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Soja: Quando o produtor brasileiro vai voltar a vender? As oportunidades são mais…

A tempestade perfeita não apenas se formou, mas ainda está desabando sobre o mercado brasileiro de soja. Os preços estão em patamares bem mais baixos do que nos últimos meses, os prêmios continuam renovando suas mínimas e a recente queda do dólar acabou fechando o cenário em que se encontram os indicadores. E ainda há um volume consideravelmente grande de soja 2022/23 a ser comercializado. Em que ambiente vão decorrer estes negócios foi a pergunta que o Notícias Agrícolas fez a analistas e consultores de mercado.

“O erro do produtor brasileiro foi ter definido uma meta de preço e não um resultado”, afirmou o sócio-diretor da Cogo Inteligência em Agronegócios, Carlos Cogo, ao explicar que, há poucos meses, os preços praticados pela soja no Brasil eram muito melhores que as atuais, mas insuficientes para estimular um avanço comercial.

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Somente no primeiro trimestre deste ano, os preços da soja nos portos caíram mais de 12%. De 3 de janeiro a 31 de março, o indicativo no porto de Paranaguá passou de R$ 182,00 para R$ 159,00 a saca. Estendendo-se até o meio desta semana, dia 12 de abril, o valor já havia caído mais R$ 10,00, para R$ 149,00. Em Rio Grande, no primeiro trimestre do ano, acumula queda de 12,02% – de R$ 183,00 para R$ 161,00, e do início do ano até a última quarta-feira, perda de 18,58%, para R$ 149,00.

O principal vilão na formação dos preços da oleaginosa no Brasil nesta temporada tem sido os prêmios. A robusta safra nacional – acima de 150 milhões de toneladas – esbarrou na insuficiente capacidade logística, principalmente nos portos, e o impacto foi inevitável, imediato e forte. Nos três primeiros meses de 2023, o prêmio para embarque em abril passou de 25 centavos de dólar positivos sobre os valores praticados em Chicago para 87 centavos de dólar negativos. Em maio, em um mês – de 13 de março a 12 de abril – o valor passou de menos 11 centavos para menos 140 centavos de dólar, ou seja, abaixo do que é praticado para o vencimento maio/22 na CBOT.

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O peso dos prêmios negativos – e em uma sequência constante de renovação de mínimas – pode ser observado ao analisar também o comportamento dos contratos futuros de soja na Bolsa de Chicago. De janeiro a março, maio caiu 0,4% – de US$ 14,99 para US$ 15,05 o bushel – e julho recuou 0,33%, caindo de US$ 15,02 para US$ 14,75.

“Vimos os preços ainda trabalhando perto de R$ 180,00, R$ 185,00, R$ 190,00 e nada aconteceu, o negócio não avançou. Foi para R$ 170,00 e nada aconteceu. A maioria dos produtores perdeu o timing”, explica Cogo. O analista aponta que, na média geral no Brasil, os produtores venderam pouco mais de 30% e agora terão cerca de 70% de sua oferta para administrar em um ambiente de preços muito mais hostil. A tendência, afinal, é que esses prêmios continuem pressionados e possam ceder ainda mais, pelo menos até o início do segundo semestre.

O Brasil entrou na safra recorde com uma taxa de pré-venda muito baixa, abaixo do observado nos últimos anos, de 40% a 45%, depois de ter tido custos muito elevados. E assim, a “troca fantasma” pode deixar, como explicou Cogo, ainda mais grave. “O produtor pagou a safra com algo entre R$ 5,25 e R$ 5,30 em dólar”, diz, e agora vê a moeda americana abaixo de R$ 5,00 e vendas a serem feitas. “Esse dólar reduz ainda mais o par.”

No primeiro trimestre, a moeda americana acumulou queda de 5,04%, passando de R$ 5,37 para R$ 5,08. Do início do ano até 12 de abril, a queda é de 8,01%, com a moeda já operando abaixo de R$ 5,00 e valendo R$ 4,94 na data em questão.

HAVERÁ NOVAS OPORTUNIDADES?

As novas janelas de oportunidade que podem se abrir para os produtores brasileiros devem ser mais estreitas e menos frequentes daqui para frente. E verdade. Mas vão abrir, como afirma Carlos Cogo e também Marcos Araújo, analista de mercado da Agrinvest Commodities. Ambos acreditam que será possível passar por esse momento com certa “tranquilidade” e sem prejuízos, porém com a necessidade urgente de rever suas estratégias e planejamento comercial.

“O importante é não tentar pegar a faca que cai”, diz Araújo, que usou o exemplo do Rio Verde, de Goiás, para ilustrar a situação atual e o que pode mudar, principalmente no segundo tempo. Os prêmios atuais no município de Goiás estão negativos em US$ 3,11 (311 centavos de dólar), abaixo do de Chicago, contra o normal para este período, na média histórica, de US$ 1,00. Essa tabela resulta em indicações, aproximadamente, R$ 22,00 por saca mais baixas agora. Impossível não afastar os vendedores.

A tendência é que depois desse pico de pressão, algo como 70 a 90 dias, os prêmios melhorem devido a uma oferta menor, um fluxo mais forte, oferecendo momentos mais oportunos para o negócio. No entanto, isso exigirá uma estratégia. “Estamos aconselhando, por exemplo, para alguns casos em que o produtor está capitalizado, a venda da soja julho em Chicago, dólar futuro julho, mantendo a soja armazenada e aguardando a venda física entre junho e julho. Isso é gestão”, diz.

Estratégias, porém, não são receitas de bolo. Atualmente, a gestão do comércio de soja é – e precisa ser – cada vez mais personalizada, respeitando as particularidades dos custos de produção nas mais diversas regiões produtoras do Brasil, bem como seus gastos logísticos. Nos últimos meses, com o avanço da safra, o frete rodoviário aumentou de forma agressiva e ajudou a estreitar as margens dos produtores, cada um sentindo na sua devida proporção.

Os produtores do Rio Grande do Sul, por exemplo, têm uma situação diferente. Perdendo para o clima adverso há três safras, com rendas de terras subindo e preços da soja em queda, o cenário é ainda mais desafiador e alguns já sofrem prejuízos. Afinal, não há volume de soja que possa ser vendido em excesso para compensar os preços mais baixos.

E, aos poucos, o mercado se reconfigura. Para Carlos Cogo, o segundo tempo também poderia ser melhor e as oportunidades não devem mais ser tão escassas. A soja no interior do Mato Grosso tem, no spot, algo próximo de R$ 121,00 a R$ 122,00 a saca, enquanto para agosto já se fala em R$ 138,00 com a melhora nos prêmios. “O prêmio de agosto é o primeiro positivo da tabela”, diz.

As melhoras esperadas para o segundo semestre devem estar atreladas não apenas à volatilidade – e possíveis oportunidades – que o mercado de clima costuma oferecer ao mercado, principalmente à Bolsa de Chicago, mas também à demanda doméstica no Brasil, que tem boas perspectivas pela frente , principalmente no mercado de derivativos.

FARELO, PETRÓLEO E DEMANDA INTERNA BRASILEIRA

O diretor da Cogo Inteligência em Agronegócios explicou que os preços e prêmios do farelo de soja não caem na mesma proporção ou ritmo do grão. Com o quadro mundial de oferta e demanda do produto ajustado, a Argentina – maior exportadora mundial de farelo e óleo – registrou a pior queda da história e deixa uma enorme lacuna no mercado que será naturalmente substituída pelo Brasil.

“O Brasil terá recorde de exportação de farelo e será o maior exportador do mundo”, diz. A Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais) estima as vendas externas do Brasil em 21 milhões de toneladas, enquanto o USDA projeta as vendas argentinas em pouco mais de 20 milhões. E esse será um importante ponto de apoio, pois exigirá que a demanda interna se intensifique um pouco mais para atender a esse cenário.

Da mesma forma, as exportações de óleo de soja também devem ser boas neste ano, assim como o mercado já conta com B12, a alta mistura em biodiesel com 12%, que também exige mais moagem. Neste ponto, no entanto, há um porém. Embora esse aumento na mistura exija mais cinco milhões de toneladas de soja sendo processadas pela indústria brasileira, estima-se um aumento de ‘apenas’ três milhões.

Isso porque as exportações de óleo de soja nos últimos anos têm sido bastante elevadas – como mostra o gráfico abaixo – diante de uma redução na mistura de biodiesel e agora essa situação pode ser revertida. “Exportamos quase 2,4 milhões de toneladas de óleo de soja em 2022 devido à menor demanda por biodiesel, então temos um excedente exportável”, explica o analista da Agrinvest.

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Gráfico: Agrinvest Commodities
MAS E A CHINA?

Sim, a China é um caso sério. A demanda chinesa está presente, mas não tão intensa quanto nos anos anteriores. Outro gráfico da Agrinvest mostra que as importações de soja pelo país asiático, de janeiro a março de 2023, foram de 14,038 milhões de toneladas, contra 14,754 milhões no mesmo período do ano passado.

Importação de soja da China
Gráfico: Agrinvest Commodities

A diferença de 4,9% refletiu, segundo Marcos Araújo, maiores compras feitas nos Estados Unidos devido a atrasos nos embarques no Brasil, além de margens negativas no gigante asiático, hoje negativo em pouco mais de US$ 17,00 a tonelada e se aproximando dos EUA $ 37,00 para setembro.

Margem Esmagada China
Gráfico: Agrinvest Commodities

Se as margens do esmagamento da soja são negativas, as dos suinocultores não ficam atrás e também são pouco ou quase pouco atraentes. A imagem abaixo ilustra as margens negativas agora, negativas em US$ 10,00 por animal abatido.

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Gráfico: Agrinvest Commodities

Também por isso, estimativas apontam para manutenção da produção de proteína animal na China, com previsão de 55 milhões de toneladas de carne suína, 14,3 milhões de carne de frango – mesmos números do ano passado – e 7,350 milhões de toneladas de carne bovina, contra 7,125 milhões em 2022.

China Proteínas Animais
Gráfico: Agrinvest Commodities

Além disso, as indústrias locais já estão com 85% de cobertura até maio e, consequentemente, terão que entrar em compras de forma mais agressiva a partir de junho, quando o Brasil ainda continua sendo o maior fornecedor de soja para a China, pelo menos até setembro, quando possivelmente os Estados Unidos Estados assumem competitividade e podem oferecer preços mais atrativos aos compradores.

Assim, ainda com recurso a ambas as análises, as janelas de oportunidade que se possam abrir na segunda parte terão de ser cuidadosamente acompanhadas e estrategicamente aproveitadas.

2023/24 JÁ SINALIZA MELHORES MARGENS!

Depois das piores margens em três anos que a época 2022/23 registou, os sinais para a época 2023/24 são melhores, como afirma Carlos Cogo. Os custos de produção já estão em níveis mais baixos e as margens são consideravelmente mais altas. Em Sorriso, no Mato Grosso, por exemplo, a atual margem bruta de 19% já sinaliza 36% para o ano que vem.

“E essa queda que estamos vendo nos custos ainda é parcial. Os insumos estão em queda, fertilizantes, defensivos, e podemos ter um cenário muito mais favorável para os produtores brasileiros”, diz o executivo. Ainda assim, estratégias bem construídas e gestão aprimorada são imprescindíveis.

Assim, enquanto no Brasil o produtor acompanhar e aproveitar as boas relações comerciais, as boas possibilidades para o segundo semestre, ele terá que dividir sua atenção, como já sabe, com o comportamento do clima nos Estados Unidos e no 2023/. “A quebra na Argentina, a safra recorde no Brasil, são fatores que o mercado já precificou. Mas a safra nova nos Estados Unidos, o clima lá, que ainda está aberto”, orienta Cogo.



Fonte: Noticias Agricolas

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