Pular para o conteúdo

Treinamento atualiza conhecimentos sobre a produção de café Robusta na Amazônia

    Brasil exporta 25 milhoes de sacas de cafe

    A cafeicultura requer conhecimento e uso de tecnologias adequadas para garantir safras produtivas e grãos de qualidade. Para conhecer melhor a cultura, 40 técnicos das empresas oficiais de extensão rural e assistência técnica privada, localizadas nos diversos municípios do Acre, participaram do curso “Atualização do Sistema Produtivo de Café Robustas da Amazônia”, de 3 a 5 de agosto. . Os profissionais capacitados atuarão como multiplicadores do conhecimento tecnológico junto aos produtores de café.

    Realizado pela Embrapa do Acre e Rondônia, em parceria com a Secretaria de Estado da Produção e Agronegócios (Sepa), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae/AC) e Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), o treinamento enfatizou características da cafeicultura no Acre e aspectos da produção clonal de café Robusta Amazônico no Acre e Rondônia.

    Patrocinadores

    “O café é cultivado em 15 dos 22 municípios do Acre e a crescente busca pela cultura aumentou a demanda por capacitação. No curso, abordamos desde a implantação e formação da lavoura, manejo do cafezal, manejo nutricional e de pragas e controle do estresse hídrico, até boas práticas na colheita e pós-colheita”, explica o pesquisador da Embrapa Acre, Aureny Lunz.

    Para Marcelo Curitiba, pesquisador da Embrapa Rondônia, o Acre é adequado para a cafeicultura, mas fatores como os altos preços dos insumos, devido às distâncias geográficas dos centros do país, e o baixo acesso a tecnologias ainda dificultam desenvolver a atividade. no Estado. Há um interesse crescente pelos cafés clonais e também muitas incertezas quanto ao cultivo, devido à falta de tradição dos agricultores na cultura.

    Patrocinadores

    “Temos trabalhado para conscientizar técnicos e produtores sobre as práticas recomendadas para as diferentes etapas da cultura e adoção de tecnologias. Conciliar o conhecimento teórico com as práticas de campo facilita o aprendizado, porém, a busca por informações deve ser contínua, pois o café é uma cultura com muitas particularidades”, enfatiza a pesquisadora.

    Aula prática

    O curso fez parte da programação técnica da Feira Agrícola e de Negócios do Acre (Expoacre), que teve a cafeicultura como um dos destaques do setor produtivo acreano. “Devido ao crescimento da cadeia produtiva do café no Acre, identificamos a necessidade de formar técnicos que trabalhem diretamente com os produtores rurais e trouxemos profissionais com conhecimento na cultura para ministrar a atividade”, diz Michelma Neves, coordenadora de capacitação da Sepa.

    As aulas teóricas, no auditório do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), foram complementadas com práticas realizadas em uma propriedade rural do município de Acrelândia, parceira na pesquisa da Embrapa com os cafés clonais Robustas Amazônicos, cerca de 100 quilômetros do Rio de Janeiro. Branco. “O contexto de produção permite mostrar procedimentos adequados, adotados nas diferentes fases da cultura, e reforçar conteúdos ensinados em sala de aula. Essa interação prática no campo também permite identificar possíveis erros no manejo da lavoura e orientar o que deve ser feito e como fazer, além de representar uma oportunidade de aprendizado também para o produtor rural”, enfatiza Aureny Lunz.

    Com relação à implantação do cafezal, um dos aspectos destacados foi a utilização de técnicas para induzir o crescimento da planta com o número adequado de hastes, procedimento que contribui para o aumento da produtividade na primeira safra. Os participantes também aprenderam sobre manejo diferenciado, com palha de café, e puderam verificar a diferença entre culturas com e sem esse material, ambas submetidas ao mesmo tratamento (com água e adubo fornecidos na mesma quantidade).

    “O café cultivado com palha era mais verde e mais bonito do que o café que não usava o produto. Abordamos também o plantio de café consorciado com milho, nas entrelinhas dos cafeeiros enquanto as plantas são pequenas. Cultivos intercalados potencializam a produção de alimentos e renda na mesma área e, sobretudo, ajudam a manter o solo coberto, o que favorece o aumento de matéria orgânica, que as plantas utilizarão como fertilizantes”, explica João Maria Diocleciano, analista da Embrapa Rondônia.

    O técnico do escritório da Sepa em Cruzeiro do Sul, Genilson Maia, acredita que ter extensionistas bem preparados é um requisito para desenvolver a produção de café no Acre. A região do Juruá já foi uma das principais produtoras do grão no estado, mas devido às perdas na atividade, os produtores abandonaram os cafezais seminais. “Os cafés clonais estão possibilitando a retomada da cultura. Além do conhecimento técnico atualizado, os agricultores precisam ter linhas de crédito acessíveis para viabilizar os investimentos em tecnologias”, afirma.

    Para Aliny Alencar de Lima, agrônoma da Empresa Agro com Elas, que presta assistência técnica, o treinamento trouxe dados recentes de pesquisas sobre a produção de café, mas o que mais chamou sua atenção foram os critérios de produção e seleção de mudas e preparo da área. “É comum os produtores rurais escolherem materiais genéticos que seus vizinhos usaram e que deram certo, porém, a escolha das variedades de café deve considerar as especificidades do solo da propriedade”, afirma o extensionista, que também destaca o compartilhamento de conhecimento como ação essencial para garantir informações que possam aumentar a rentabilidade das lavouras e contribuir para a manutenção das famílias rurais no campo.

    Marcos Goes, extensionista de Assis Brasil, considera a cultura do café uma atividade promissora, que pode gerar renda para as famílias rurais e fortalecer a economia local. A organização dos produtores e o apoio de instituições ligadas ao setor produtivo viabilizaram a cultura no município, que já conta com viveiro de mudas e máquina de beneficiamento de grãos. “A produção de café clonal ainda é uma atividade nova no estado. Nossa missão é apoiar essa cadeia produtiva, atendendo as demandas dos agricultores na cultura. O curso foi uma excelente oportunidade para esclarecer dúvidas e agregar informações técnicas para melhorar a produção e qualidade do café produzido”.

    produção familiar

    A cafeicultura no Acre é uma atividade de base familiar, realizada predominantemente em pequenas lavouras. Na Colônia Lara, onde foi ministrada a aula prática, a família planta café desde 1998 e é pioneira na produção de café clonal no Acre. O agricultor Wanderlei de Lara conta que os primeiros clones que plantou trouxeram do Espírito Santo, mas as plantas não se adaptaram e ele teve que buscar outras variedades.

    “A produção deu um salto com os clones adquiridos em Rondônia. Para se ter uma ideia, em cafezais seminais, mesmo bem manejados, a produtividade não passava de 30 sacas de 60 quilos/hectare. Com os cafés clonados, a produção é de 90 a 150 sacas por hectare. Na última safra, realizada em abril, colhemos 700 sacas de café, que serão comercializadas no início do próximo ano. Nosso café é produzido de acordo com critérios recomendados de manejo, colheita e pós-colheita, o que garante a qualidade do produto e melhores preços de mercado”, enfatiza o produtor.

    Na propriedade Lara também são cultivados milho, mandioca, feijão e frutas, mas a principal fonte de renda é a produção de café. O trabalho na fazenda de oito hectares envolve toda a família. “O cultivo do café exige cuidados especiais e monitoramento constante para que tudo funcione bem, com cada etapa realizada no momento certo, desde a formação das estacas para a produção das mudas, até a colheita, secagem e ensacamento dos grãos. Trabalhamos em conjunto com nossos filhos, e a união familiar fortalece a atividade. Tudo o que construímos e conquistamos foi devido à cultura do café”, diz a agricultora Eliane Manzoli Lara.

    Cafés Robusta da Amazônia

    Atualmente, o Acre possui 13 viveiros especializados em cafés clonais, sendo 7 deles credenciados pelo Mapa, para produção e comercialização de mudas. Com a chegada dessas empresas ao Estado, muitas propriedades rurais que ainda possuem cafezais seminais estão substituindo os antigos cafezais. Entre os cafés plantados estão os Robustas Amazônicos, variedades clonais híbridas, resultantes do cruzamento de cafeeiros Canéfora dos grupos Robusta e Conilon.

    Estudos mostram que os cafés seminais apresentam alta variabilidade genética e baixa produtividade, aspectos que comprometem a produção. Com o objetivo de fortalecer a cafeicultura na Amazônia, a Embrapa testou e recomendou 10 cultivares de café clonadas em diferentes estados da região. No Acre, esses levantamentos ocorreram entre 2012 e 2019, nos municípios de Acrelândia, Rio Branco e Cruzeiro do Sul. Por serem adaptados ao clima e solo da região, os cafés clonais são mais produtivos e resistentes a doenças.

    Segundo Marcelo Curitiba, os cafés Robustas Amazônicos são rústicos, porém, exigentes em termos de água, por isso a irrigação é recomendada nas lavouras. É possível produzir sem irrigação, porém, é preciso reforçar os cuidados com o manejo e preparo do solo e utilizar materiais genéticos de qualidade, entre outros fatores que auxiliam no incremento da produção. Ainda assim, existe um risco elevado de perdas de produção devido aos veranicos resultantes de situações climáticas atípicas.

    “Nas lavouras irrigadas, o ganho médio de produtividade é de até 30% em relação às lavouras sem irrigação, ambas bem manejadas. Embora o custo de um sistema de irrigação ainda seja alto para a maioria dos agricultores, sempre procuramos mostrar que além de melhorar o desempenho das lavouras, o uso dessa tecnologia traz outros benefícios associados, como a possibilidade de utilização da fertirrigação, técnica de fornecendo fertilizantes para as plantas via sistema de irrigação, o que ajuda a reduzir os custos com insumos na produção”, diz o pesquisador.



    Fonte: Agro