Reduzir a adubação nitrogenada gera economia e aumenta a sustentabilidade ambiental.
Pesquisa realizada por Embrapa Amazônia Ocidental (AM) destaca que a inoculação da bactéria rizóbio no feijão-caupi pode substituir a adubação nitrogenada no Sistema Plantio Direto (SPD), pois mantém a mesma produtividade em torno de 1.500 kg por hectare. Nesse processo, as sementes são revestidas com o inoculante, um produto comercial que contém bactérias benéficas chamadas rizóbios. Eles são capazes de aproveitar o nitrogênio presente no ar e disponibilizá-lo para as plantas. No estudo em questão, o uso da bactéria Bradyrhizobium spp. permitiu uma redução de custos de 20%, com produtividade semelhante à aplicação de 40 kg por hectare de nitrogênio em solos do tipo Latossolo no estado do Amazonas.
A conclusão é apresentada em Circular Técnica 87“Inoculação de rizóbio em feijão-caupi cultivado no Sistema Plantio Direto no Estado do Amazonas, Brasil”, de autoria dos pesquisadores Alexandre Muniz (Embrapa Amazônia Ocidental), Inocêncio de Oliveira (Embrapa Arroz e Feijão) e Enilson Sá (Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A pesquisa contou com o apoio do Fundação Agrisus.
O feijão-caupi (vigna unguiculata) é produzido principalmente nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. Dependendo da região, é conhecido como feijão-caupi ou feijão-fradinho. No Amazonas, onde é chamado de feijão-da-praia, a produtividade média alcançada pelos agricultores gira em torno de 900 kg por hectare.
Com base no preço dos insumos, em dezembro de 2022, nas condições de Manaus, no Amazonas, a economia com o uso do inoculante em vez da adubação nitrogenada está em torno de 560 reais por hectare, segundo cálculo do pesquisador Inocêncio de Oliveira.
Fixação biológica de nitrogênio: ciência aprimora processo natural na agricultura
A tecnologia de inoculação de sementes de feijão-caupi com Bradyrhizobium spp. é baseado em um processo natural chamado Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN), que ocorre entre bactérias do grupo dos rizóbios encontradas no solo e raízes de leguminosas, como o feijão-caupi. Essas bactérias do grupo dos rizóbios são benéficas para as leguminosas, pois têm a capacidade de fixar o nitrogênio da atmosfera e fornecê-lo às plantas. A Embrapa realiza pesquisas com o BNF e desenvolve produtos inoculantes que potencializam esse processo natural. Assim, várias cepas foram selecionadas e recomendadas para uso como inoculantes microbianos de interesse agrícola.
Nas pesquisas realizadas na Amazônia com inoculação de feijão-caupi em plantio direto, o inoculante utilizado foi a cepa BR 3267 (SEMIA 6462), autorizada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) desde 2006, como microrganismo recomendado para produção de inoculantes para feijão-caupi no Brasil.
As cultivares de feijão-caupi utilizadas na pesquisa foram BRS Guariba e a BRS Novaera, ambos de tamanho semi-ereto e grãos brancos. Essas cultivares foram lançadas pelo Programa de Melhoramento Genético do Caupi da Embrapa e já foram avaliadas e recomendadas para plantio na Amazônia.
As duas cultivares de feijão-caupi obtiveram ganhos de produtividade com a inoculação sem adição de nitrogênio. Oliveira ressalta que nas lavouras é importante utilizar sementes de qualidade sanitária e bom vigor.
Os resultados da pesquisa mostraram que no experimento onde a inoculação de sementes de feijão-caupi com Bradyrhizobium spp. e o inoculante SEMIA 6462, sem adubação nitrogenada, obteve-se produtividade de grãos de 1.498 kg por hectare. Com o uso de uréia na semeadura (20 kg de nitrogênio por hectare) e em cobertura (também 20 kg de nitrogênio por hectare) rendeu 1.580 kg por hectare. No cultivo sem inoculante e sem nitrogênio via adubação, a produtividade foi de 1.187 kg de grãos por hectare.
Plantio direto combina produção e benefícios ambientais
Outros estudos já haviam constatado que a inoculação tem o mesmo efeito da adubação nitrogenada na produtividade do feijão-caupi, mas este foi pioneiro no uso da inoculação com rizóbio no Sistema de Plantio Direto para feijão-caupi na Amazônia.
O SPD é uma técnica de cultivo agrícola com objetivo de conservação do solo, que permite o acúmulo de nutrientes e matéria orgânica na camada superficial do solo e reduz o processo de erosão hídrica.
Estudos anteriores realizados na Embrapa Amazônia Ocidental com esse sistema em lavouras de milho mostraram que ele também favorece a conservação do carbono do solo durante o cultivo, mantendo a produtividade da lavoura, e que, portanto, pode ser aplicado como tecnologia de manejo e conservação do solo .
O pesquisador Muniz, que desenvolve pesquisas com plantio direto na Embrapa Amazônia Ocidental, informa que os resultados obtidos com essas pesquisas no estado do Amazonas demonstram que o Sistema de Plantio Direto aumenta a qualidade biológica (atividade microbiana) e o carbono do solo. Assim, seu uso contribui diretamente para o armazenamento de carbono no solo e, indiretamente, reduz as emissões de gases de efeito estufa (GEE), como o dióxido de carbono.
