Pular para o conteúdo

É do Brasil: Entenda como a sustentabilidade deu origem a uma das…

    E do Brasil Entenda como a sustentabilidade deu origem a

    Café que pode ser negociado a R$ 6.000,00 o kg no exterior teve início despretensioso e nasceu de “problema” no Espírito Santo

    Você sabia que um dos cafés mais caros do mundo é produzido exclusivamente em uma fazenda no Brasil? O famoso “Café Jacu” tem endereço certo por aqui, no estado do Espírito Santo, é produzido de forma inusitada e isso só é possível através da sustentabilidade e preservação ambiental ocorrendo na prática.

    Patrocinadores
    caféjacu

    Porém, para entender a história de um dos cafés mais exóticos do mundo, é preciso voltar no tempo, pois a trajetória da Fazenda Camocim começou em 1962 em um projeto de recuperação florestal. Olivar Araújo foi quem deu o pontapé inicial nos trabalhos da fazenda. Conhecido como o “catador de árvores” por 30 anos ele realizou trabalhos de plantio de árvores, proteção de nascentes e recuperação do solo.

    linha do tempo-2
    Olivar Araújo: O “catador de árvores”

    Mesmo sem saber, foi com essa iniciativa que Olivar iniciou o trabalho de um dos mais ilustres do mundo. Antes do café, as terras, de grande altitude e com temperaturas amenas, eram destinadas ao cultivo da madeira. Foi somente em 1996, sob o comando de Henrique Sloper, que o café começou a ser implantado na fazenda.

    Patrocinadores

    “Meu avô queria diversificar a produção e não ficar só na madeira. A gente plantava frutas e o café veio nessa época. Aqui o café nasceu com viés de qualidade”, diz o empresário, lembrando que na época o Espírito Santo já era foi fortemente reconhecida por sua produção, mas ainda com destaque apenas com o café commodity.

    O viés de qualidade, cultivado em uma área que já nasceu com preocupações ambientais, também partiu de um projeto que visava produzir um grão sem agrotóxicos, 100% orgânico. Alguns anos depois, a fazenda passou a praticar o cultivo do café biodinâmico, que apresenta melhor qualidade, resistência a pragas e enriquece o solo onde é cultivado.

    1
    Projeto café e agrofloresta: combinação perfeita para um dos cafés mais valorizados do mundo

    “Meu avô sempre teve essa ideia de não usar agrotóxico na terra. Aqui tem muita matéria orgânica, o solo é diferente. Meu avô cearense tinha até 101 anos e tinha uma visão empreendedora. Tivemos muito apoio dos agrônomos e do próprio Incaper”, comenta.

    Com informações limitadas por mais de 20 anos e com foco em atingir padrões de qualidade e sustentabilidade, o início do café foi marcado por uma série de tentativas e erros na fazenda. Pelo menos nove cultivares foram testados.

    6
    C0043T01
    Pós-colheita exige ainda mais cuidado com o café Jacu​​​​​

    “A ideia no início sempre foi ter uma produção mais espaçada, não concentrada pela dificuldade da colheita já que aqui é tudo manual, não tem como mecanizar. ano”, explica. Por lá, a colheita da safra vai de abril a meados de novembro.

    As primeiras certificações da Fazenda chegaram nos primeiros anos da cafeicultura. Em 1999, a Camocim foi certificada pelo Instituto Biodinâmico (IBD), cujo principal objetivo é garantir a autenticidade da produção sem quaisquer aditivos químicos.

    Mas e Jacu, quando começou?

    jacu

    O café super especial é uma resposta ao trabalho da agrofloresta. “Foi totalmente sem querer. A ave já habitava essa região, ela tem essa característica de viver na mata e como aqui era uma agrofloresta, com café dentro, virou o ambiente ideal para ela se reproduzir. Então temos um trabalho a fazer preservar o animal”, comenta.

    Sem querer, a ave também virou um “alerta de colheita”, pois onde está comendo as frutas, significa que o café está maduro. “Ele serve para espalhar o café pela região. E aqui, como é uma lavoura orgânica, você não está introduzindo nenhum produto químico na ave, o que é importante para a preservação da espécie”, acrescenta.

    5

    A indicação da colheita no início era realmente um problema. Henrique percebeu que os ataques de Jacu aconteciam com frequência e sempre nos melhores frutos. A solução surgiu quando Henrique lembrou de um café produzido na Indonésia, o Kopi Luwak, também feito de grãos extraídos das fezes de outro animal, a civeta.

    Foi a partir desse momento que ele começou a buscar formas de trazer a prática para sua fazenda, minimizar impactos, manter o jacu em seu habitat natural e ainda garantir mais rentabilidade.

    Por se tratar de uma colheita extremamente seletiva, o volume é limitado. Segundo o empresário, são colhidas de três a quatro toneladas desse tipo de café. A primeira exportação foi com destino a Londres e, na época, o Ibama teve que emitir um certificado comprovando as boas práticas e principalmente a preservação do animal para o cultivo do café.

    Henrique
    Henrique Sloper durante degustação de café no Camocim

    “A diferença na Indonésia é que aqui eles são livres, o espaço virou uma área de reprodução da espécie”, comenta. A ave que está presente em toda a Mata Atlântica aparece na fazenda no período de inverno, para reprodução, que acabou coincidindo com o período de maturação.

    O café Jacu é destinado principalmente ao mercado internacional com valor agregado que chama a atenção. No Brasil, o quilo do café é negociado em torno de R$ 1.000,00, mas na Europa a venda pode chegar a R$ 6.000,00. O café Jacu hoje é encontrado nas melhores cafeterias do mundo.

    Henrique também foi presidente da BSCA, representando o Brasil ao redor do mundo

    PH100605

    À frente da Fazenda Camocim, Henrique Sloper está há anos envolvido diretamente com o mercado de cafés especiais no Brasil. O empresário, que também foi presidente da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) reforça que esse é o caminho atualmente para o país seguir conquistando espaço no cenário atual: boas práticas agrícolas e resultados da xícara.

    Henrique reconhece o avanço do país na produção de qualidade, ressaltando mais uma vez que esse consumidor está cada vez mais exigente. Rastreabilidade, certificação e comunicação transparente são, mais do que nunca, fatores essenciais para que o produtor ganhe espaço e, principalmente, valor agregado ao produto.

    “Esse é o caminho, boas práticas e produção consciente, não tem outro. Hoje somos referência na região e estamos de portas abertas para quem quiser conhecer nosso trabalho sério de sustentabilidade, qualidade e valorização da cadeia do café” , conclui.



    Fonte: Noticias Agricolas