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Ministros defendem reforma agrária, mas criticam invasões do MST

    Ministros defendem reforma agraria mas criticam invasoes do MST

    Os ministros da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, e do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, defenderam nesta quinta-feira (4) a retomada do programa de reforma agrária. Criticaram, no entanto, as invasões de terras promovidas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Fávaro e Teixeira participaram de audiência pública da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA).

    Para Carlos Fávaro, é papel do Estado promover a reforma agrária para “quem tem vocação e quer ter um pedaço de terra para produzir”. Ele defendeu a presença do líder do MST, João Pedro Stédile, na comitiva do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em viagem à China em abril passado. Segundo o ministro, as críticas à participação de Stédile são fruto de preconceito.

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    “Engraçado como as coisas são, preconceito neste país. Ninguém fala dos mais de 100 empresários que acompanharam a comitiva. Por que um líder social também não pode ir lá buscar oportunidades em causas sociais? Por que um sindicalista não pode fazer parte da comitiva presidencial? Mas não há posição duvidosa: a invasão de terras não é legítima. Não devemos apoiar. (…) Não é concebível apoiar invasão de terras. De minha parte, nunca o farei”, disse.

    Para Paulo Teixeira, o governo federal “não tem clemência” com a invasão de terras. Segundo o ministro, a condição que o Poder Executivo impõe para negociar o assentamento das famílias é a liberação das áreas ocupadas.

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    — Isso é uma exigência do governo: com áreas ocupadas, não negociamos. Não há clemência deste governo com este tipo de problema. Agora, faz seis anos que nem um centímetro de terra foi entregue ao povo brasileiro. O programa de reforma agrária acabou. O presidente Lula pretende anunciar em maio um programa de reforma agrária para 2023. Um programa que pode trazer não só terra, mas infraestrutura, crédito e assistência técnica”, afirmou.

    Oposição

    Durante a audiência pública, os parlamentares manifestaram preocupação com a invasão de áreas produtivas. Para o senador Sergio Moro (União-PR), o governo federal dá “sinais contraditórios” sobre o assunto.

    — Não se trata de demonizar o movimento social, o MST. Agora, nada de invasão. Não vemos essa posição do presidente Lula. O que realmente vemos são sinais mistos. Ao mesmo tempo em que ocorrem invasões de terras aqui no país, o presidente leva o líder do MST em uma viagem internacional, conferindo a essa liderança uma posição de prestígio. O presidente da República dispensa uma palavra de reprovação – disse Moro.

    Para o senador Jaime Bagattoli (PL-RO), as invasões de terras provocam uma “situação caótica”, que deve ser evitada.

    “Podemos ter um conflito muito grande. Podemos fazer uma revolução no campo. Se isso não for tratado com urgência, podemos ter conflitos, talvez até mortes no campo. Não é isso que o produtor brasileiro quer – afirmou.

    O senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO) comparou as invasões de terras promovidas pelo MST aos atos golpistas de 8 de janeiro.

    — Invasões arbitrárias. Não sei quem naquela época comparava as ações do MST com o dia 8 de janeiro. É mais ou menos o mesmo que eles estão fazendo. Precisa de ação enérgica e da palavra do Presidente da República. Se ele é contra, que vá à imprensa e diga: ‘Sou contra essas invasões arbitrárias que estão acontecendo’. O governo precisa se posicionar e coibir”, declarou.

    Plano de Colheita

    O ministro da Agricultura e Pecuária anunciou uma novidade para o Plano Safra 2023/2024, que deve ser divulgado em junho. Segundo Carlos Fávaro, o programa deve incluir mecanismos de incentivo à produção sustentável de alimentos, conforme previsto no Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC).

    — Estamos planejando um Plano Safra inovador, ancorado no Plano ABC. As pessoas vão dizer: ‘Uau! Que obrigação eles colocarão nos ombros dos produtores para que possam ter acesso ao crédito?’ Nenhum. É o contrário. Não será punitivo ou oneroso. É um Plano Safra de reconhecimento, de prêmios pelas boas práticas dos produtores. E quais seriam esses prêmios? Aumento de limite? Diminuição da taxa de juros? Ao fazermos esse reconhecimento, tenho certeza de que a retórica negativa começa a mudar – afirmou.

    O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar também destacou a mudança no Plano Safra. Sem dar detalhes, Paulo Teixeira antecipou algumas diretrizes que devem nortear o novo programa.

    — Estamos trabalhando na transição para uma agricultura ecológica de baixo carbono. Queremos lançar o Plano Safra com duas variáveis ​​de estímulo: juros mais baixos para a produção de alimentos e práticas agrícolas restaurativas. Entendemos que a agricultura familiar e empresarial são complementares. Não há contradições entre eles”, afirmou.

    A senadora Tereza Cristina (PP-MS), que foi ministra da Agricultura e Pecuária no governo anterior, classificou a mudança no Plano Safra como “muito interessante”. Ela, porém, cobrou informações objetivas sobre a formatação do programa.

    — A ideia de colocar toda essa parte de sustentabilidade é muito interessante, mas gostaria de saber o seguinte: qual é a taxa de juros? Como vai funcionar essa equalização? Já tem ideia de taxas de juros para pequenos, médios e grandes produtores? ele questionou.

    agronegócio

    Tereza Cristina também cobrou “um discurso único” do governo sobre agricultura e preservação ambiental.

    — O Brasil é uma potência ambiental e agrícola. Mas nossos concorrentes no exterior falam mais sobre nossos problemas, porque a concorrência do Brasil é temida. Temos que encontrar um discurso sério e coerente com os números. Todos precisam falar na mesma página para que se saiba a verdade do que é o agro brasileiro por aí”, afirmou.

    O senador Jorge Seif (PL-SC) foi além e disse que o agronegócio no Brasil “está em processo de demonização”.

    — Dizem que demolimos tudo, que não respeitamos a natureza e tantas outras falácias para impedir que o agro brasileiro avance e alcance mais mercados. Somos uma ameaça para muitos desses países. Que tenhamos uma só voz para defender o agro brasileiro – disse.

    O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, observou que “há uma crise de imagem da agricultura brasileira”. Mas lembrou que o país não pode “querer tapar o sol com a peneira” e precisa reconhecer que, nos últimos anos, tem enfrentado aumentos nos indicadores de desmatamento e queimadas.

    — Há uma retórica de que os produtores brasileiros não respeitam o meio ambiente, que vão destruir a Amazônia, que não dão atenção à qualidade da sustentabilidade. O que não é verdade. A grande maioria dos nossos produtores são ordeiros, legalistas e cumprem a lei. Mas não adianta tentar tapar o sol com uma peneira. Há de fato um aumento do desmatamento e das queimadas ilegais no Brasil nos últimos anos. Não adianta chegar a lugar nenhum no mundo só falando. Torna-se o que eles chamam lavagem verde: uma mentira verde. Dizer que tem boas práticas, e não tem. Mas temos boas práticas”, disse.

    A audiência pública também contou com a presença dos senadores Beto Faro (PT-PA), Jayme Campos (União-MT), Luis Carlos Heinze (PP-RS), Margareth Buzetti (PSD-MT) e Sérgio Petecão (PSD-AC). . A presidente do CRA, senadora Soraya Thronicke (União-MS), foi a autora dos pedidos para a realização da audiência pública.



    Fonte: Noticias Agricolas