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Ajustes na dieta podem garantir que ovelhas sejam mais resistentes a vermes

    1663258376 Ajustes na dieta podem garantir que ovelhas sejam mais resistentes

    Pesquisa realizada pela Embrapa mostra que, com ajustes nas proporções dos alimentos na dieta, ovinos infectados com vermes podem apresentar indicadores de desempenho, como ganho de peso e características de carcaça, semelhantes aos de animais saudáveis. Com os diferentes manejos nutricionais, equilibrando alimentos que são fontes dos dois grupos de principais nutrientes da dieta, proteína e energia, os cordeiros do experimento apresentaram ainda menos presença de parasitas. O resultado demonstra uma maior capacidade de resistir à infecção parasitária, por meio de compensações metabólicas e, assim, manter as taxas produtivas, ou seja, uma dieta adequada promove resiliência aos vermes.

    Segundo o pesquisador Marcos Cláudio Rogério, da área de Nutrição Animal da Embrapa Caprinos e Ovinos, o experimento aponta para uma novidade: o que aumentou a resiliência dos animais não foi simplesmente uma maior ingestão de fontes proteicas, mas encontrar, na dieta, , um nível ideal de fornecimento das chamadas proteínas metabolizáveis ​​(aquelas realmente absorvíveis pelo organismo do animal). Esse ajuste implica equilibrar não só os alimentos proteicos, mas também os energéticos, pois fornecem energia para a síntese de proteínas microbianas que ocorre no sistema digestivo dos animais.

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    “Acreditava-se que o aumento da resiliência às infecções parasitárias devido à nutrição animal adequada era simplesmente o aumento da oferta de proteína nas dietas de pequenos ruminantes. Isso funciona bem até certo ponto. Porque se vamos adicionar concentrados de proteína indefinidamente, o excesso será eliminado nas fezes e não será utilizado. Além disso, o simples aumento dos níveis de proteína bruta não garante a absorção dessas proteínas e seus aminoácidos, que podem ser indigestos”, observa Rogério, que liderou a equipe responsável pela pesquisa.

    A pesquisa

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    No experimento, foram utilizados 40 cordeiros machos divididos em grupos onde parte foi infectada artificialmente por Haemonchus contortus, parasita gastrointestinal que é um dos principais causadores de vermes em caprinos e ovinos. Divididos em grupos, receberam dietas com diferentes proporções de volumoso (fontes energéticas) e concentrados (fontes proteicas).

    A partir da inclusão de 35% de concentrado (proporção de 65% de forragem na dieta), houve redução de mais de 65% no número de ovos por grama de fezes (OPG) nos animais infectados e redução de mais de 63% na quantidade de Haemonchus contortus presente no abomaso, estrutura do estômago de ruminantes. O OPG é um indicador que mostra o grau de infecção por parasitas.

    De acordo com as dietas avaliadas, valores de conversão alimentar semelhantes aos verificados para animais não infectados, recebendo as mesmas proporções de concentrado, também foram verificados em ovinos infectados que consumiram de 58% a até 69% de concentrado.

    No caso de cordeiros infectados que receberam dieta com formulação proporcional de 69% de concentrado e 31% de volumoso, por exemplo, houve ganho de peso médio diário de 261 gramas (g), desempenho muito semelhante ao dos animais não infectados que , com a mesma dieta, apresentaram ganho de peso médio de 265 g/dia. A pontuação corporal final para animais em dieta com esta composição foi a mesma para animais infectados e não infectados: índice 3 (ver tabela).

    “O uso de dietas com 58% de concentrado seguindo as formulações dietéticas desenvolvidas com a pesquisa, por exemplo, já garante maior resiliência a infecções parasitárias. Não é necessário o uso de dietas com alta proporção de concentrado para atingir esse objetivo, nem o uso de quantidades excessivas de concentrados protéicos, que são caros. O importante é o ajuste da dieta visando aumentar a oferta de proteína metabolizável”, explica Rogério.

    Segundo ele, os resultados abrem uma nova perspectiva: estabelecer parcerias com o setor produtivo para o desenvolvimento conjunto de rações, aditivos alimentares e suplementos específicos para determinadas categorias de animais – como filhotes, animais em confinamento, fêmeas em lactação – de acordo com suas necessidades . nutricional. Esse aumento da resiliência às infecções também pode contribuir para a sustentabilidade dos sistemas de produção, reduzindo a dependência de vermífugos para minimizar as perdas produtivas por verminoses.

    Na opinião da zootécnica Rafaela Miranda, que pesquisou o tema para sua tese de doutorado em Zootecnia na Universidade Federal do Tocantins (UFT), a pesquisa que investiga a relação entre componentes nutricionais e redução de verminose tem potencial para criações. viável. “Esses estudos podem contribuir para aumentar a produtividade do rebanho, reduzir a mortalidade, diminuir a idade ao abate, produzindo animais jovens com melhores características de carcaça”, afirma.

    Para o zootécnico, que atua como consultor da empresa Granforte Nutrição Animal, um avanço científico nessa área pode favorecer o surgimento de novos produtos para a dieta de ovinos e também alternativas para o manejo nutricional dos criadores. “Os produtos podem resultar em maior produtividade animal e orientar o criador na escolha das dietas e planos nutricionais adequados à sua realidade, viabilizando a produção de carne ovina no Brasil”, enfatiza.

    Resiliência e sustentabilidade na produção

    Com base nos resultados do estudo, é possível pensar em alternativas que, ao promover melhor resiliência aos vermes, também garantam maior sustentabilidade econômica e ambiental aos sistemas de produção de ovinos. As verminoses são consideradas uma das doenças de maior impacto nas perdas econômicas e produtivas, causando mortalidade animal e prejuízos na qualidade dos produtos da ovinocultura, com dificuldades de consolidação da atividade diante das demandas do mercado. Além disso, o uso indiscriminado de vermífugos produz resíduos químicos nos produtos e no ambiente, bem como pode gerar problemas de resistência dos parasitas aos medicamentos.

    Essas estratégias nutricionais podem ser interessantes tanto para a criação em confinamento, permitindo um melhor planejamento na compra de ração e venda de animais, quanto na criação de pastagens, na qual fatores como umidade, alta concentração de animais e indisponibilidade de nutrientes podem prejudicar a resposta imune. de animais contra vermes.

    “Cada vez mais pessoas estão pensando em sistemas de produção animal ambientalmente sustentáveis ​​e até orgânicos. O uso de dietas que aumentam a resiliência dos animais a infecções parasitárias reduz a dependência de anti-helmínticos para controle de parasitas. Assim, não haverá necessidade de administrar vermífugos ou, pelo menos, haverá uma redução considerável neste uso. Haverá também uma redução nos custos de mão de obra para a gestão sanitária. Outro aspecto é evitar que os helmintos resistam aos princípios farmacológicos que compõem os anti-helmínticos”, detalha o pesquisador Luiz Vieira, da Embrapa, que também integrou a equipe de pesquisa.

    Rogério reforça que o fornecimento de nutrientes em quantidade e qualidade é o caminho para buscar fortalecer essa estratégia. “Os animais continuarão apresentando índices de produção adequados em uma convivência mais harmoniosa com os helmintos. O principal objetivo da pesquisa não é eliminar completamente os helmintos, mas evitar que sua presença leve à queda nas taxas de produção”, enfatiza o cientista.

    Nutrição como parte do controle integrado
    A possibilidade de um manejo nutricional que resulte em maior resiliência à verminose em caprinos e ovinos não exclui a importância de uma adequada estratégia de desparasitação e manejo sanitário para minimizar os impactos da doença. A nutrição animal, aliás, é um dos pilares da estratégia integrada de controle da verminose, recomendada pela Embrapa para rebanhos caprinos e ovinos. A utilização de vermífugos, em associação com dietas que ofereçam nutrientes ideais para uma adequada resposta imune ao parasitismo, pode ser uma alternativa sustentável para a manutenção dos índices produtivos dos rebanhos.

    Além da nutrição animal, a estratégia de controle integrado inclui recomendações sobre manejo de pastagens, cuidados com as instalações, fornecimento de alimentos, separação dos animais em baias e piquetes. Tudo isso somado ao uso otimizado da vermifugação, com cuidados como a correta seleção dos animais para desparasitação (de acordo com a categoria produtiva do rebanho) e medicamentos, de acordo com o princípio ativo. Essas recomendações reduzem a possibilidade de os parasitas criarem resistência à ação dos medicamentos aplicados.

    O portal Paratec traz as principais recomendações para o controle integrado de verminoses em caprinos e ovinos, de acordo com os principais biomas brasileiros. Para consultar as informações, basta clicar aqui.

    entenda melhor

    – As ovelhas possuem alimentos volumosos e concentrados como fontes nutricionais. As rações forrageiras possuem alto teor de fibras e compreendem pastagens (nativas ou cultivadas), além de silagem, feno e restos de culturas. Os concentrados são pobres em água e fibras e podem ter altas concentrações de energia e/ou proteína.

    – Entre os principais alimentos volumosos utilizados para a ovinocultura no semiárido brasileiro estão gramíneas como capim Buffel e capim-tifton, além de outras plantas como palma forrageira, leucena, catingueira, mandacaru, guandu, milheto e sorgo forrageiro. São alimentos que podem constituir reserva alimentar para o período seco, na forma de feno ou silagem.

    – Entre os concentrados mais utilizados para ovinos no semiárido brasileiro estão o farelo de soja; grãos de milho, milheto e sorgo; tortas de algodão e mamona.

    – Na pesquisa que investigou a relação entre dieta e resiliência a vermes em ovinos, a dieta fornecida aos animais consistiu de feno de tifton como volumoso, milho e farelo de soja como concentrados, além de óleo vegetal e calcário.

    – Segundo o pesquisador Marcos Cláudio Rogério, existem várias possibilidades de formulação de dietas, de acordo com os objetivos do sistema de produção, mas a regra geral preza pela inclusão de alimentos de qualidade: no caso de alimentos proteicos ou alimentos que possam levar a proteínas interessantes, deve-se pensar em alimentos que possuem proteínas de alto valor biológico e alta digestibilidade.



    Fonte: Agro