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Abate, ciclo da pecuária e considerações para 2023 • Portal DBO

    Abate ciclo da pecuaria e consideracoes para 2023 • Portal

    Por Hyberville Neto – consultor e diretor da HN AGRO

    Após quedas em 2020 e 2021, o abate de bovinos voltou a crescer em 2022, considerando o período de janeiro a setembro.

    Em relação a 2021, o aumento foi de 7,1%, com destaque para o aumento do sexo feminino. Considerando o intervalo até setembro de 2022, o aumento foi de 15,4% no abate de vacas e novilhas. Para o sexo masculino, o aumento foi de 2,6%, em relação a 2021.

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    A figura 1 mostra a evolução mensal do abate em 2021 e 2022, até setembro (últimos dados consolidados). Observe a queda observada em setembro de 2021, provocada pela suspensão das vendas para a China, que reduziu o apetite da indústria, pela ausência do comprador, mas também pela incerteza quanto ao momento da retomada das negociações.

    Essa redução no abate foi uma dor de cabeça para muitos confinamentos que não haviam negociado com antecedência e tinham dificuldade em programar o gado. A nosso ver, isso sustentou o maior volume de negócios a termo em 2022, o que ajudou a pressionar o mercado na entressafra.

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    Figura 1
    Figura 1. Abate mensal de bovinos, em milhões de cabeças. (Fonte: IBGE / Elaboração: HN AGRO)

    O aumento das fêmeas abatidas está relacionado à queda dos preços do bezerro, que em média este ano estão 16,5% mais baratos que em 2021, considerando valores corrigidos pelo IGP-DI. O boi gordo caiu 5,2%, também com preços deflacionados, tanto em São Paulo quanto nas referências do Cepea.

    ciclo pecuário

    Em 2019, 2020 e 2021, o bezerro teve valorizações reais de 7,3%, 35,1% e 8,5%, em médias anuais, em relação ao ano anterior. Isso gerou investimentos na atividade, com a retenção de fêmeas, reduzindo a oferta de carne.

    É o ciclo da pecuária, que ora ajuda, ora atrapalha o resultado.

    Com isso, os preços subiram fortemente, também no boi gordo, influenciados pela fase do ciclo e com importante aumento das exportações para a China.

    No período surgiram canções sobre pecuária, “menino do gado”, relação de troca com carro de luxo, etc. Período de otimismo e investimento.

    O cenário atual é de chegada de bezerros desse entusiasmo de investir, que pressiona o mercado. O ciclo não apareceu nesta queda e esta fase dará lugar a altas em algum momento, quando o atual desinvestimento resultar em menor oferta de gado. Veja o Figura 2🇧🇷

    Figura 2
    Figura 2. Evolução da participação das fêmeas no abate e variação do boi gordo em 12 meses. (Fonte: IBGE/Cepea/HN AGRO)

    Tomando como referência a participação das fêmeas no abate acumulada nos 12 meses, esta vem aumentando desde o início de 2022, assim como as cotações do boi gordo vêm caindo desde o mesmo período, considerando valores deflacionados (reais) e comparações do mês com igual período do ano anterior.

    Em 2022, apenas em janeiro e outubro as cotações foram superiores aos mesmos meses de 2021. Isso ocorreu em janeiro porque o mercado estava firme e em alta com a retomada das vendas para a China e em outubro porque esse mês foi comparado com outubro de 2021, em suspensão total das vendas ao nosso maior comprador.

    Expectativas

    Devido ao nível de retenção de fêmeas observado nos últimos anos (como pode ser observado pela linha da figura 2) e ao histórico de abate, que normalmente aumenta por mais de um ano consecutivo, antes de uma nova queda, o cenário esperado é de uma aumento da oferta de gado para 2023.

    Essa disponibilidade tende a aumentar, impulsionada pelas fêmeas, como é comum nas fases baixas do ciclo pecuário. Vacas e novilhas, por sua vez, normalmente vão para o anzol em março (remoção pós-reprodução) e maio (chegada da estação seca). São momentos de destaque no primeiro tempo.

    Outro ponto que vale ressaltar é que quando falamos do ciclo da pecuária, estamos analisando os preços reais, ou seja, já descontando o efeito da inflação. Em termos reais, a cotação média para 2020 é de R$ 317,73/@ e atualmente a referência está em torno de R$ 290,00/@.

    E qual é o objetivo dessa comparação? É justamente para considerar que, quando falamos em queda real para 2023, isso não significa um recuo em relação aos preços atuais, mas uma cotação média deflacionada provavelmente inferior à de 2022, que hoje está em torno de R$ 320,00/@.

    Do lado das exportações, o Brasil bateu recordes anuais em 2022 com apenas 11 meses e há um cenário positivo para 2023, com a China comprando bem.

    Alguns concorrentes, como os Estados Unidos, terão redução na oferta de gado. Isso beneficia o Brasil, não só pela redução da concorrência, mas também pelo possível aumento da oferta no Brasil. As compras norte-americanas já aumentaram significativamente em novembro.

    A Austrália entra na fase de maior disponibilidade de gado, o que já se faz sentir nas cotações, mas o nível de abate projetado para 2023 pelo USDA ainda é tímido. As 7,2 milhões de cabeças estimadas para abate no próximo ano são maiores do que em 2021 e 2022, mas ainda será o terceiro menor nível de abate dos últimos 38 anos (desde 1985, quando foram abatidas 7,15 milhões de cabeças).

    Isso sem falar nas possíveis boas notícias vindas do licenciamento de mais plantas para venda à Indonésia, ou com os Estados Unidos aumentando as cotas para nossa carne. Outra possível boa notícia estaria relacionada ao Japão e/ou Coréia do Sul, que podem abrir o mercado, devido à nossa evolução sanitária em relação à vacinação contra a febre aftosa.

    O consumo interno brasileiro é a grande questão. Já estamos há muito tempo com os indicadores econômicos melhorando, o que gera expectativas de recuperação do consumo. Soma-se a isso uma oferta crescente de gado, possivelmente gerando preços mais palatáveis ​​ao consumidor.

    No entanto, a evolução dos “truques fiscais”, que já surgiram, será decisiva para a inflação e, consequentemente, para os juros, ambos afetando diretamente a demanda. Para citar algo positivo nesse quesito, um cenário negativo do ponto de vista fiscal é ruim para a economia, mas para a pecuária tem um efeito positivo nos embarques, se o dólar subir.

    Em resumo, pelo lado da oferta, esperamos um aumento na disponibilidade de gado de reposição e para abate, principalmente fêmeas. No cenário internacional, devemos ter bons volumes embarcados, com possível ajuda do câmbio. O consumo interno pode beneficiar de preços mais atractivos, mas sempre acompanhando a conjuntura fiscal e as suas consequências.

    Gostou desta coluna? Você tem alguma sugestão ou nova informação? Por favor me escreva no e-mail [email protected]🇧🇷

    Fonte: Portal DBO