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Executivo mundial espera crescimento do Fairtrade na agricultura familiar brasileira

    Sandra Uwera, João Gasperini e Catalina Jaramillo - Coperfam - agronews

    “Melhorando a vida dos agricultores em todo o mundo! Isso é o que Fairtrade significa para mim”. Assim, o CEO global do sistema feira comercial, que esteve recentemente pela primeira vez no Brasil, resumiu a importância desse modelo para a comercialização dos produtos agrícolas. Sandra Uwera afirmou que o Comércio Justo no país ainda tem muito a crescer.

    Sandra nasceu em Ruanda, no continente africano, e hoje dirige a Fairtrade, uma rede de quase dois milhões de produtores em todo o mundo, membros de 1.880 organizações de pequenos produtores. Durante sua visita ao Brasil, ela afirmou que a intenção é que o número de produtores rurais participantes do Fairtrade cresça no país, para que mais famílias tenham acesso aos benefícios de fazer parte do Fairtrade.

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    Ela destacou questões econômicas, como aumento dos custos de produção e redução do poder de compra do consumidor, além de aspectos políticos globais, como desafios, mas afirmou que há muito potencial para os produtores brasileiros.

    “O Brasil exporta alguns produtos de alto valor certificados Fairtrade como: café, suco de laranja, nozes e algumas especiarias para o mercado europeu. O país também está focado em aumentar sua capacidade de exportação de banana e em firmar mais parcerias no mercado sulista, comprando e vendendo aqui na América Latina”, disse.

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    O CEO global do sistema destacou a liderança do Brasil nas exportações de café. “Uma porcentagem importante desse café é vendida sob os termos do Comércio Justo. Temos muito interesse no crescimento dessa relação ao longo do tempo e esperamos incentivar mais empresas a terem políticas de investimento e compras socialmente conscientes”, destacou.

    Sandra destacou a importância de ampliar as vendas de todos os produtos Fairtrade brasileiros nas gôndolas internacionais, como Europa, Estados Unidos e América do Sul. “Nosso interesse é crescer continuamente para nos tornarmos mais ágeis para os desafios da atual conjuntura econômica e trazer mais inovação para o mercado”, garantiu o CEO.

    A agricultura brasileira encantou o executivo mundial

    Nos seis dias em que ficou no Brasil, Sandra Uwera participou de um evento em Porto Alegre (RS) e depois visitou a Cooperativa de Produtores Rurais de Agricultura Familiar (Coperfam), que fica em Bebedouro, interior de São Paulo , mas que tem associados em 26 municípios paulistas e mineiros. A organização tem certificação Fairtrade e exporta suco de laranja de pequenos produtores, que produzem 540 mil caixas de laranja anualmente.

    O vice-presidente da cooperativa, João Roberto Gasperini, deu as boas-vindas ao CEO global. “Não esperávamos ter essa visita, sabendo que no Brasil temos várias outras cooperativas e associações maiores certificadas Fairtrade com produtos mais importantes que os nossos, como o café. Isso nos mostra que no Comércio Justo somos todos tratados de forma justa”, disse ele.

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    Em visita a uma propriedade da cooperativa, Sandra almoçou e aprovou os diversos pratos oferecidos pela família, feitos com produtos cultivados por eles. “Ela conheceu as variedades de laranja, o plantio, os cuidados necessários, algumas necessidades de adaptação às mudanças climáticas como: irrigação, cobertura do solo, instalação de fossa séptica, monitoramento de pragas e doenças através de armadilhas biológicas, a importância dos implementos disponibilizados pela a cooperativa, além da importância da assistência técnica”, relatou João.

    Também foram apresentados alguns dos 30 projetos e ações realizados com o valor recebido por meio do “Prêmio Fairtrade”. “Precisamos divulgar ao consumidor que os produtos licenciados Fairtrade promovem a permanência do agricultor familiar no campo e ao mesmo tempo preservam a natureza, além de praticar a maior parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU”, enfatizou o dirigente da Coperfam .

    Integrantes da entidade, o agricultor Adilson Antonio Abreu, sua esposa Ivone Francisca dos Reis Abreu e o irmão Everaldo José de Abreu receberam Sandra na propriedade da família. Adilson disse que ele e o irmão herdaram a fazenda e sempre plantaram laranja, mas diz que se não fosse a cooperativa e o Fairtrade, eles não estariam mais cultivando, que é a única cultura agrícola da propriedade, que é localizada no município de Cajobi (SP).

    “Antes da Coperfam, vendíamos nossas laranjas para as grandes empresas e não conseguíamos bons preços. Depois da cooperativa, mudou da água para o vinho. Se não fosse por isso, não estaríamos mais produzindo. O pequeno, sozinho, sofre muito, mas quando se une em uma cooperativa, se fortalece e se torna grande. Nunca imaginei que nosso suco de laranja fosse vendido lá fora”, relatou o agricultor.

    “Fairtrade é dar voz aos que não têm voz, à minoria, às comunidades marginalizadas que estão realmente comprando ou vendendo alimentos para obter uma renda. Trata-se de capacitar os produtores, fornecendo-lhes as ferramentas certas, dando-lhes mais poder para passar da subsistência familiar para compromissos mais comerciais, o que pode dar-lhes mais poder de negociação para melhores preços de seus produtos no mercado internacional. Trata-se de tirá-los da pobreza e colocá-los em condições de sair de um mercado muito pequeno e crítico e expandir para um mercado maior em seus próprios países e internacionalmente”, enfatizou Sandra Uwera.

    A executiva também foi à capital paulista, onde conheceu a sorveteria Ben & Jerry’s, no bairro dos Jardins, que utiliza produtos Fairtrade em toda a sua rede mundial. A coordenadora de missão social, ativismo e cultura da empresa, Ananda Puchta, informou que a parceria da Ben & Jerry’s com a Fairtrade é longa e sólida.

    “Todos os produtos que usamos nos sorvetes super premium são certificados Fairtrade, como açúcar, café, cacau, banana e chocolate. Foi importante receber a Sandra. Em nossa conversa, buscamos formas de fortalecer ainda mais essa parceria”, revelou Ananda.

    Quem é Sandra?

    Sandra Uwera é cidadã de Ruanda. Ela cresceu no Quênia e em Ruanda, fala francês, inglês e Kiswahili, que é sua língua nativa. Ela possui mestrado em Planejamento Estratégico, bacharelado em Comunicação Corporativa e concluiu treinamento profissional avançado em direito e política de comércio internacional, inclusão digital e liderança para sustentabilidade empresarial. Ela faz parte de vários conselhos na África e internacionalmente.

    Ele tem 20 anos de experiência profissional na África Oriental e Austral. Ele atuou como CEO do COMESA Business Council (CBC), a principal organização de associação empresarial na África e uma instituição do setor privado do Mercado Comum para a África Oriental e Austral (COMESA), que representa 34 setores empresariais em 21 países.

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    Como parte de seu trabalho com CBC e COMESA, liderou projetos e programas sobre soluções sustentáveis ​​para pequenas e médias empresas, advocacia, treinamento técnico, competitividade da indústria e acesso ao mercado, inclusão financeira digital e programas focados no empoderamento de mulheres e jovens . Ela assumiu o cargo de CEO da Global Fairtrade em março de 2022.

    O que é Comércio Justo?

    O Comércio Justo é um movimento social e econômico, cujas experiências pioneiras remontam ao final da década de 1940 como respostas alternativas ao fracasso do modelo convencional de comércio em promover padrões produtivo-comerciais. É um modelo de desenvolvimento responsável e sustentável e de oportunidades para pequenos produtores, agricultores e artesãos economicamente e socialmente desfavorecidos. Busca fomentar uma cultura de consumo responsável para que os cidadãos/consumidores entendam a importância de comprar diretamente de pequenos produtores e artesãos democraticamente organizados.

    comércio justo no brasil

    A Associação das Organizações de Produtores Fairtrade no Brasil (BRFAIR) é a coordenadora nacional do Fairtrade no Brasil, com a função de representar as 42 associações e cooperativas de pequenos produtores certificados pelo Fairtrade e 12 fazendas, reunindo milhares de famílias brasileiras, principalmente que cultivam café e laranjas.

    A BRFAIR é membro da Coordenação Latino-Americana e Caribenha de Pequenos Produtores e Trabalhadores do Comércio Justo (CLAC), que é formada pela rede latino-americana de produtores coproprietários do sistema Fairtrade International. CLAC é a rede que representa todas as organizações certificadas Fairtrade na América Latina e no Caribe.

    Prêmio Fairtrade e preço mínimo

    As organizações certificadas Fairtrade têm um preço mínimo e um valor “Prêmio” pago por produtos comercializados como Fairtrade. O preço mínimo é calculado com base nos custos de produção nos países produtores e visa garantir um pagamento que cubra os custos do produto Fairtrade e garanta uma renda digna para esses produtores.

    Além do preço mínimo, os produtos comercializados como Fairtrade estão sujeitos ao pagamento do “Prêmio Fairtrade”, recurso que deve ser utilizado para projetos voltados ao desenvolvimento do grupo, como segurança alimentar, saúde e segurança dos produtores, preservação do meio ambiente, ações sociais e melhoria da qualidade dos produtos certificados.

    Por: Julio Huber – Nova Comunicação

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    Fonte: Noticias Agricolas