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Ciência e tecnologia permitem safras recordes de soja

    Como esta o mercado de soja

    Na safra 2022/23, o Brasil deve produzir mais de 150 milhões de toneladas de soja, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), novo recorde nacional, que mantém o país na liderança mundial na produção do grão, seguido pelos Estados Unidos e da Argentina.

    Historicamente, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que no dia 26 de abril completa meio século de existência, vem liderando redes de pesquisa para gerar soluções sustentáveis ​​para aumentar a produção de soja, reduzir os custos de produção, as emissões de CO2 relacionadas à sua produção e aumentar a renda dos produtores.

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    “Nossas equipes têm muito orgulho de participar deste capítulo de sucesso e entendemos que nossa contribuição para o agronegócio da soja coloca a Embrapa como referência mundial no desenvolvimento de tecnologias para a cultura em regiões tropicais”, avalia o chefe-geral da Embrapa Soja, Alexandre Nepomuceno . “Todo o esforço para tropicalizar essa cultura permitiu que o Brasil deixasse de ser importador do grão, na década de 1970, para se tornar o maior produtor e exportador de soja do mundo. Tudo isso apoiado em ciência e inovação”, comemora Nepomuceno.

    Levantamento feito por Nepomuceno, indica que a cultura da soja foi a que mais cresceu no Brasil nas últimas cinco décadas, tanto que de 1973 a 2023, a produção aumentou mais de 1000% e a área pouco mais de 400 %, demonstrando o aumento de produtividade. “Podemos dizer que o aumento contínuo da produtividade da soja por hectare é baseado em ciência e tecnologia, permitindo que os produtores adotem as melhores tecnologias na produção agrícola brasileira. O Brasil consegue, assim, produzir mais em menos espaço e com muita eficiência”, destaca Nepomuceno.

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    Atualmente a soja é cultivada em 20 estados e no Distrito Federal e os principais estados produtores são: Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Paraná e Goiás. Grande parte da produção brasileira é exportada para a Ásia (principalmente China) e Europa, entre outras regiões do planeta.

    tropicalização da soja

    Fundada em 16 de abril de 1975, em Londrina (PR), a Embrapa Soja tem como missão desenvolver tecnologias sustentáveis ​​para a produção de soja no Brasil. Até a década de 1980, os plantios comerciais de soja no mundo estavam restritos a regiões de clima temperado e subtropical, cujas latitudes eram próximas ou superiores a 30º.

    “O produtor brasileiro teve que usar cultivares importadas dos Estados Unidos, adaptadas apenas para a região Sul do Brasil”, explica o pesquisador Carlos Arrabal Arias. “Com as pesquisas da Embrapa Soja, conseguimos romper essa barreira, desenvolvendo variedades adaptadas às condições tropicais de baixas latitudes, permitindo o cultivo da oleaginosa em todo o Brasil”, diz Arias.

    Segundo o pesquisador, a primeira cultivar genuinamente brasileira foi a Doko, lançada em 1980, para o Brasil Central. “Depois desse lançamento, o programa de melhoramento genético da soja continuou gerando novas cultivares de alto rendimento, com alta sanidade e adaptadas às regiões do Brasil”, explica Arias.

    A Embrapa é uma das únicas instituições que desenvolve paralelamente diferentes plataformas tecnológicas: tanto a soja convencional com resistência a diversas pragas e doenças, quanto a soja geneticamente modificada resistente a insetos e herbicidas. Atualmente, a Embrapa Soja é curadora de um dos maiores bancos ativos de germoplasma de soja do mundo. São mais de 65.000 acessos (tipos) de soja que preservam a variabilidade genética do grão, garantindo a solução de problemas passados, presentes e futuros.

    O foco é a sustentabilidade do cultivo

    Além do desenvolvimento de novas cultivares, a Embrapa Soja tem defendido práticas de manejo responsável desde a semeadura até a pós-colheita da soja. “As tecnologias estão a serviço da sustentabilidade dos sistemas produtivos, atendem diferentes perfis e portes de propriedades agrícolas, contribuem para a rentabilidade do produtor, para a preservação do meio ambiente e para a geração de benefícios para todo o sociedade”, explica Adeney de Freitas Bueno, chefe de Pesquisa & Desenvolvimento da Unidade.

    A expansão do cultivo da soja está diretamente associada à adoção do Sistema de Plantio Direto (SPD), que se baseia na redução do revolvimento do solo pela preservação de sua cobertura por plantas cultivadas ou seus resíduos vegetais e na rotação de culturas. “O SPD reduz a erosão e economiza corretivos, fertilizantes e operações de preparo do solo, além de permitir maior armazenamento de água no solo, beneficiando a cultura em épocas de estiagem”, explica o pesquisador Alvadi Antonio Balbinot, da Embrapa Soja.

    Nas últimas cinco décadas, a pesquisa também colaborou com um conjunto de recomendações para equalizar o uso dos solos brasileiros, especialmente aqueles com alta acidez e baixa fertilidade natural, a partir da aplicação de calcário e fertilizantes com base em critérios técnicos. “Essas recomendações colaboraram com as ações que permitiram o cultivo da soja no Cerrado brasileiro”, diz o pesquisador Adilson de Oliveira Jr.

    Outra contribuição para o sistema de produção de soja foi a inoculação com bactérias fixadoras de N (rizóbios). “Essa solução proporciona uma economia anual estimada em R$ 38 bilhões por safra, ao dispensar o uso de fertilizantes nitrogenados”, afirma a pesquisadora Mariangela Hungria, da Embrapa Soja. Em 2014, a Embrapa Soja identificou outra bactéria benéfica que estimula o crescimento da soja (Azospirillum). A associação dessas bactérias resulta em ganhos de produtividade em torno de 16% ao ano. A fixação biológica de nitrogênio utilizada na cultura da soja também permite a redução das emissões de gases de efeito estufa.

    Os pesquisadores da Embrapa Soja também geraram tecnologias que proporcionam o manejo integrado de insetos-praga, doenças e plantas daninhas, utilizando diferentes métodos – químicos, mecânicos, biológicos e culturais – para prevenir e controlar esses problemas, possibilitando a produção de soja em diferentes condições de solo e clima no Brasil . A adoção do Manejo Integrado de Insetos (MIP-Soja) permite reduzir em 50% o uso de inseticidas na lavoura, garantindo maior rentabilidade aos sojicultores, além de maior preservação ambiental.

    Nos últimos 50 anos, a pesquisa brasileira também gerou tecnologias para melhorar a qualidade das sementes de soja. “O uso de sementes de alto vigor promove ganhos de produtividade superiores a 9%, em comparação com o uso de sementes de baixa qualidade”, aponta o pesquisador José de Barros França Neto.

    Novos desafios, novas soluções

    Para colaborar com a sustentabilidade produtiva da soja, a Embrapa direciona atualmente suas ações em quatro eixos de pesquisa: Genética Avançada, Bioinsumos, Soja de Baixo Carbono e Agricultura Digital. As pesquisas têm sido direcionadas para aumentar a participação dos insumos biológicos no controle de insetos-pragas e doenças e na promoção do crescimento vegetal, bem como na substituição de fertilizantes de fontes não renováveis ​​por insumos de base biológica.

    O programa Soja Baixo Carbono (SBC), lançado pela Embrapa Soja, visa atestar a sustentabilidade da produção brasileira de soja, a partir da mensuração de benefícios e da certificação de práticas produtivas que reduzem as emissões de gases de efeito estufa.

    Além disso, há a revolução nos laboratórios, liderada pela edição do genoma. “Essa técnica permitiu a edição do genoma da soja, possibilitando deletar ou alterar pequenas partes do próprio DNA da planta para atingir características desejáveis. No Brasil, e em muitos países, a soja geneticamente modificada pela tecnologia CRISPR/Cas, por exemplo, tem sido considerada convencional, não transgênica, o que agiliza sua inserção no mercado”, explica Nepomuceno.

    A transformação digital vem trazendo mudanças no campo, por meio de soluções de conectividade, sensoriamento remoto, sensores, drones, entre outros. “A agricultura digital potencializa o monitoramento das lavouras, a racionalização no uso de insumos, facilitando e aumentando a eficiência do produtor em suas decisões, permitindo aumento de produtividade e lucratividade”, argumenta Nepomuceno.

    “Com a condução integrada desses quatro eixos de pesquisa, estamos colocando a Embrapa Soja frente aos grandes desafios contemporâneos e na busca de soluções sustentáveis ​​para o agronegócio da soja”, conclui o responsável pela Unidade.

    grão que alimenta

    A soja é um alimento proteico-calórico, que possui entre 36% e 40% de proteína nos grãos, sendo a principal fonte de proteína de qualidade no mundo e disponível em grandes volumes. A leguminosa é a base da alimentação animal, garantindo melhorias na qualidade da carne suína, bovina e de aves, além de leite, ovos e outros produtos de origem animal. Na alimentação humana, a soja é utilizada diretamente na culinária (grão, óleo, farinha, farelo, proteína isolada e lecitina) ou como matéria-prima pela indústria alimentícia. A partir do desenvolvimento tecnológico, o grão passou a desempenhar múltiplas funções e usos, podendo também ser utilizado para produção de biocombustíveis, indústria cosmética, produtos terapêuticos, pneus, além de outros usos não convencionais.



    Fonte: Agro