhões de reais em dívida, atender essa população é uma importante estratégia eleitoral em um disputado segundo turno.

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    Lula, que está à frente nas pesquisas, propõe uma renegociação da dívida com apoio do governo. Segundo assessores, o PT deve focar primeiro nos 95 bilhões de reais em contas não pagas acumuladas por famílias que ganham até 3.600 reais por mês. Em seguida, o governo tentará ajudar com incentivos para reestruturar a dívida bancária.

    Tentando ganhar pontos com essa população, o presidente Jair Bolsonaro anunciou um programa da Caixa Econômica Federal oferecendo um grande desconto na dívida bancária. Mas o alcance da medida – o relançamento de um programa que o banco vinha fazendo nos últimos anos – é modesto. São cerca de 4 milhões de clientes cujas dívidas já saíram do balanço do banco e chegam a 1 bilhão de reais.

    “Não muda muito”, disse Eduardo Martins, sócio da gestora de crédito MGC Crediativos, que estima que o saldo total de empréstimos vencidos no Brasil chegue a 1 trilhão de reais, incluindo dívida bancária, com varejistas e contas de telecomunicações e serviços como água e esgoto.

    Martins também acredita que as propostas de Lula não consideram o atual estado da dívida. “Qualquer plano deve pressupor que 60% da dívida já foi vendida aos investidores, de modo que os incentivos dados aos bancos serão inócuos.”

    O mercado secundário de dívidas vencidas cresceu vertiginosamente nos últimos meses, principalmente após mudanças nos critérios de classificação de crédito pelo Banco Central, que aceleraram a venda de carteiras pelos bancos.

    O volume também aumentou, pois a desaceleração da atividade econômica durante a pandemia e o subsequente aumento da inflação e das taxas de juros elevaram os níveis de inadimplência e colocaram mais famílias em listas de crédito restritivas.

    O ex-diretor do Fundo Garantidor de Crédito, Fábio Mentone, diz que a reestruturação do crédito é importante, mas não terá efeito macroeconômico se as condições não mudarem, como nível de emprego, inflação e juros.

    “Se você resolver o problema das dívidas vencidas, mas continuar com juros muito altos, em breve terá o mesmo problema novamente”, disse.

    MERCADOS ATIVOS

    Os grandes volumes de dívida inadimplente negociados no setor privado aumentaram a atividade de renegociação com os devedores. Diversas empresas oferecem descontos de até 90% do valor de face da dívida. Os credores originais, que se desfazem da carteira, preferem não oferecer grandes descontos diretamente por medo de incentivar os bons credores a deixarem de pagar.

    A empresa de reestruturação Pantalica Partners estima que cerca de 115 bilhões de reais em empréstimos vencidos foram vendidos no mercado secundário este ano, cerca de 5 vezes mais do que em 2019.

    A maior parte do volume é proveniente das carteiras de crédito dos maiores bancos, varejistas e concessionárias de serviços. Cerca de US$ 37 bilhões são em vendas de dívida corporativa de grandes empresas.

    Entre os maiores compradores de portfólio deste ano estão as gestoras de ativos e as gestoras de crédito como Jive, SPC, Cerberus, BRD, Quimera e Quadra. A Intrum, uma das maiores gestoras de crédito da Europa, abriu uma subsidiária no Brasil em 2020. Espera-se que taxas de juros mais altas aumentem a inadimplência de crédito e aumentem o pool de ativos estressados.

    Os maiores bancos agora também possuem empresas de recuperação de crédito. A Recuperação é controlada pelo Itaú e a Retorno pelo Santander. A RCB Investimentos é controlada pelo Bradesco.

    Desde a pandemia, os devedores têm preferido liquidar suas dívidas por meio de sites, sem ter contato com nenhum cobrador de dívidas. Na Crediativos, por exemplo, essa modalidade já representa 70% de todas as renegociações. Uma minoria usa call centers.

    A maioria das dívidas que levam os devedores à Serasa têm valores baixos – em média 1.215 reais e geralmente não são refinanciadas. Os devedores geralmente os pagam de uma só vez com um grande desconto.

    Um grande volume de créditos deve chegar ao mercado nos próximos meses em leilão da Emgea, empresa não financeira controlada pela Caixa Econômica Federal que administra cerca de 60 bilhões de reais em créditos para pessoas físicas e jurídicas, geralmente com alguma garantia. A maioria dos créditos que vão a leilão são antigos e alguns têm mais de 20 anos. Esses ativos não estão relacionados ao programa da Caixa anunciado por Bolsonaro durante a campanha.

    Samuel Oliveira, fundador da boutique Northstone, diz que grandes investidores internacionais em ativos estressados ​​estão de olho no leilão da Emgea e aumentando as aquisições de portfólio no Brasil.

    Ao contrário de ciclos anteriores de altas taxas de juros, as famílias brasileiras hoje têm um nível de endividamento maior – em agosto, 80% das famílias tinham dívidas. O volume também cresceu com o incentivo das baixas taxas de juros nos últimos anos. O crédito imobiliário, que representava apenas 4% do PIB em 2010, atingiu 10% no ano passado.



    Fonte: Noticias Agricolas