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Estudo inédito analisa impacto da pandemia na cadeia da laranja

A pandemia da Covid-19 teve um impacto significativo na vida de trabalhadores assalariados e agricultores familiares da cadeia produtiva da laranja no país, reduzindo sua renda e prejudicando a educação de seus filhos, segundo estudo realizado em parceria entre o Instituto de Gestão e Florestal e Certificação Agropecuária (Imaflora), Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Assalariados (Contar) e Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares (Contag). A pesquisa foi realizada entre dezembro de 2021 e novembro de 2022, por meio de entrevistas com trabalhadores, agricultores e especialistas.

O estudo “Contribuições para mitigar os efeitos da pandemia de Covid-19 na cadeia produtiva da laranja” entrevistou 95 agricultores dos estados da Bahia, Sergipe, Minas Gerais e São Paulo e 172 trabalhadores rurais da Bahia, Sergipe, Paraná e Rio Grande do Sul. South, além de ouvir especialistas para construir recomendações para atores governamentais, empresariais e da sociedade civil.

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O trabalho revela que o principal impacto para os agricultores familiares e trabalhadores foi a perda de renda. Mais de dois terços dos agricultores entrevistados tiveram redução de rendimentos, devido à queda do preço pago pela tonelada de frutas, aumento do preço dos insumos e fechamento de feiras. A interrupção de programas governamentais como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), devido ao fechamento de escolas, também afetou esses produtores. O Auxílio Emergencial e o Auxílio Brasil foram importantes fontes de renda adicional para 30% dos agricultores entrevistados.

Entre os assalariados, a redução nas contratações foi a principal dificuldade. Cerca de 42% tiveram queda de renda e 23% ficaram sem trabalho, sendo que 58% necessitaram de auxílio governamental para suprir suas necessidades.

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Como resultado, agricultores e trabalhadores tiveram que reduzir seu consumo. Segundo o levantamento, 59% dos entrevistados reduziram a compra de itens da cesta básica. “Ao mesmo tempo que houve redução de renda, aumentou a necessidade de compra de alimentos, pois as crianças deixaram de ir à escola e não tiveram acesso à merenda, e houve urgência na compra de itens de higiene e saúde. Isso mostra o grande desafio dessas famílias”, destaca Heidi Buzato, Coordenadora Social do Imaflora.

Outro impacto negativo importante apontado no estudo foi sobre a educação. Durante a pandemia, quando os alunos começaram a ter atividades online em todo o país, cerca de 50% das famílias entrevistadas tinham filhos em idade escolar. No entanto, muitos deles não possuíam equipamentos e rede de internet de boa qualidade, trazendo à tona a deficiência na inclusão digital dessa população. “A consequência dessa dificuldade de acesso das crianças aos estudos durante os anos de pandemia ainda é inestimável e pode ter um efeito muito prejudicial em seu futuro. É um impacto que só será percebido nos próximos anos”, diz Arnaldo Brito, assessor de Política Agrícola da Contag.

Por outro lado, o estudo mostra que os cuidados para evitar a doença foram incorporados ao cotidiano: 100% dos entrevistados usavam máscara, o uso de álcool gel foi citado por 93% e o distanciamento social por 76%. Ainda assim, 23% relataram ter sido infectados com Covid-19. Dos entrevistados, apenas dez não tomaram a vacina (6%).

Para Heidi Buzato, do Imaflora, em situações de emergência como a vivida com a chegada da pandemia de Covid-19, medidas devem ser tomadas para proteger os agricultores familiares e trabalhadores rurais, a fim de garantir a soberania alimentar do país.

“Os dados reforçam para os agentes da cadeia produtiva da laranja quais são os papéis fundamentais que governos, sindicatos e empresas precisam desempenhar para garantir direitos básicos diante de uma situação tão inesperada, para que estejam atentos e façam jus aos seus direitos”, diz Diana de Oliveira Assessora de Projetos da Contar.

Entre as recomendações para proteger os trabalhadores e agricultores familiares, o estudo aponta que os governos devem fornecer informações de qualidade com rapidez, evitando a disseminação de notícias falsas; oferecer complementação de renda e criar programas e políticas públicas para fortalecer a agricultura familiar e proteger os trabalhadores, com ênfase no combate à informalidade.

Para as empresas que compram produtos da agricultura familiar, o estudo recomenda a manutenção dos contratos de compra e manutenção de preços. E para quem contrata trabalhadores, é apontada a importância da manutenção dos empregos e salários e da adoção de todas as medidas preventivas.

Para os sindicatos, o estudo indica a divulgação de informações adequadas e no tempo necessário, campanhas de sindicalização buscando aproximar sindicatos e trabalhadores, criando oportunidades de participação feminina e cobrando políticas governamentais e ações das empresas.

Perfil dos entrevistados

Entre os entrevistados que participaram do estudo, 11,6% são mulheres, 46% são trabalhadores permanentes e os demais trabalham em diversos tipos de trabalho temporário. Trabalhadores fixos são aqueles com os maiores salários, acima de 2 salários mínimos. Entre os demais, em diferentes formas de trabalho temporário, 17% ganham menos de 1 salário mínimo e 39% ganham entre um e dois salários mínimos, configurando um universo de baixos salários.

Mais informações sobre o estudo podem ser acessadas na cartilha “Vencendo a Pandemia na Cadeia da Laranja”, disponível no site www.imaflora.org.

Com informações consultivas*



Fonte: Agro

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