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A semeadura direta do algodão aumenta o carbono no solo

    A semeadura direta do algodao aumenta o carbono no solo

    Os participantes da 70ª reunião ordinária da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Algodão e Derivados, vinculada ao Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), realizada na última quarta-feira, 01, receberam boas notícias sobre os sistemas de produção de algodão com baixa emissão de carbono , que a Embrapa vem pesquisando. Isso porque os solos argilosos e arenosos do Cerrado, quando não são mais preparados com arado e grade, e são cultivados em manejo de semeadura direta (sistema plantio direto – DPS), visando a produção de algodão, apresentam altas taxas de incremento de carbono. muito superior à taxa sugerida pela iniciativa internacional “4per1000” para a redução de gases de efeito estufa.

    A excelente notícia partiu do pesquisador da Embrapa Algodão Alexandre Cunha de Barcellos Ferreira, que realiza experimentos nessa área, linha de pesquisa há cerca de nove e quinze anos em solos argilosos em Goiás e há 11 anos em solos mais arenosos na Bahia.

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    Além disso, os dados da Embrapa indicam ganhos de produtividade do algodão em relação aos sistemas com preparo convencional do solo: “Nossos dados mostram que podem ser adicionados entre 10 e cerca de 16 arrobas/ha de fibra em sistemas de plantio direto. Não mexer no solo é o principal segredo para isso”, diz Ferreira, que tem resultados sistemáticos de experimentos de campo, estudando sistemas de manejo do solo e produção de algodão no Cerrado.

    Falando para um público seleto de representantes desta cadeia do Agro brasileiro, o pesquisador fez uma palestra muito convincente sob a perspectiva de que o cotonicultor só tem a ganhar investindo na adoção de práticas e tecnologias voltadas para a saúde e qualidade do solo, garantindo maior produtividade segurança, melhor fertilidade do solo e, claro, maior produção de algodão.

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    O aumento do estoque de carbono no solo também abre outra possibilidade para o agricultor: “Estamos falando de créditos de carbono, tema que está cada vez mais em pauta no Brasil e no mundo”, aponta Ferreira.

    Ele lembrou que, desde o início dos anos 1970 até hoje, a população mundial praticamente dobrou, exigindo, entre outras coisas, mais roupas e alimentos. Porém, para atender a essa demanda crescente, era preciso produzir ao mesmo tempo em que a população urbana brasileira aumentava substancialmente, em detrimento da rural.

    Alexandre acha que a agricultura precisa ser entendida como parte da solução e não apenas como a única geradora do problema, relacionado ao aquecimento global. As pesquisas que sua equipe vem realizando, por exemplo, visam estudar sistemas agrícolas de produção de algodão que, além de muito produtivos, podem aumentar o estoque de carbono no solo, uma estratégia para mitigar os efeitos do acúmulo de CO2 na atmosfera, que é um gás de efeito estufa.

    Segundo o cientista da Embrapa, a adubação adequada e a conservação da palha no solo são estratégias tecnológicas importantes, não só para a produção agrícola, mas também para estabilizar e reter o carbono no solo, enquanto o preparo do solo pode aumentar significativamente a perda de carbono por oxidação da matéria orgânica e pela erosão do solo. “A cotonicultura brasileira, por meio de práticas agrícolas voltadas para a conservação do solo, pode contribuir para políticas mundiais de produção agrícola com baixa emissão de carbono, ao mesmo tempo em que obtém alta produtividade”, afirma.

    agro sustentável

    Fernando Pimentel, da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT), também trouxe informações estratégicas para o encontro. O setor estima crescimento de 2,3%, gerando algo em torno de 8,7 mil empregos diretos, mesmo tendo registrado queda nas exportações de -28,09% nos últimos 12 meses. A indústria têxtil recuou -12%.

    Pimentel disse que o consumo está “patinando” e que o setor de confecções cresceu apenas +6,8%. Uma preocupação extra continua sendo o comércio eletrônico internacional, crescendo livre de qualquer alíquota. No período, alcançou no Brasil algo em torno de R$ 8 bilhões e cerca de 2 milhões de peças vendidas. Fernando, no entanto, destaca o claro crescimento de uma forte janela para fibras naturais sustentáveis.

    Ele trouxe para o encontro boas perspectivas para o algodão agroecológico, com destaque para o algodão naturalmente colorido. Fernando refere que os processos de certificação (ZDHC, GOTS e OEKO-TEX) continuam a expandir-se, bem como a adoção de boas práticas definidas no protocolo ESG.

    Há também novas janelas de oportunidade para fibras químicas com menor tempo de biodegradação, para fibras produzidas com o mínimo de descarte de subprodutos e para fibras à base de fungos e algas, além do uso crescente dos chamados “desfibrados”. Fernando Pimentel diz que o conceito que deve crescer rapidamente é o de cadeias produtivas responsáveis, onde todos os envolvidos assumem sua parcela de responsabilidade ambiental.

    O encontro também abordou o andamento da Safra 22/23, com um balanço trazido por representantes das associações estaduais de produtores de algodão. Houve também uma apresentação sobre o tema da rastreabilidade do algodão brasileiro por Silmara Ferraresi, da ABRAPA.

    A associação tem perspectiva de produção de 3 milhões de toneladas nesta safra, mesmo com os produtores admitindo que também será a safra de maior custo da história. Há uma boa expectativa de que o Brasil iguale ou supere o maior produtor mundial (EUA) em um futuro próximo, que sofreu uma redução de 20%, com o Texas praticamente abandonando o cultivo de fibrosos.

    A Câmara tem nova reunião marcada para 30 de junho.



    Fonte: Agro