O surto de gripe aviária que assola os rebanhos de aves em todo o mundo é agora o pior desde o início dos registros, levando a um aumento nos preços dos ovos, ameaçando o frango criado ao ar livre e arriscando impactos na saúde a longo prazo. animal.
A temporada de gripe aviária tradicionalmente começa em outubro, quando as aves migratórias eliminam fezes ou saliva infectada, deixando áreas frias do Hemisfério Norte. Mas este ano os casos se espalharam rapidamente nos meses mais quentes, sobrecarregando o vírus e levando a abates em massa.
As perdas de aves desde outubro estão quase 70% acima do ritmo do ano passado, chegando a 16,1 milhões em 1º de dezembro, de acordo com a Organização Mundial de Saúde Animal. Antes disso, mais de 138 milhões de aves foram perdidas nos 12 meses até setembro, mais do que nos cinco anos anteriores combinados, disse WOAH.
Nos EUA, no Reino Unido e em outros lugares, isso gerou preocupações com os especiais sazonais, como jantares de peru assado no Dia de Ação de Graças e no Natal. Mas as aves são um dos pilares da dieta global, e o abate está reduzindo a oferta de produtos, desde ovos até foie gras, exacerbando a inflação de alimentos que atingiu os orçamentos dos consumidores este ano. Com as vacinas potencialmente a anos de distância, os agricultores estão soando o alarme.
“Isso está muito, muito pior do que nunca e acho que pegou todo mundo de surpresa”, disse Mark Gorton, diretor administrativo da Traditional Norfolk Poultry no leste da Inglaterra, que perdeu 15% de seus rebanhos desde setembro. “Este não é apenas um problema do Reino Unido, é um problema mundial. Temos que resolver isso.”
Cerca de 35 bilhões de aves são criadas em fazendas em todo o mundo para atender à demanda por frango acessível, que dobrou desde 1999. A crise do custo de vida deste ano impulsionou ainda mais as vendas à medida que os consumidores trocam a carne bovina por opções mais baratas.
O surto se acelerou à medida que os agricultores lutavam com o aumento das contas de energia e ração. Com o crescimento sob pressão, a produção global de aves deve aumentar cerca de 1% neste ano e no próximo, abaixo das normas históricas de 2,5%, disse Nan-Dirk Mulder, especialista em proteína animal do Rabobank.
A gripe aviária pode se espalhar para tratores ou ração e muitas vezes é fatal para aves, com rebanhos abatidos assim que alguém fica doente. Frangos de corte criados para carne podem ser menos propensos a infecções, pois são abatidos após cerca de seis semanas, mas aves maiores e mais velhas e galinhas poedeiras foram gravemente afetadas.
O efeito foi dobrar os custos de ovos no varejo dos EUA em um ano, com os preços do frango pronto para assar no Reino Unido subindo um quarto ou mais.
É também um problema global. A Malásia está importando ovos, pois os preços dos alimentos forçam os agricultores locais a reduzir. As fazendas francesas perderam milhões de patos devido à gripe nos últimos dois invernos. A Hormel Foods Corp., com sede em Minnesota – que cria perus para almoço e assados - espera que a produção caia pelo menos no início do ano que vem. Os importadores geralmente restringem as compras de regiões infectadas.
“É um grande problema acima de todos os outros”, disse Birthe Steenberg, secretário-geral do grupo avícola europeu AVEC.
Desde 2021, os casos não se dissiparam no verão como de costume, disse Gregorio Torres, chefe do departamento de ciências da WOAH. Aves selvagens agora estão permanentemente infectadas, comprometendo a saúde das aves que encontram e aumentando os riscos para espécies ameaçadas de extinção.
Os pesquisadores estão tentando entender o porquê, disse Torres. O vírus evolui rapidamente, tornando-se potencialmente um transmissor mais eficaz da doença. A agência também está estudando se a mudança climática desempenha um papel no aumento das temperaturas e na mudança das rotas de migração.
No entanto, o vírus não é novo e os avisos já foram emitidos antes. A gripe aviária altamente patogênica foi encontrada na maioria dos continentes desde meados do século XX. Uma onda que veio da Ásia em 2003 causou perdas generalizadas, mas foi ofuscada pelo pedágio em 2021-22.
Embora possa se espalhar para humanos, permanece raro, com menos de 10 pessoas infectadas pela cepa H5N1 atualmente dominante desde 2018, de acordo com a Organização Mundial da Saúde.
Controlar o movimento de aves selvagens é uma tarefa difícil, e a escala dos surtos recentes significa que as medidas tradicionais de biossegurança, desde limitar o acesso a celeiros e lavar veículos até abates rápidos, “não são mais suficientes”, disse Steenberg.
“A gripe aviária é diferente em 2022 indo para 2023 do que nunca”, disse John Brunnquell, executivo-chefe da Egg Innovations, uma importante produtora de ovos caipiras dos EUA.
Nem todos os lugares foram seriamente afetados. Os surtos na Ásia foram relativamente leves desta vez, embora o Japão tenha contraído seu caso anterior e cerca de duas dúzias de fazendas tenham sido infectadas na Coréia do Sul, que enfrentou escassez de ovos durante surtos anteriores.
O Brasil, o maior exportador mundial de frango, também permanece livre da gripe, mas casos recentes surgiram perto do Equador e da Colômbia, levando a medidas para impedir que o vírus cruze as fronteiras.
Os consumidores estão cada vez mais exigentes, muitas vezes escolhendo produtos criados ao ar livre de aves com tempo para perambular, em vez de confinados em ambientes fechados. Embora isso seja melhor para os animais, aumenta o risco de encontrar animais selvagens infectados.
Como resultado, o vírus prejudicou muitos produtores externos. O Reino Unido bloqueou todas as aves em novembro, e 40% dos perus criados ao ar livre criados para os jantares de Natal da Grã-Bretanha foram mortos. O país também enfrenta escassez de ovos.
A doença pode aumentar rapidamente, com rebanhos às vezes abatidos quatro a cinco dias após os sinais iniciais, disse Gorton, cuja empresa agora não atende a todos os pedidos de Natal. As fazendas precisam de limpeza profunda após a infecção e podem ficar vazias por até seis meses. O abate rápido também pode ter um impacto financeiro: o governo do Reino Unido só compensa as aves que ainda estão saudáveis quando as autoridades chegam.
Apesar de tudo isso, as infecções não pararam e as fazendas internas não são gratuitas. Os agricultores estão procurando novas soluções, desde telas para proteger os pássaros ao ar livre até assustar os pássaros que passam com luz forte.
Testes de vacinação estão em andamento na Europa, disse Steenberg, da AVEC, estimando que pode levar pelo menos dois anos para que uma chegue ao mercado. Quaisquer vacinas precisariam de um acordo internacional sobre padrões e exigiriam adaptação à medida que as cepas evoluíssem.
Por enquanto, os preços altos estão impulsionando os avicultores, embora os riscos estejam acelerando com a mesma rapidez, disse Mulder. “A demanda existe, mas a oferta não”, disse ele. “É um mercado extremamente incerto.”
No passado, as infecções por gripe aviária eram eventos pontuais, disse Brunnquell, da Egg Innovations. “A gripe veio e a gripe passou. Agora, não está saindo.”
— Com assistência de Michael Hirtzer, Sybilla Gross, Shoko Oda, Tatiana Freitas, Heesu Lee, Anuradha Raghu e Jeremy Diamond
