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Febre aftosa na Indonésia reacende temores no Brasil com a retirada da vacinação

    Febre aftosa na Indonesia reacende temores no Brasil com a

    Foto: Divulgação

    Da redação //AGROemDIA

    O recente surto de febre aftosa na Indonésia reacendeu a preocupação dos representantes pecuários com a retirada da vacinação contra a doença no Brasil, prevista para 2026. Há temores de que o vírus detectado no país do Sudeste Asiático possa causar problemas na outras regiões do planeta. Isso, alertam, poderia colocar o Brasil em situação de risco por conta de sua imensa fronteira terrestre, com mais de 15 mil quilômetros de extensão, o que dificultaria a vigilância sanitária em estados menos estruturados, localizados próximos aos vizinhos da América do Sul.

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    O presidente da Associação dos Criadores do Pará (Acripará), Maurício Fraga Filho, considera imprudente retirar a vacina no Brasil até que toda a América do Sul tenha erradicado a febre aftosa. Para ele, o ideal seria o Brasil esperar que os países vizinhos avancem em seus programas de eliminação da doença e depois pedir à Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), com sede em Paris, uma declaração conjunta da América do Sul como livre. da febre aftosa sem vacinação. Hoje, o Brasil está livre da febre aftosa, com áreas com e sem imunização.

    “Estou com medo [de parar de vacinar o rebanho]. A ideia [com o fim da imunização] é conquistar novos mercados, mas o Uruguai exporta para os melhores mercados e não fala em retirar a vacina. Portanto, não vejo necessidade de correr o risco de retirar a vacina contra a febre aftosa até 2026. Até porque nunca houve unanimidade sobre essa questão na pecuária brasileira”, diz Fraga, esclarecendo que o Pará, com cerca de 25 milhões de cabeças de gado e búfalos, segue o cronograma oficial do programa nacional de erradicação da febre aftosa.

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    O presidente da Acripará cita outra questão ao defender a manutenção da vacinação, ou pelo menos a prorrogação do período de carência. “Existem vários estados onde as agências de defesa da saúde estão obtendo notas baixas. [de avaliação]. Isso mostra que não estamos totalmente preparados para interromper a vacinação. Acho que retirar a vacina [conforme o atual cronograma] é correr um risco desnecessário. O ideal seria esperar até que todas as agências estejam bem equipadas e a doença seja erradicada em toda a América do Sul.”

    Fraga elenca mais um aspecto que o coloca contra a retirada da vacina até 2026. Segundo ele, o calendário nacional de vacinação, estabelecido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), tem permitido aos pecuaristas realizar, paralelamente, outros tratamentos do rebanho. “Como precisamos colocar o gado no curral para vacinar contra a febre aftosa, aproveitamos para dar vermífugos e fazer outros procedimentos visando a saúde dos animais.” Mesmo nesse aspecto, ressalta, o fim da vacinação não é uma boa medida.

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    Maurício Fraga (E), presidente da Acripará, e Luís Felipe Barros, presidente do Instituto Desenvolvimento Pecuária estão cautelosos com o fim da vacinação do rebanho – Fotos: Divulgação

    Instituto desenvolve pecuária

    O presidente do Instituto Desenvolvimento Pecuária, no Rio Grande do Sul, Luís Felipe Barros, também está cauteloso com o fim da imunização contra a doença. “Enquanto houver aftosa, entendemos que o mais prudente seria manter a vacinação. O Canadá, inclusive, só compra carne do Brasil de estados que mantiveram a vacinação. Claro, no momento em que você retirar [a vacina]expandimos outros mercados, mas a maioria dos produtores tem sido a favor da manutenção da imunização.”

    A extensão da fronteira seca brasileira torna o país mais exposto ao risco, o que deveria ter sido considerado no Plano Estratégico do Programa Nacional de Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa (PNEFA) – 2017-2026, que estabeleceu o prazo para terminar a imunização. , destaca Barros. “Embora não haja um controle rigoroso nas áreas de fronteira, seria mais prudente manter a vacinação. Até porque sabemos que não há um controle efetivo nessas áreas e que há uma certa fragilidade em relação à fiscalização.”

    O diretor do Instituto Desenvolvimento Pecuária destaca ainda que crises econômicas em países vizinhos, como a que vive atualmente a Argentina, deixam o Brasil ainda mais ameaçado em relação ao trânsito ilegal de animais na fronteira, principalmente no RS, Santa Catarina e Paraná. Esses três estados, juntamente com Acre, Rondônia e partes do Amazonas e Mato Grosso, compõem a primeira zona livre de febre aftosa, sem vacinação, já reconhecida pela OIE.

    “Sabemos que, por conta da questão econômica, muito gado vem se deslocando da Argentina para o Brasil. E não temos um bom controle sobre o registro de sinais e marcas. Isso dificulta até mesmo o controle da origem do gado depois que ele está em um caminhão ou em uma tropa. É difícil saber quem é o verdadeiro dono dos animais e não há como buscar sua origem.”

    Na avaliação de Barros, o Brasil precisa ficar atento ao foco na Indonésia, apesar da distância entre os dois países. “Vivemos em uma economia globalizada e, como vimos com o Covid-19, um vírus pode se espalhar facilmente. Precisamos olhar para isso com muito cuidado. se tivéssemos a vacina [no RS]não estaríamos tão preocupados.”

    Foco no município de Joia, memória que assusta

    Embora tenha aumentado com os mais de 230 mil casos de febre aftosa ocorridos na Indonésia, a preocupação com a retirada da vacinação também tem outro motivo. “Não temos informações sobre a situação da saúde na Venezuela, nossa vizinha”, acrescenta o presidente da Acripará. Além disso, lembra Fraga, a Colômbia registrou surtos da doença em 2018.

    Quando surgem casos de febre aftosa em alguma parte do planeta, como agora no Sudeste Asiático, os pecuaristas brasileiros ficam apreensivos porque o Brasil já vivenciou situações semelhantes anos atrás, que foram superadas com campanhas de vacinação.

    A lembrança que mais assusta é o surto de febre aftosa no município gaúcho de Joia. Em agosto de 2000, quase mil homens das forças de saúde e policiais, sob a coordenação do Mapa, foram à cidade do noroeste do RS para uma missão que chocou o país: a chacina, com fuzil sanitário, de cerca de 11 mil animais.

    A pecuária brasileira, detentora do maior rebanho bovino comercial do planeta, com mais de 215 milhões de cabeças, e líder mundial na exportação de carne bovina, não quer que isso volte a acontecer. Por isso há tanta cautela entre os pecuaristas com a retirada da vacinação.

    Vivemos em uma economia globalizada e, como vimos com o Covid-19, um vírus pode se espalhar facilmente.”

    Fonte: Agro