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1º semestre deve ter menor oferta no mercado de leite, diz Embrapa

Foto: Divulgação

A tendência do mercado de leite é para um primeiro semestre com maior oferta em relação a 2022, tanto pelo fraco volume de matéria-prima registrado no ano passado quanto pelo efeito inercial da maior produção nos últimos meses. É o que diz o mais recente boletim do Milk Intelligence Center (CILeite), da Embrapa Gado de Leite.

“Os custos de produção, apesar do pior clima na Argentina e no sul do Brasil, com impactos negativos na produção de milho e soja, devem ser mais acomodados em relação ao que vem sendo observado nos últimos dois anos”, diz a publicação, divulgada nesta publicação. Segunda-feira (16).

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Além disso, aponta o boletim, os mercados de energia e fertilizantes devem contribuir para uma menor pressão nos custos. “Do ponto de vista da demanda, não se espera grandes avanços, mas a menor inflação dos lácteos tende a contribuir para a recuperação do consumo. As margens tendem a seguir apertadas e o setor deve seguir o movimento de consolidação em curso. Portanto, sugere-se cautela em 2023.”

Leia, a seguir, a análise completa do CILeite sobre o cenário do setor. A publicação é assinada pelos seguintes pesquisadores e analistas da Embrapa Gado de Leite: Glauco Carvalho, Kennya Siqueira, Lorildo Stock, Manuela Lana, Marcos Hott, Oscar Tupy, Paulo Martins, Ricardo Andrade, Samuel Oliveira e Walter Magalhães.

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MERCADO DE LEITE E DERIVADOS – JANEIRO DE 2023

“A cadeia produtiva do leite apresentou dois semestres distintos em 2022. No primeiro semestre houve menor oferta de leite, com queda recorde na produção nacional e pouca importação. Como consequência, houve aumento de preços em toda a cadeia produtiva e inflação histórica para o setor. No segundo semestre, a situação se inverteu. O aumento do custo de vida das famílias, principalmente devido à alimentação, manteve o consumo baixo. Por outro lado, o início da safra de agosto/setembro, o estímulo de preços e a maior rentabilidade oferecida aos produtores, permitiram a recuperação da produção nacional. Somado a isso, houve um aumento significativo das importações, que se aproximaram de 10% da produção nacional em setembro/22. O resultado foi uma forte desaceleração dos preços do leite e derivados. A cotação ao produtor caiu R$ 1/litro entre agosto e dezembro, fechando o ano em R$ 2,52/litro, segundo o Cepea.

A economia brasileira encerrou 2022 com crescimento estimado de 3%. Foi um ano em que a taxa de desemprego caiu, a inflação desacelerou e o setor de serviços voltou a crescer, após as restrições causadas pela pandemia. Houve também um bom desempenho dos investimentos privados, na esteira das concessões na área de infraestrutura. O grande motor da economia era o agronegócio. Com uma boa safra de grãos e exportações, o agronegócio continuou avançando, apesar do aumento dos custos dos insumos.

Mas, e para 2023, o que podemos esperar? Por enquanto, ainda há incertezas. Do ponto de vista global, o cenário de crescimento segue fraco, com desaceleração na Europa e nos Estados Unidos, impactados negativamente pela alta da inflação e pela necessidade de elevação dos juros. Existe até risco de recessão em alguns países. Estima-se que a China encerrou 2022 com crescimento em torno de 3% e ainda luta para conter a propagação da Covid-19. Esse cenário deve continuar complicado em 2023, com expansão econômica chinesa entre 3% e 4%, um patamar baixo, considerando a história desse país asiático. Assim, as commodities metálicas e energéticas tendem a perder valor, o que prejudica o crescimento brasileiro. As commodities agrícolas devem registrar alguma estabilidade nos preços, e a contribuição para o crescimento brasileiro será menor do que a observada nos últimos dois anos.

O aumento das taxas de juros do crédito ao consumo pode inibir o consumo das famílias. A alta da inflação nos últimos dois anos, com forte elevação dos preços dos alimentos, pressionou negativamente a disponibilidade de renda e aumentou o endividamento. A população de menor renda inicia 2023 endividada e com custo de crédito mais elevado. Com o crescimento econômico mais fraco projetado para 2023 (o relatório Focus indica 0,8%), a expansão do emprego tende a perder ritmo, o que de fato já está acontecendo. Assim, o país enfrentará desafios para o crescimento econômico em 2023: juros mais altos, commodities perdendo valor e menor crescimento internacional. Nesse cenário, a criação de um ambiente de expectativas positivas que mantenha a economia em trajetória de crescimento pode garantir o aumento do consumo das famílias.

No mercado de leite, a tendência é de um primeiro semestre com maior oferta em relação a 2022. Isso se deve tanto ao fraco volume de leite registrado no ano passado quanto ao efeito inercial da maior produção nos últimos meses. Os custos de produção, apesar do pior clima na Argentina e no sul do Brasil, com impactos negativos na produção de milho e soja, devem ser mais acomodados em relação ao que vem sendo observado nos últimos dois anos. Além disso, os mercados de energia e fertilizantes também devem contribuir para diminuir a pressão sobre os custos. Do ponto de vista da demanda, não se espera grandes avanços, mas a menor inflação dos lácteos tende a contribuir para a recuperação do consumo. As margens tendem a seguir apertadas e o setor deve seguir o movimento de consolidação em curso. Portanto, sugere-se cautela em 2023.”

Fonte: Agro

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