Por Viktoriia Lakezina e Max Hunder
KHERSON, UCRÂNIA (Reuters) – O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, visitou a região sul de Kherson, atingida por enchentes, nesta quinta-feira para avaliar a escala da devastação após a destruição da barragem cujas águas submergiram casas, campos e estradas.
Um vídeo de drone mostrou áreas onde muitas vezes apenas os telhados das casas eram visíveis acima da enchente. O governador da região disse que cerca de 600 quilômetros quadrados estão debaixo d’água.
A Rússia e a Ucrânia trocaram a culpa pelo rompimento da represa hidrelétrica de Kakhovka, da era soviética, que provocou uma cascata de água na zona de guerra do sul da Ucrânia na terça-feira, forçando dezenas de milhares de pessoas a fugir. de suas casas.
Moscou e Kiev também se acusaram mutuamente de bombardear a área enquanto equipes de resgate em barcos tentavam salvar pessoas e animais das enchentes.
“A água estava chegando a cerca de 100 metros por hora, no mínimo”, disse Vitaly, 26, que estava remando um barco pelas ruas inundadas de Korsunka, um vilarejo na região controlada pela Rússia de Kherson, tentando ajudar os vizinhos. .
“Em 15 minutos, todos os porões e poços foram inundados. Tudo estava debaixo d’água”, disse Vitaly, cuja casa e terreno foram engolfados pela enchente.
A Ucrânia disse que as enchentes deixaram centenas de milhares de pessoas sem acesso à água potável, inundaram dezenas de milhares de hectares de terras agrícolas e transformaram pelo menos 500 mil hectares de plantações em “desertos”.
NEGOCIAÇÕES DE EMERGÊNCIA
Zelenskiy, que pediu um esforço internacional “claro e rápido” para ajudar as vítimas das enchentes, realizou reuniões de emergência com autoridades locais em Kherson, uma das cinco regiões ucranianas que Moscou afirma ter anexado, mas controla apenas parcialmente.
Zelenskiy disse em sua conta de mensagens no Telegram que as conversas foram sobre “a evacuação da população…, a eliminação da emergência causada pela explosão da barragem, a organização do suporte de vida para as áreas alagadas… perspectivas de restauração do ecossistema e a situação militar operacional na área do desastre causado pelo homem”.
O Kremlin disse que o presidente russo, Vladimir Putin, não tem planos de visitar a região, mas está monitorando de perto a situação. Putin, sem fornecer provas, acusou a Ucrânia de destruir a barragem controlada pela Rússia por sugestão de seus aliados ocidentais.
Kiev disse há vários meses que a represa foi minada por forças russas que a capturaram no início da guerra de 15 meses e sugeriu que Moscou a explodiu para tentar impedir que as forças ucranianas cruzassem o Dnipro em sua contra-ofensiva.
Não se sabe quantas pessoas podem ter morrido como resultado do dilúvio. O prefeito russo de New Kakhovka, perto de onde a barragem está localizada, disse na quinta-feira que pelo menos cinco pessoas morreram, mas o número total de mortos certamente será muito maior.
O governador ucraniano de Kherson, Oleksandr Prokudin, disse que 68% do território inundado estava na margem esquerda ocupada pela Rússia do rio Dnipro.
O “nível médio de inundação” na região de Kherson na manhã de quinta-feira foi de 5,6 metros, disse ele.
A cidade de Kherson está localizada a cerca de 60 quilômetros a jusante da barragem de Kakhovka.
O nível da água no reservatório de Kakhovka está agora se aproximando de um nível baixo perigoso, disse a empresa estatal que supervisiona a instalação na quinta-feira, dizendo que isso pode afetar a usina nuclear de Zaporizhzhia e o abastecimento de água. para outras regiões.
A agência atômica da ONU disse na terça-feira que a usina, a maior da Europa, tinha água suficiente para resfriar seus reatores por “vários meses” em um lago próximo ao reservatório.
MINAS FLUTUANTES
Autoridades ucranianas e russas também alertaram sobre o perigo representado pelas minas plantadas durante a guerra de 15 meses e agora desenterradas e espalhadas pelas enchentes.
“No passado, sabíamos onde estavam os perigos. Agora não sabemos. Tudo o que sabemos é que (as minas) estão em algum lugar rio abaixo”, disse Erik Tollefsen, chefe da Unidade de Contaminação de Armas do Comitê Internacional da Cruz Vermelha. . . Ele disse que as minas podem representar um perigo nas próximas décadas.
O colapso da barragem ocorreu quando a Ucrânia prepara uma grande contra-ofensiva contra a invasão russa, provavelmente a próxima grande fase da guerra.
Em um briefing diário sobre a Ucrânia, o Ministério da Defesa do Reino Unido informou na quinta-feira intensos combates ao longo de “vários setores da frente”, acrescentando que Kiev manteve a iniciativa na maioria das áreas.
Os militares ucranianos disseram que a inundação em Kherson forçou as tropas russas a recuar de 5 a 15 quilômetros na região e “virtualmente reduziu pela metade” o bombardeio russo.
A Reuters não conseguiu verificar de forma independente a situação no campo de batalha. A Rússia não fez comentários imediatos.
Mais cedo, o governador instalado pela Rússia, que supervisiona a parte da região de Kherson agora controlada por Moscou, disse que o colapso da barragem funcionou a favor da Rússia, tornando mais fácil para suas forças se defenderem contra qualquer contra-ofensiva ucraniana.
Enquanto isso, equipes de resgate em Kherson lutavam para salvar milhares de animais de estimação presos nas enchentes.
“As pessoas fogem, depois nos ligam chorando e dizem ‘por favor, salvem meu animal, ele está sentado no telhado da minha casa, não posso ir a lugar nenhum’. Muitas pessoas pedem ajuda”, disse Iryna, 45, uma das socorristas voluntários.
