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Transição energética voltada para a economia circular, por Guilherme Nolasco

    Transicao energetica voltada para a economia circular por Guilherme Nolasco

    Quando a primeira indústria 100% dedicada à produção de etanol de milho começou a operar no Brasil, em 2017, o rendimento industrial médio era de 357 litros de etanol por tonelada de milho processado. Seis safras depois, na safra 2023/2024, a produtividade estimada é de 444 litros/ton, um ganho de produtividade de 24,3%. Desde então, a produção anual de biocombustível a partir do milho passou de 500 milhões de litros para 6 bilhões, conforme expectativa para a safra 2023/2024.

    A evolução da produção e eficiência produtiva, resultante da incorporação de tecnologias de ponta com melhorias significativas nos fluxos do processo, combinada com o uso de enzimas e leveduras avançadas responsáveis ​​pela fermentação e originação do etanol de milho e seus produtos agregados , fez surgir verdadeiras biorrefinarias que transformam o excedente da produção de milho de segunda safra em bioenergia, óleo e produtos para nutrição animal. Atualmente, existem 18 (dezoito) indústrias operando no Centro-Oeste brasileiro, 01 (uma) indústria cooperativa no Nordeste e outras 2 (duas) nas regiões Sul e Sudeste.
    Ao mesmo tempo, o setor começa a se movimentar em diversas direções no país, do Sul e Sudeste ao Norte e Nordeste, com muita adesão, principalmente a região do Matopiba (Maranhão; Tocantins; Piauí e Bahia) com grande vocação e pouca demanda interna por milho, além da deficiente estrutura de armazenagem e logística.

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    As indústrias nacionais e de capital estrangeiro viram no Brasil a combinação perfeita entre farta oferta de matérias-primas, potencial para aumentar a produção e mão de obra qualificada, com um mercado regulado por mandato para misturar etanol à gasolina, uma rede de distribuição consolidada e o motor flex tecnologia implementada em mais de 80% da frota de viaturas ligeiras que circula de norte a sul do país.

    O mercado consumidor, importante elo de todo o setor econômico, ganhou força nas últimas semanas após o anúncio de cortes de impostos para estimular a indústria automobilística e facilitar o acesso da população a veículos com preços até R$ 120 mil.

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    Comemoramos um avanço de curto prazo, mas ainda é preciso que o país defina claramente sua política de mobilidade e transição energética, alavancando incentivos e investimentos sustentados nos pilares ambiental, social e econômico, para não correr o risco de fomentar matrizes energéticas não voltadas para a realidade brasileira. Isso poderia desindustrializar toda uma cadeia de negócios consolidada que gera empregos, renda e impostos, ativa uma rica economia circular ao transformar grandes excedentes exportáveis ​​de grãos em bioenergia e contribui para mitigar o déficit logístico e de armazenamento de grãos em todo o país.

    A nova política tributária será aplicada de acordo com alguns critérios pré-estabelecidos pelo governo. Os veículos com preço mais baixo, menos poluentes e com mais itens nacionais serão os mais beneficiados. Essa categorização visa ampliar o acesso da população de menor poder aquisitivo a veículos de matriz energética mais sustentável e fabricados no Brasil.

    Com isso, o governo atende a pelo menos duas demandas internas extremamente importantes. Sendo econômico, com foco no estímulo à produção industrial e ao consumo de produtos nacionais. E uma segunda focada na sustentabilidade socioambiental, pois prioriza veículos que utilizam biocombustíveis renováveis ​​produzidos no país.

    Atingir as metas de neutralização das emissões de gases de efeito estufa passa necessariamente pela redução do uso de combustíveis fósseis, altamente poluentes e esgotáveis.

    O etanol de milho, quando comparado à gasolina no ciclo conhecido como “do poço à roda”, ou seja, extração, produção e queima, registra uma redução de 80% nas emissões de dióxido de carbono (CO2). Esse desempenho é proporcionado por alguns fatores que compõem o processo produtivo do etanol de milho brasileiro. Em primeiro lugar, podemos citar o aproveitamento dos grãos produzidos na segunda safra, ou seja, que não dependem da abertura de novas áreas e não competem com a produção de alimentos.

    Além disso, boa parte do dióxido de carbono é sequestrado/absorvido na fase de crescimento da cultura, contribuindo assim para a neutralização das emissões. O fato é que o programa Renovabio, principal política de descarbonização do país, utiliza os créditos de descarbonização gerados pelas indústrias de etanol para compensar as emissões de combustíveis fósseis.

    Outro ponto muito importante e um dos principais diferenciais da indústria brasileira de etanol de milho é a utilização de uma fonte de energia renovável, baseada na utilização da biomassa de florestas plantadas como fonte de calor e geração de energia para a produção de biocombustível, co- gerando excedentes para o sistema elétrico nacional.

    Ou seja, ao incentivar a produção e o consumo de carros nacionais movidos a etanol, o governo está movimentando toda uma cadeia circular de negócios que vai desde o produtor rural de milho e eucalipto, até as indústrias de etanol, além de toda a indústria automobilística fornecedora indústria, incluindo concessionárias de automóveis e biocombustíveis. Sem falar no consumidor final, que poderá comprar carros de qualidade e com preços mais acessíveis.

    Não paramos por aqui, existem muitos projetos de investimento no setor de etanol em fase de prospecção e captação de recursos. A indústria de biocombustíveis limpos carece de uma política econômica definitiva, com regras claras no âmbito fiscal, juros baixos atrativos e segurança jurídica.

    A retomada do projeto “Combustível do Futuro” do Ministério de Minas e Energia (MEE) e do Programa Rota 2030 do Ministério da Indústria, Comércio e Serviços (MDICS) são boas iniciativas que podem consolidar políticas públicas na agenda brasileira de descarbonização e transição energética, não deixando de incorporar na avaliação a vocação dos biocombustíveis e os benefícios do desenvolvimento social e econômico de todas as cadeias empresariais envolvidas, juntamente com os requisitos de eficiência energética e descarbonização.

    *Guilherme Linares Nolasco é veterinário e CEO da Unem – União Nacional do Álcool de Milho



    Fonte: Noticias Agricolas