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Argentina: ‘Agrodólar’ é paliativo, não é solução e não muda ano pior que…

    Argentina Agrodolar e paliativo nao e solucao e nao muda

    Após duas sessões do chamado “dólar soja”, o ministro da Economia da Argentina, Sérgio Massa, afirmou que sua nova ferramenta agora será o “dólar agro”. Massa fez o anúncio em sua visita à capital americana, Washington, na semana passada, e a informação é do jornal local Clarin. O objetivo é ampliar e intensificar as exportações do agronegócio argentino e, ainda segundo o ministro, trazer alguma ajuda aos produtores após perdas tão agressivas causadas por uma das piores secas da história do país.

    Além disso, Massa afirmou ainda que outro de seus objetivos é fazer com que as exportações do setor ocorram de forma que continuem gerando divisas para cumprir os compromissos com o FMI (Fundo Monetário Internacional).

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    Assim, o agrodólar – que vai abastecer de soja e outros produtos – tem a missão de garantir a arrecadação de mais US$ 15 bilhões para dar fôlego à economia argentina. Algumas câmaras setoriais como arroz, amendoim, vinho e mate, por exemplo, serão ouvidas para que a proposta seja alinhada e aprimorada. E pelo que foi previamente informado pelo governo, a medida valerá por 30 dias para a soja e 90 dias para os demais produtos – nos meses de abril, maio e junho.

    “É um programa para aumentar as exportações, que visa de alguma forma facilitar a capacidade e o cumprimento dos contratos dos nossos exportadores neste ano de seca, entendendo as dificuldades que nossos produtores têm sofrido”, disse Massa em entrevista coletiva em Washington. “O desafio é promover esta medida para fortalecer as reservas no segundo trimestre e continuar o caminho de estabilização que a Argentina deve seguir. A seca nos atingiu fortemente.”

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    O ministro também acredita que a medida não deve ter um impacto muito agressivo no mercado doméstico nem na inflação local – que chegou a três dígitos no início deste ano – nem nos preços no mercado interno.

    Ao Agricultural News, o diretor-executivo da Globaltecnos, da Argentina, Sebastian Gavalda, afirmou que a equipe econômica do governo deve trazer mais detalhes nesta quarta-feira (5). “O novo ‘dólar da soja’ está previsto para entrar em vigor a partir de 15 de abril e durar cerca de 45 dias, com um dólar que pode ser cerca de 30% superior ao oficial. Mas, ainda são apenas rumores, sem confirmação. E para as chamadas ‘economias regionais’ o dólar deveria ser semelhante”, explica.

    Um dos pontos já levantados pelo setor agrícola, porém, é a ausência do milho e do trigo nas discussões sobre o novo câmbio, até porque são as duas principais culturas – ao lado da soja – que sofreram com as adversidades climáticas agressivas no ultima temporada. Nas duas ocasiões do ‘dólar soja’, o governo foi cobrado dos dois lados. Tanto do lado dos compradores – como os avicultores, por exemplo, que o milho, ao ser incluído em um programa como esse, pode subir muito e inviabilizar ainda mais a atividade, quanto do lado dos vendedores que cobram para ser no programa para poder compensar, pelo menos parte das perdas causadas pela seca, como é o caso deste ano.

    Para o presidente da SRA (Sociedade Rural Argentina), Nicolás Pino, o “agrodólar” não é a solução para o campo.

    “Não é a solução para o campo argentino, mas para uma necessidade de receita do governo. Vai gerar distorções de preços, como gerou o “dólar da soja”, porque quando você quer intervir nos mercados causa esse tipo de coisa: incerteza e perplexidade”, disse o dirigente à mídia argentina. “Se é mais um movimento para arrecadar dinheiro, diga-o abertamente.”

    A percepção do economista-chefe da FADA (Fundação Agropecuária Argentina para o Desenvolvimento de Argentina), David Miazzo, é semelhante, e ele também considera que a medida pode apenas prolongar os problemas locais em um momento em que as reservas cambiais já estão totalmente comprometidas.

    “Esta medida é mais uma demonstração de que o problema subjacente é a taxa de câmbio e do ponto de vista macroeconômico é totalmente incoerente”, disse Miazzo à CNN Radio na Argentina. “A situação económica e social vai deteriorar-se significativamente no final do ano devido ao profundo desequilíbrio cambial que o país enfrenta.”

    Além disso, como explica Gavalda, os efeitos benéficos do dólar diferenciado são pontuais, já que a carga tributária do setor permanece a mesma. “São 33% de retenções com uma produção de 4.000 quilos por hectare ou 1.000 quilos por hectare. Então, o dólar da soja ajuda, mas não muda o ano péssimo que a Argentina teve. temporada”, resumiu o executivo argentino.

    Os primeiros efeitos da medida, conforme explica a equipe da Agrinvest Commodities, já começam a ser sentidos no complexo soja. “Os prêmios do óleo de soja na Argentina, para os embarques de junho, caíram fortemente em relação a sexta-feira, uma queda de 80 pontos. O mercado está precificando vendas de 5 a 6 milhões de soja da safra antiga nesta nova rodada, que, importações de abril e maio, poderão trazer novamente crescimento para o processamento da soja e aumento da oferta de óleo para exportação”.

    Com a falta de oferta argentina de derivados, apesar das importações, o Brasil deve garantir um espaço ainda considerável no cenário externo tanto para farelo quanto para petróleo, conforme explica a consultoria. “No Brasil, o processamento deve chegar a 26 milhões de toneladas contra 25,4 milhões no ano passado. Mesmo com o aumento de B10 para B12 a partir deste mês, a oferta de óleo nas exportações deve continuar forte. Mercado interno ainda não está muito agressivo na compra de óleo para biodiesel produção, o que continua incentivando as vendas externas”, afirma a Agrinvest.

    O analista do complexo soja da Agrinvest, Eduardo Vanin, explicou que os produtores argentinos devem aproveitar essa nova rodada de dólar diferenciada do setor para vender cerca de cinco milhões de toneladas da oleaginosa ainda disponíveis da safra antiga, “o que pode acelerar a moagem argentina que veio muito fraca em janeiro, fevereiro e março, bem abaixo dos outros anos. E acrescentou a importação de soja do Paraguai e Mato Grosso do Sul, garantindo pelo menos dois meses de moagem”, justificando essa queda considerável nos prêmios de óleo de soja.

    O cenário, porém, não muda a perspectiva preocupante que a indústria processadora de soja argentina tem pela frente, com uma safra argentina menor que 30 milhões de toneladas, que pode ficar abaixo de 25 milhões – o que agrava a falta de matéria-prima – além de uma qualidade muito baixa do que está disponível. A soja de baixa qualidade deve resultar em derivados também aquém dos padrões exigidos pelos consumidores, o que exigirá que a indústria de derivados busque garantir o melhor atendimento aos seus mercados.

    Para Vanin, a Argentina deve importar cerca de 10 milhões de toneladas – somando compras feitas no Brasil, Uruguai e Paraguai – esbarrando em inúmeras dificuldades logísticas. “Não podemos pensar que a Argentina vai comprar muita, muita soja. Estou otimista e acredito em 10 milhões. O consenso do mercado é algo entre 7 e 8 milhões”, diz em entrevista ao Agricultural News nesta segunda-feira (3). .

    Com informações da Clarin, CienRadios, AN Digital



    Fonte: Noticias Agricolas