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La Niña e seus efeitos na precipitação e na temperatura do ar

    Setembro e influenciado pelo La Nina

    A safra 2022/23 está sendo influenciada, pela terceira vez consecutiva, pelo fenômeno climático La Niña. Atua no Oceano Pacífico Equatorial desde 2020 e seus efeitos são observados no Rio Grande do Sul, com redução no volume e na frequência das chuvas e nas temperaturas que, por vezes, têm ficado abaixo da média do Estado.

    Este breve boletim traz informações sobre as variáveis ​​precipitação e temperatura do ar, no período de agosto a novembro de 2022, para o RS. Com relação à precipitação, observa-se que os volumes acumulados nos meses de agosto e outubro de 2022 foram semelhantes (Figura 1). No entanto, foi apenas no mês de agosto que a precipitação esteve mais próxima da Normal Climatológica (NC).

    Figura 1 (ver acima). Precipitação ocorrida nos meses de agosto, setembro, outubro e novembro de 2022 (painéis superiores) e percentual da precipitação ocorrida, em relação à Normal Climatológica, nos meses de agosto, setembro, outubro e novembro de 2022 (painéis inferiores), no Rio Grande do Sul. A Normal Climatológica é do INMET, com período de referência 1991-2020. Fonte de dados: INMET

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    De modo geral, os meses de setembro, outubro e novembro de 2022 tiveram chuvas abaixo do NC no RS. O lado positivo disso é que a semeadura do arroz avançou bem dentro do prazo recomendado. Segundo levantamentos do Irga, cerca de 76% da área já estava semeada até 4/11, ou seja, dentro do período recomendado, sendo este um dos principais fatores para a obtenção de altas produtividades. A desvantagem é que algumas lavouras precisavam ser “banhadas” para que as plantas surgissem. Com isso, os produtores esgotaram a água dos reservatórios que, se não chover para reposição, pode faltar para manter o nível de água na lavoura.

    No que diz respeito às temperaturas, muito se ouviu dizer que este ano foi mais frio. Mas mais legal comparado a quê? Analisando os dados, observou-se que nos meses de agosto, setembro, outubro e novembro de 2022, as temperaturas médias do ar não foram inferiores ao NC, pelo contrário, as temperaturas médias nos meses de agosto, setembro e outubro ficaram acima das NC , em boa parte da Metade Sul do RS. Somente no mês de novembro a temperatura média do ar ficou próxima da NC na Metade Sul (Figura 2).

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    Figura 2. Anomalia das temperaturas máxima, mínima e média do ar para os meses de agosto, setembro, outubro e novembro de 2022, no Rio Grande do Sul. A Normal Climatológica é do INMET, com período de referência 1991-2020. Fonte de dados: INMET

    Mas por que, então, parecia que as temperaturas eram mais baixas? Ao comparar as temperaturas destes quatro meses de 2022, com as de 2021, pode-se observar que, de fato, as temperaturas foram mais baixas em 2022, em relação ao mesmo período de 2021.

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    Figura 3. Diferença entre as temperaturas máxima, mínima e média do ar verificadas nos meses de agosto, setembro, outubro e novembro de 2021 e 2022, no estado do Rio Grande do Sul. Fonte de dados: INMET

    Pelos mapas, observa-se que agosto foi, em média, entre -1 e -2 °C mais frio que em 2021. O mês de setembro de 2022 foi mais frio, em todo o RS, em relação a 2021, com valores entre -2 e -3 °C, na maior parte da Metade Sul do RS. Outubro apresentou temperaturas semelhantes entre os dois anos, assim como novembro, na Metade Sul do Estado (Figura 2).

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    Figura 4. Temperatura média diária do ar, de agosto a novembro, para os anos de 2021 e 2022, para algumas localidades que possuem estação meteorológica, na Metade Sul do RS. Fonte de dados: INMET

    A partir dos gráficos de temperatura média diária (Figura 4), pode-se perceber que os maiores picos foram registrados durante o mês de agosto de 2021. Outro ponto a destacar é que, durante os meses analisados ​​de 2022, não houve tantos picos ou oscilações de temperatura como em o ano passado. E, para fechar, o ponto que chama bastante atenção no gráfico, o pico de baixa temperatura no início de novembro de 2022. Nota-se que a temperatura média do ar foi muito baixa, nas sete estações meteorológicas analisadas.

    Esse frio, bastante tardio, teve alguns efeitos nas lavouras de arroz, principalmente. Sabe-se que a planta do arroz cresce e se desenvolve em função da temperatura do ar. Devido às temperaturas mais baixas, houve alguns relatos de safras um pouco atrasadas. O frio, aliado à aplicação de herbicidas pré-emergentes, causa fitotoxicidade nas mudas de arroz, o que também retarda o desenvolvimento da planta. Houve alguns relatos de plantas mais amareladas (Figura 5).

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    Figura 5. Fotos de mudas de arroz após episódio de baixas temperaturas no início de novembro de 2022. As fotos são do experimento bioclimático, nas estações experimentais do Irga em Cachoeirinha (A,B) e Santa Vitória do Palmar (C,D). Fotos: Jossana Cera e Roberto Wolter.

    Com a consequente elevação da temperatura do ar de dezembro até o final da safra, esse atraso no desenvolvimento pode ser compensado, mas isso só será verificado mais tarde, próximo à colheita.



    Fonte: Agro