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Boi Bacamarte – Uma história intrigante

Sumário:

1. Identificação do personagem Bacamarte

1.1 Início do programa de recolhimento dos “loucos da cidade”

1.2 Reflexão sobre o conceito de loucura

1.3 Spoiler do conto

2. Diferença nas projeções do rebanho bovino do Brasil para 2024

2.1 Dados da CONAB

2.2 Dados do USDA

2.3 Margem de erro e a questão de quem está em erro

3. Pressão na pecuária brasileira

3.1 Crescimento da agricultura e restrições ambientais

3.2 Concentração do abate e cartelização do setor

3.3 Conjuntura internacional e impacto nas exportações

4. Queda de preços e custos da produção

4.1 Impacto da queda de preços para o invernista

4.2 Altas nos custos e insumos da produção

4.3 Resultado desfavorável para a atividade pecuária no Brasil

5. Importância da pecuária para o consumidor

5.1 Intervalo entre a ação e consequência

5.2 Abate de fêmeas e comprometimento da recomposição do rebanho

6. Ciclo longo da pecuária e repercussões futuras

6.1 Exemplo dos EUA e falta de gado para abate

6.2 Possibilidade do Brasil enfrentar um cenário semelhante

6.3 Impacto nos resultados dos frigoríficos

Introdução:

Em “O Alienista”, Machado de Assis apresenta o personagem Bacamarte, um médico psiquiatra que implementa um programa de recolhimento dos “loucos da cidade” em um hospital psiquiátrico. Em meio a essa história, surge a reflexão sobre o conceito de loucura e a possibilidade inversa de que os loucos sejam os normais e vice-versa. Essa reflexão pode ser aplicada ao contexto atual da pecuária brasileira, que enfrenta desafios e pressões de diversas frentes. Neste post, discutiremos a diferença nas projeções do rebanho bovino para 2024, a pressão na pecuária brasileira, a queda de preços e custos da produção e as repercussões futuras dessa situação. É importante compreender a importância da pecuária para o consumidor e as consequências que podem surgir a médio e longo prazo. Vamos explorar cada um desses tópicos em detalhes.

Louco de pedra.

Boi Bacamarte

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Em O ALIENISTA o grande escritor Machado de Assis traz a figura do que então se chamavam de “alienista”, um médico psiquiatra.

O personagem machadiano chamava-se Bacamarte.

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Este Bacamarte, de forma resumida, iniciou em uma pequena cidade um programa de ‘recolhimento’ a um hospital psiquiátrico dos ‘loucos da cidade’ e, à medida que o conto caminha, mais e mais pessoas são recolhidas ao hospício (acho que não se pode mais, politicamente correto, falar assim de hospitais psiquiátricos) chegando à culminância de que em determinado momento quase todos da cidade estavam recolhidos aos ferros como loucos.

Bacamarte, que era honesto, passa então a refletir: se quase todos, sob minha análise psiquiátrica, são loucos quem sabe, então, o conceito mesmo de loucura não seja inverso, tal seja, os loucos são os normais e os normais são loucos?

Bem, não vou dar aqui o spoiler do conto.

Mas a reflexão vale hoje.

Recentemente tivemos a divulgação de dados sobre o rebanho bovino do Brasil para 2024.

Um dado veio da CONAB. Aponta um rebanho em 2024 de 232 milhões de cabeças bovinas no Brasil em 2024.

Outro dado veio do USDA, o departamento de pesquisa agropecuária dos EUA. Aponta um rebanho em 2024 de 186 milhões de cabeças bovinas no Brasil em 2024.

São 46 milhões de cabeças entre uma e outra projeção.

Tal diferença não está na margem de erro.

Praticamente 20% entre uma e outra análise.

Por comezinha lógica alguém está em erro. A CONAB ou o USDA?

Quem conhece e está inteirado da realidade da pecuária brasileira sabe, de “bate pronto”, a resposta.

A pecuária brasileira vem, não de agora, sofrendo uma “pressão” de várias frentes. Em primeiro lugar, claro, o crescimento da agricultura que de certa maneira “empurra” a atividade para longe, ocupando espaço (terras). De outro lado restrições (na maioria das vezes injustificadas) ambientais que já repercutem na restrição de comercialização.

Também não é de se esquecer a conjuntura de concentração do abate que levou a cartelização do setor e a deixar o produtor à mercê de poucos grandes grupos financeiros.

Soma-se a tal a conjuntura internacional (que tem na China o seu grande propulsor) passando por um momento de, digamos, assim menos apetite comprador.

Por óbvio que a produção brasileira de carne não tem na exportação, como países como Uruguai, o mercado internacional como denominador já que majoritariamente a carne brasileira é destinada ao mercado interno. No entanto, é inegável que a cotação internacional termina por influir e também ser um fator de preço ao mercado interno já que, se tivéssemos preços em alta no mercado internacional, a pressão de demanda internamente seria afetada.

Dessa conjunção de fatores resulta uma queda brutal de preços para o invernista, na ponta e, claro, a transmissão desta queda a toda cadeia produtiva da pecuária.

Por outro lado todos os custos e insumos da produção tiveram altas, sejam tratos sanitários, suplementos e grãos.

A resultante, a conta no final desta equação, aponta para uma situação realmente desfavorável à atividade pecuária no Brasil.

Mas e daí poderá o leitor perguntar. O que interessa choramingas de produtores rurais? A picanha não está mais barata na gôndola do supermercado? Não é isso que importa?

Em um primeiro e imediato momento sim.

Há um delay entre uma ação e sua consequência.

Pensemos: você vê o Mike Tyson em um bar. Levanta, vai até ele, o cumprimento e dá-lhe um tapa na cara. Esta é a ação. Certamente entre esta ação (o tapa na cara) e sua cabeça rolar ao piso (consequência) haverá um intervalo. A curva deste intervalo, ao burro, pode indicar que não haverá consequência ou dizer, nos 30 segundos até a reação do Tyson: “viu, estapeei o Tyson e nada aconteceu”.

Bem, parece, estamos vivendo este intervalo.

Ao consumidor (e governo) parece que está tudo ótimo. Aos frigoríficos também.

Mas, claro, haverão consequências…

Este ano todo de 2023 estão sendo liquidadas fêmeas à proporção que qualquer aprendiz de contabilidade pode apontar que significa um grave comprometimento da recomposição do rebanho. É o chamado cálculo atuarial. A proporção de abate não pode superar, em regra, 30% de fêmeas. Acima deste montante o rebanho está sendo, literalmente, liquidado.

Justamente é isso que está acontecendo no Brasil hoje. Se abate fêmeas hoje em proporção maior e justamente este aumento do abate de fêmeas que gera o aumento do abate em 2023.

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Gráfico de abate do primeiro semestre de 2023.

A pecuária tem um ciclo longo. Para se ter um boi no gancho, aos 30 meses, tem-se de ter uma bezerra que levou 9 meses de gestação + 9 meses de desmame + 20 meses até a prenhez + 9 meses até a gestação + 9 meses até o desmame + 20 meses até o abate.

São 6 anos.

Assim, o que estamos fazendo hoje vai repercutir pelos próximos 3 anos no mínimo.

Vejamos os EUA.

É um case interessante.

Lá houve uma diminuição do rebanho bovino. Na verdade hoje falta gado para abate. Tal é bem visível nos resultados dos frigoríficos que vem demonstrando resultados aquém dos esperados justamente porque o rebanho diminuiu e agora tem de pagar mais caro.

O Brasil parece estar na ante sala deste cenário. Claro, na parte da ‘festa’ dos frigoríficos que, aproveitando-se das baixas de valores, aceleram as compras que são as liquidações do rebanho. Sobra carne e crescem os lucros.

Mas a força de Tyson (= mercado) não pode ser anulada.

 

Izner Hanna Garcia, advogado, pós graduado FGV

[email protected]

 

 

 

Gostou das nossas dicas? Possui alguma outra que gostaria de compartilhar com a gente?

O ALIENISTA: Uma reflexão sobre a loucura e a sanidade na obra de Machado de Assis

Nas páginas de “O ALIENISTA”, Machado de Assis nos apresenta o intrigante personagem de Bacamarte, um médico psiquiatra conhecido na época como alienista. Nesta obra, Bacamarte inicia um programa de internação dos “loucos” em um hospital psiquiátrico em uma pequena cidade. Conforme a trama se desenrola, mais e mais pessoas são levadas para o hospício, chegando ao ponto em que quase toda a população da cidade está trancada como louca. Essa situação leva Bacamarte, um médico honesto, a questionar a própria concepção de loucura: se a grande maioria das pessoas, sob sua análise psiquiátrica, é considerada louca, então os loucos seriam os normais e os normais seriam os loucos?

Essa reflexão presente na obra de Machado de Assis continua relevante nos dias de hoje. Recentemente, houve a divulgação de dados sobre o rebanho bovino do Brasil para o ano de 2024. Duas projeções foram apresentadas por instituições renomadas: a CONAB previu um rebanho de 232 milhões de cabeças de gado, enquanto o USDA projetou um rebanho de 186 milhões. Essa diferença de 46 milhões de cabeças entre as duas análises é significativa e não pode ser atribuída apenas à margem de erro. É evidente que uma das instituições está cometendo um equívoco.

Quem está inteirado da realidade da pecuária brasileira saberá, sem dúvida, qual das duas projeções é mais precisa. A pecuária enfrenta diversos desafios, como o avanço da agricultura, que acaba ocupando espaço destinado ao gado, restrições ambientais muitas vezes injustificadas, concentração do abate em poucas empresas e o impacto da conjuntura internacional, influenciada principalmente pela demanda chinesa. Embora a exportação não seja o principal mercado para a carne brasileira, a cotação internacional ainda exerce influência nos preços internos.

Essa conjunção de fatores tem resultado em uma queda brutal de preços para o produtor e impacta toda a cadeia produtiva da pecuária. Enquanto os custos de produção continuam aumentando, a remuneração pelo gado vendido diminui. Essa situação é extremamente desfavorável para a atividade pecuária no Brasil e gera consequências que vão além das gôndolas dos supermercados.

É necessário compreender que as ações têm consequências e que nem sempre elas são imediatas. Assim como o intervalo entre dar um tapa no rosto de Mike Tyson e receber uma reação dele, existem consequências demoradas que só se manifestam depois de algum tempo. No caso da pecuária, o ciclo longo de produção envolve diversos estágios que levam, em média, seis anos até que um boi esteja pronto para o abate. Portanto, as ações tomadas hoje terão impacto nos próximos anos.

Um exemplo disso pode ser observado nos Estados Unidos, onde houve uma diminuição do rebanho bovino. Atualmente, falta gado para o abate, o que tem afetado os resultados dos frigoríficos, que precisam pagar mais caro pelo gado escasso. O Brasil está se encaminhando para uma situação semelhante, com os frigoríficos aproveitando a queda nos preços para acelerar as compras e aumentar os lucros. No entanto, é importante lembrar que o mercado possui sua própria força e eventualmente essa situação irá se reequilibrar.

Diante desse contexto, é necessário que estejamos atentos às consequências de nossas ações. O abate excessivo de fêmeas compromete a recomposição do rebanho e terá impacto nos próximos anos. É fundamental encontrar um equilíbrio entre a oferta e demanda, de forma a garantir a sustentabilidade da atividade pecuária no Brasil. Afinal, a saúde dessa importante indústria não afeta apenas os produtores, mas também todos os consumidores, que certamente irão sentir as consequências no preço da carne nas prateleiras dos supermercados.
Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal Do Campo

Conclusão

Diante da análise da situação da pecuária no Brasil, é possível concluir que a atividade enfrenta diversos desafios e pressões, tanto internas quanto externas. O crescimento da agricultura, restrições ambientais e a concentração do abate são apenas alguns dos fatores que contribuem para a queda dos preços e comprometem a atividade pecuária. Além disso, a atual liquidação de fêmeas no abate pode acarretar graves consequências para a recomposição do rebanho bovino nos próximos anos. É importante entender que as decisões e ações tomadas hoje terão reflexos no setor nos próximos anos, destacando a importância de buscar soluções sustentáveis e que garantam a viabilidade da pecuária brasileira.

Perguntas e Respostas:

h2. Por que há uma diferença tão significativa entre as projeções do rebanho bovino brasileiro em 2024 feitas pela CONAB e pelo USDA?

A diferença entre as projeções do rebanho bovino para 2024 feitas pela CONAB e pelo USDA pode ser atribuída a diferentes métodos de análise e coleta de dados utilizados por cada instituição. Embora ambas sejam responsáveis por pesquisas agropecuárias, é natural que existam divergências nas estimativas, levando a diferentes resultados.

h3. Quais são os principais desafios enfrentados pela pecuária brasileira atualmente?

A pecuária brasileira enfrenta diversos desafios, como o crescimento da agricultura, restrições ambientais, concentração do abate e conjuntura internacional. Esses fatores complicam a atividade pecuária, afetando os preços, a comercialização e a competitividade do setor.

h4. Por que o abate de fêmeas em proporção elevada é um problema para a pecuária brasileira?

O abate de fêmeas em proporção elevada compromete a recomposição do rebanho bovino, já que a realização de novas criações depende da disponibilidade de matrizes. Quando há um aumento significativo no abate de fêmeas, como tem ocorrido no Brasil atualmente, há uma redução na quantidade de animais aptos para reprodução, o que pode resultar em escassez de gado no futuro.

h4. Como o cenário da pecuária nos Estados Unidos pode ser um indicativo do que pode acontecer no Brasil?

O caso dos Estados Unidos é um exemplo interessante, pois o país passou por uma diminuição no rebanho bovino, resultando em escassez de gado para abate. Essa situação impactou os frigoríficos, que tiveram que pagar mais caro pelo gado. O Brasil pode estar caminhando para um cenário semelhante, com a diminuição do rebanho e as atuais liquidações de fêmeas, o que pode resultar em consequências futuras para o setor.

h4. Quais são as consequências da atual situação da pecuária para os consumidores e para o mercado de carne?

No curto prazo, a atual situação da pecuária pode beneficiar os consumidores, pois pode resultar em preços mais baixos nas prateleiras dos supermercados. No entanto, é importante ressaltar que as consequências dessas ações e da queda no rebanho bovino serão sentidas nos próximos anos. A escassez de gado para abate e a redução na recomposição do rebanho podem levar a um aumento nos preços da carne no futuro.

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