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Reuters: Agenda intensa de Lula no exterior preocupa assessores, que veem…

Por Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA, (Reuters) – Quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva partir para a Cúpula do G7, no Japão, na quarta-feira, fará sua sexta viagem ao exterior em pouco mais de quatro meses, em uma ênfase na política externa que tem gerado desagrado em setores da o governo, disseram à Reuters duas fontes que acompanham as decisões do primeiro escalão.

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Se há o reconhecimento de que é preciso reparar os estragos que o governo de Jair Bolsonaro tem causado nas relações internacionais do Brasil, integrantes do governo reclamam que as constantes viagens atrapalham o andamento do governo e atrasam decisões, num mandato em que há muito o que fazer e pouco tempo disponível, com uma economia em ritmo lento e pouco espaço de manobra com a opinião pública.

“Essa ênfase na agenda externa está errada. Essa ênfase não é o que vai alavancar o governo neste momento. É importante, mas não é decisiva. Você tem que focar na coisa decisiva”, disse um assistente presidencial sênior à Reuters, citando que só o crescimento sólido da economia dará estabilidade ao governo.

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As críticas de bastidores acontecem em um momento em que o governo tenta ajustar sua relação com o Congresso em meio a uma onda de reclamações sobre o andamento de projetos e a liberação de recursos sob o comando da Casa Civil, sem contar casos de intriga entre os membros do gabinete. Em ambos os casos, Lula é chamado a arbitrar os grandes problemas.

“O que o ambiente está mostrando na América do Sul é que o tempo político é muito curto para a esquerda”, disse o assessor. É difícil reverter e pode abrir caminho para adversários.

Lula, que deixou o Palácio do Planalto em 2010 com um índice recorde de aprovação de 87%, voltou ao poder com uma vitória apertada sobre Jair Bolsonaro por apenas 1,8% dos votos.

Nas pesquisas, uma clara linha de polarização política permanece evidente. A avaliação positiva de Lula caiu para 36% em abril na pesquisa Genial/Quaest, ante 40% no mês anterior, incluindo uma queda de 9 pontos no pobre Nordeste, tradicional bastião de apoio do presidente.

Questionados sobre os esforços do Brasil para mediar o fim do conflito na Ucrânia, 59% dos entrevistados querem que o presidente foque nas questões nacionais, e não no fim da guerra, contra 35% que apoiam o plano. A questão divide até cinquenta por cento os entrevistados que aprovam o governo.

“Talvez o ritmo (das viagens) não precisasse ser tão intenso”, disse uma das fontes, que falou sob condição de anonimato e defendeu que o simples fato de Lula ter sido eleito já levou o país aos fóruns mundiais.

Outra fonte explica que os comentários sobre a extensa agenda externa se repetem, mas dificilmente chegam ao presidente, que vê o esforço de política externa como um dos eixos centrais de seu terceiro mandato.

CONQUISTAS E PRÓXIMAS PARADAS

A Secretaria de Comunicação do governo (SECOM) defende a atuação da gestão, citando que “um conjunto de ações, internas e externas, foi realizado para reconstruir o país dos estragos causados ​​pelo governo anterior”, que incluiu, além das viagens, a recomposição do Bolsa Família e o retorno de diversos programas sociais.

“Quando você trabalha, o tempo compensa”, diz a nota enviada à Reuters, citando reuniões entre o presidente e governadores e o prefeito, além de outras iniciativas.

Em seus dois primeiros mandatos, o presidente ampliou o espaço externo do Brasil, focando na chamada “diplomacia presidencial” – na qual o presidente é o foco das relações exteriores. Iniciada por seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, a conduta foi reduzida sob Dilma Rousseff e quase desapareceu sob Michel Temer.

Nos quatro de Bolsonaro, foi uma inversão. O próprio ex-presidente foi protagonista de atritos com países europeus, China e até EUA após a eleição de Joe Biden.

Um dos principais focos de Lula foi recuperar esse espaço perdido e atrair negócios de volta ao Brasil. Aliás, a simples eleição já aumentou o interesse mundial pelo país, principalmente na área ambiental.

Antes mesmo de tomar posse, Alemanha e Noruega anunciaram a retomada do Fundo Amazônia. Nas últimas semanas, os EUA e o Reino Unido anunciaram doações significativas para o fundo.

Desde que voltou ao Planalto, Lula foi à Argentina, no final de janeiro, e depois ao Uruguai. Depois para os Estados Unidos, China – com escala nos Emirados Árabes Unidos -, Portugal e Espanha, o Reino Unido na semana passada e nesta semana, o G7.

Ainda no radar até ao final do ano estão a Cimeira do G20, em Nova Deli, a Cimeira dos BRICS, na África do Sul, a abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, uma visita a países africanos, possivelmente Angola e Moçambique . , talvez participação em uma cúpula sobre florestas no Congo Brazzaville.

A agenda internacional também inclui reuniões locais: uma cúpula de países sul-americanos em Brasília, no final do mês, para atar o retorno da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL), e uma reunião em Belém, no início de agosto, de os países da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA).

(Reportagem adicional de Anthony Boadle)

Fonte: Noticias Agricolas

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