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Alto custo para produção de suínos mantém atividade no vermelho

    Foto de Larissa Schäfer

    A crise global pós-pandemia, a Guerra na Ucrânia e fatores internos da economia nacional não abrandaram e ainda há uma defasagem nos valores praticados no setor. “A suinocultura é um dos carros-chefe da atividade pecuária no Paraná, tanto para o mercado interno quanto para alimentar o mundo. Seja em momentos de crise como o que vivemos ou em dias com melhores resultados, é fundamental ter uma conversa afinada entre agroindústrias e produtores. E para isso, precisamos nos basear em números, justamente o que fazemos há tantos anos ao gerar dados de qualidade para subsidiar as negociações”, avalia o presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR, Ágide Meneguette.

    tempestade perfeita

    É preciso considerar que a suinocultura vive uma grande crise desde o início de 2021. “O que está pegando é o custo muito alto, sem perspectiva de queda nos preços do milho e da soja, e a oferta crescente de suínos no o mercado interno. Com esta edição da Guerra na Ucrânia, as exportações para a Rússia pararam, e com a questão do Covid-19, os portos da China fecharam. Temos perspectiva de melhora, com a reabertura dos portos chineses, apesar do alto custo dos contêineres”, lembra a presidente da Comissão Técnica (CT) de Suinocultura do Sistema FAEP/SENAR-PR, Deborah de Geus.

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    “A verdade é que vivemos em uma ‘tempestade perfeita’. Tudo o que poderia dar errado, aconteceu.”

    Débora de Geus

    De acordo com levantamento do Sistema FAEP/SENAR-PR, proprietários de uma Unidade de Produção de Leitões (UPL integrada), por exemplo, tiveram um aumento significativo nos custos de produção em relação ao levantamento anterior, em novembro de 2021. O custo total por cabeça atingiu R$ 66,04, enquanto a renda do produtor foi de R$ 46,87 – prejuízo de R$ 19,17 por leitão.

    “Embora vejamos um aumento no valor pago ao produtor, a receita obtida não é suficiente para cobrir os desembolsos, e insuficiente para pagar a depreciação das máquinas e equipamentos e a remuneração do capital investido”, aponta Nicolle Wilsek, técnica do Técnico e (DTE) do Sistema FAEP/SENAR-PR.

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    O cenário também é semelhante na modalidade Unidade de Produção de Leitões Desmamados (UPD integrada), em que o item “despesas financeiras” foi o principal responsável pelo aumento dos custos de produção, com aumento de mais de 40%. “Os preços dos combustíveis registraram forte alta, assim como a eletricidade. Este último devido à redução dos subsídios para a classe rural e a aplicação da bandeira vermelha, devido à estiagem ocorrida no último semestre. Apesar do aumento da receita do produtor ter sido de 12,93% para o leitão da região Oeste, as margens continuam negativas”, acrescenta Nicolle.

    Na Creche (UC), a operação no vermelho também é uma realidade. Houve aumento de 81,73% nos custos fixos e a depreciação não permitiu ao produtor obter rentabilidade positiva, somada à queda de 7,14% no preço pago ao produtor na comparação entre os levantamentos no final de 2021. “Receita por animal foi de R$ 6,50, o custo variável foi de R$ 6,54. O custo operacional chegou a R$ 10,43 e o custo total foi de R$ 12,94 para o produtor integrado, tornando a atividade insustentável no curto prazo”, alerta o técnico do DTE.

    Situação seria ainda pior sem Cadecs

    A possibilidade de negociação entre produtores rurais e agroindústria no âmbito das Comissões de Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação da Integração (Cadecs) fez com que os dois elos da cadeia produtiva compartilhassem, em parte, os danos causados ​​pela “tempestade perfeita”. ”. Um exemplo vem do Marechal Cândido Rondon, no oeste do Paraná. O suinocultor Eloi Daga Favero, que possui uma granja de 770 porcas para produção de leitões desmamados (7,5 quilos), destaca a importância de uma planilha unificada com a agroindústria.

    “Tivemos um aumento significativo de custos e as empresas não conseguiram repassar esse reajuste integral porque também estão em déficit. Mas hoje podemos sentar e debater a partir de um único número. Acabou aquela história de nós produtores pegando um índice e a agroindústria outro. Com a mesma planilha, no ano passado, mesmo em momentos de perda de atividade, tivemos ganhos dentro das reuniões do Cadec. Não é o ganho que esperávamos, mas quando a crise reverter, assim como éramos sócios na hora das perdas, vamos exigir que sejamos sócios nos lucros”, resume Favero.

    Quem também participa das reuniões do Cadec no oeste do Paraná é a suinocultora Ana Cristina Schneider Scheaedler, de Toledo, que tem um sistema de produção integrado para produzir leitões e engordar até cerca de 23 quilos. O aumento dos custos fez com que sua receita diminuísse em torno de 15%, mas com transparência e diálogo com a agroindústria, o sentimento na região tem sido de apertar o cinto até que dias melhores cheguem.

    “É uma queda significativa na receita. Mas a situação seria pior se o Cadec não tivesse as nossas exigências de aumento. Conseguimos reajustes que hoje fazem muita diferença no contexto de crise que vivemos”, revela Ana Cristina.

    Em Dois Vizinhos, na Região Sudoeste, o produtor Miguel Thomas possui uma granja com 650 porcas na mesma modalidade de Ana. O suinocultor também cita como um dos principais avanços a unificação da planilha de custos para produtores e agronegócios dentro do Cadec. “Quando a forma de obter os números foi unificada, tudo começou a melhorar, porque a empresa visualiza as defasagens que temos. Conseguimos reduzir as perdas, de 30% de defasagem no início e para 10% agora. Hoje não estamos sentindo tanto a crise”, comemora Thomas.

    Lei de Integração

    O Sistema FAEP/SENAR-PR foi uma das principais entidades representativas do agronegócio nacional a assumir a ideia de criar, no Congresso Nacional, a chamada Lei da Integração (13.288/2016), que completou seis anos em maio de 2022 .

    A ferramenta cria fóruns equilibrados que contam com representantes das agroindústrias e produtores para criar consenso sobre as principais questões envolvidas na cadeia produtiva, incluindo os valores de repasse aos pecuaristas nas cadeias integradas – entre elas a suinocultura. Atualmente, o Paraná conta com seis Cadecs na suinocultura.

    Fonte: Agro