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Custos mais altos acima da inflação apertam margens dos avicultores

    Foto de Larissa Schäfer

    A lenha que aquece os aviários, a energia elétrica e a mão de obra foram os itens que mais pesaram no bolso dos avicultores do Paraná nos últimos seis meses, conforme mostra o levantamento de custos de produção em avicultura, realizado pela FAEP/SENAR- PR. Os dados mostram que, assim como em anos anteriores, a atividade trabalha com margens apertadas, que foram agravadas pela alta registrada em vários itens fundamentais para a produção, que superam a inflação registrada no mesmo período.

    O estudo mostrou que 92% das propriedades analisadas estão trabalhando no vermelho, pois não conseguem cobrir os custos totais de produção com o valor recebido pelos integradores. Em 88,5% das modalidades, o saldo recebido cobriu os custos variáveis, o que significa que a remuneração recebida pelos produtores foi suficiente apenas para cobrir os custos do lote. Mesmo assim, a médio e longo prazo, a atividade não é sustentável, pois não haveria como cobrir o desgaste dos equipamentos, renovar ou ampliar suas instalações.

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    Em comparação com o último levantamento (novembro de 2021), a receita total recebida pelos avicultores aumentou em todos os modais analisados. Mesmo assim, os ganhos recebidos não foram suficientes para cobrir os custos totais, que em 77% dos casos registraram um aumento superior à receita. “Tudo subiu. A maravalha que era R$ 7,00 há 90 dias agora é R$ 19,00. Diesel, mão de obra, energia elétrica são mais caros”, diz o avicultor Juarez Pompeu, que participou do painel em Chopinzinho, na região Sudoeste.

    Segundo o produtor, a situação dos avicultores, que já não era boa, está piorando. “No ano passado mais de 90 aviários fecharam na região. O produtor toma dinheiro emprestado do banco [para construção e adequação dos aviários]não conseguem acompanhar a tecnologia ou investir, então acabam deixando [da atividade]”, relata.

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    modos de produção

    Em Chopinzinho, foram analisados ​​sete modos de produção diferentes. Ao todo, a receita total foi suficiente apenas para cobrir os custos variáveis. Ao analisar o custo total, o prejuízo chega a R$ 0,48 por ave entregue. O maior custo de produção levantado neste painel foi a mão de obra, que responde por mais de 30% dos custos variáveis ​​de um galpão de 100 x 12 metros com produção de frango grelhador na região. Em segundo lugar está o aquecimento (lenha), com participação de 19,54%.

    Segundo a técnica do Departamento Técnico Econômico (DTE) do Sistema FAEP/SENAR-PR, Mariani Benites, em praticamente todas as regiões e modalidades analisadas, a remuneração dos produtores não aumentou na mesma proporção que os custos de produção. Das 26 propriedades modais analisadas, apenas duas apresentaram saldo positivo sobre o custo total. Ainda assim, 11,5% não conseguiam arcar nem com o custo variável, ou seja, pagavam para trabalhar. “O cenário de médio e longo prazo é preocupante, pois o produtor não está conseguindo ter uma reserva para quando precisar renovar suas instalações e equipamentos, nem a remuneração do capital investido na atividade”, conclui o técnico.

    Os dois únicos modais que conseguiram cobrir os custos totais de produção estão localizados na região de Cianorte. São galpões de 160 x 16 e 180 x 18 metros que produzem frangos pesados ​​para a integradora Avenorte e registraram saldo sobre o custo total de R$ 0,05 e R$ 0,39 por ave, respectivamente. Na região, o relacionamento entre produtores e integrador é estruturado com um Cadec atuante. Dessa forma, as negociações entre as partes acontecem de forma equilibrada e com base em dados técnicos.

    ganho de escala

    Outra informação que emergiu na pesquisa foi o ganho de escala. Em algumas modalidades que possuem mais de um galpão, é possível notar que os gastos são diluídos à medida que aumenta o número de aves alojadas, melhorando as margens dos produtores. É o caso do produtor Carlos Maia, que possui 12 galpões em São João do Caiuá, na região Noroeste, onde abriga 500 mil aves.

    “Com a produção em escala, consigo racionalizar o custo. Em vez de comprar um saco de cal, compro um caminhão fechado. Quando compro lenha, são 10 alqueires de eucalipto. Para o trabalho a mesma lógica. Tenho dois tratores trabalhando 24 horas para atender os 12 galpões. Tem gente que tem dois galpões e tem trator”, compara.

    Outro ponto importante é a independência energética, alcançada quando o produtor consegue gerar o insumo para consumo na própria propriedade. Vale lembrar que na avicultura essa despesa representa quase 20% do custo de produção.

    No caso da Maia, essa independência veio com a instalação de painéis fotovoltaicos, permitindo que 100% da energia utilizada nos galpões venha do sol. “Costumávamos gastar R$ 100 mil com energia em um lote, uma média de R$ 50 mil por mês. Este último mês paguei apenas R$ 200”, comemora o avicultor.

    “Sem dúvida, a energia elétrica foi o fator que mais impactou os custos de produção avícola. Os produtores estão recebendo diversos incentivos, tanto do governo estadual quanto federal, para que tenham fontes de energia sustentáveis, como eólica, biogás ou fotovoltaica”, observa Diener Santana, da Cianorte.

    Fonte: Agro